Os transtornos mentais e a abordagem no tratamento
dessas doenças no Brasil, além das dificuldades enfrentadas por
professores ao lidar com alunos com deficiência nas salas de aula da
educação profissional, são temas de uma reportagem especial e um livro,
apresentados e debatidos na abertura da Semana de Direitos Humanos,
promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).
A iniciativa integra a celebração aos 66 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, comemorados no dia 10 de dezembro.
— Cumprimento a todos que lutam por um mundo mais justo e que não medem
esforços para que os direitos humanos sejam fortalecidos no Brasil e no
mundo. Quero apresentar o meu reconhecimento aos autores do vídeo e aos
autores do livro. Ambas as criações tratam de temas relacionados
diretamente a esta comissão — afirmou o senador Paulo Paim (PT-RS),
durante a audiência pública realizada nesta segunda-feira (8).
A reportagem especial multimídia da Agência Senado "Toda Loucura Será Protegida?"
expôs um tema relevante e quase completamente ignorado tanto pela
grande mídia quanto pela sociedade: de que forma as pessoas com
deficiência mental são tratadas no país.
Como observou a jornalista
Larissa Bortoni, que fez a apresentação da obra na audiência pública da
CDH, o assunto sofre de uma invisibilidade inexplicável, e nem foi
mencionado durante as campanhas presidenciais dos candidatos de todos os
espectros políticos nas eleições de 2014, por exemplo.
— Esse é um tema que deve ser tratado pelo partido da humanidade — disse Larissa.
A matéria, produzida pela jornalista com Adriano Kakazu e Tadeu
Sposito, traz depoimentos emocionados de cidadãos brasileiros
diagnosticados com perturbações mentais, que sentem na pele o
preconceito por sua condição e padecem com a falta de estrutura do
Sistema Único de Saúde (SUS) para acolhê-los decentemente. Os vídeos
foram apresentados à plateia.
Estimativas do Ministério da Saúde, explicou Larissa, indicam haver
mais de 6 milhões de cidadãos que padecem com transtornos graves, muitas
vezes sem o tratamento correto, atualmente no Brasil.
Apesar da postura
mais humana que a Lei Antimanicomial (Lei 10.216/2001) buscou implantar
– com a substituição dos hospitais psiquiátricos pelos centros de
atenção psicossocial (Caps), locais que eliminam o padrão conhecido no
passado, da internação dolorosa e sofrida – faltam vagas e profissionais
preparados.
O Brasil tem 5.564 municípios, mais que o dobro do número de Caps
existentes no país, 2.155. As residências terapêuticas, que recebem os
doentes que perderam o contato com a família, são menos de 270 em todo o
Brasil, informou ainda. A capital da República não possui nenhuma, como
frisou Larissa, o que dificulta bastante o tratamento adequado.
— Mais que uma lei médica, a Lei Antimanicomial busca dar cidadania. É
muito boa, mas a aplicação é atrasada — lamentou Larissa.
Professores
Paciência, metodologia e tempo diferenciados, superação do preconceito
pelo professor e capacidade de assumir que é possível haver uma
aprendizagem mediada, pois o aluno com deficiência pode contribuir para a
melhoria da dinâmica da aula.
Estas são algumas das conclusões
presentes no livro A educação profissional para pessoas com deficiência:
um novo jeito de ser docente, da pesquisadora em educação Loni Manica.
— Este é o primeiro livro, ficou direcionado ao professor que coloca a
mão na massa e precisa de uma luz para trabalhar com a pessoa com
deficiência — explicou a servidora do Senado, lotada na CDH.
A publicação foi lançada durante a audiência pública, fruto de quatro
anos de pesquisa em todo o país.
A obra traz a opinião de gestores e
professores que atuam com alunos com deficiência na educação
profissional sobre quais dificuldades devem ser superadas na busca pela
inclusão.
Além disso, traz também experiências de sucesso do trato com
este público especial. Mas, principalmente, traz a voz dos próprios
alunos com deficiência sobre quais são os principais enganos dos
professores ao ministrarem as aulas, seja em sala ou nos laboratórios de
aprendizagem.
— A primeira coisa que eles pedem, 99% dos alunos, é um professor com
paciência para escutar e crer que eles também têm potencial e podem
contribuir com a aula e o conteúdo a ser trabalhado. A metodologia e a
avaliação também não podem ser iguais para todos — frisou Loni.
Ela citou exemplos de superação, como o de um aluno cego que se
inscreveu para o curso de mecânica e sofreu a discriminação do próprio
professor, que o instigou por muito tempo a desistir do curso.
Assegurado pela lei, teve que ser acolhido e, para a surpresa do
docente, que mudou completamente de postura, o aluno se mostrou
excepcional e capaz de detectar um problema apenas pelo barulho do
motor.
O livro cita esta passagem para mostrar que o aluno com
deficiência, ainda que precise de atenção e metodologia diferenciadas, é
capaz, frisou Loni.
A publicação foi feita em parceria com o professor
Geraldo Caliman, coordenador da Cátedra Unesco de Juventude, Educação e
Sociedade da Universidade Católica de Brasília.
Durante o evento, também houve a apresentação de Valter Junior de Melo,
cantor, compositor e professor de softwares leitores de tela.
Pessoa com deficiência visual, Valter celebrou a evolução tecnológica que
garante usufruir privilégios impossíveis há até poucos anos, como o de
ler, por meio dos softwares de leitura, um livro ou uma reportagem
diretamente no computador.
Fonte: Agência Senado
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