24 de jul. de 2012

ABCD tem 180 mil pessoas com deficiência severa

"Cerca de 7% da população possui deficiências visual, auditiva, motora ou intelectual/mental em graus elevados."

Ilustração com símbolos de pessoas com deficiência
A história de amor de Alexandro Santana, 34 anos, e Marlene Drummond Santana, 36, começou durante uma viagem à praia com amigos em 2001. Por conta da deficiência visual, ambos se conheceram em uma instituição que oferece cursos de capacitação, e não demorou muito para que as afinidades surgissem. O casamento aconteceu um ano e dois meses depois do primeiro beijo, e a primeira filha do casal, Thayná Vitória, tem hoje um ano e quatro meses.
 A rotina de Alexandro e Marlene é como a de muitos outros casais, que precisam dividir o tempo entre o trabalho e as tarefas de casa. Ele é técnico de sistema e realiza as funções com o auxílio de um software de voz. Ela trabalha em uma creche em Mauá e já precisou driblar a desconfiança de algumas mães que duvidavam de sua capacidade por conta da deficiência.
Marlene, que perdeu a visão por conta de um erro médico, afirma que a rotina puxada é como a de tantas outras mães de filhos pequenos. “É corrido, chego do trabalho, tenho de cuidar da casa e ela quer atenção sempre. Mas acho que é assim com todo mundo”. Alexandro, que teve perda gradativa da visão por conta de uma doença degenerativa, precisou abrir mão da faculdade de administração para cuidar da família, mas garante que não se arrepende da escolha. “A prioridade para mim é a minha família.”
O casal está entre as mais de 180 mil pessoas que moram no ABCD e que possuem deficiência severa, de acordo com o Censo 2010 divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) neste mês.
O número equivale a pouco mais de 7% da população total da Região, estimada em 2,5 milhões de pessoas. Integraram o questionário da pesquisa as deficiências visual, auditiva, motora e intelectual/mental classificadas em três níveis de severidade: alguma dificuldade, grande dificuldade e não consegue de modo algum. São considerados casos severos apenas os que escolheram uma das duas últimas opções.

Envelhecimento

Considerando os que responderam que possuem alguma dificuldade, o número chega a quase 24% dos habitantes do ABCD, percentual semelhante à média nacional. O IBGE, contudo, avaliou que o número elevado é reflexo do envelhecimento dos brasileiros e das consequentes dificuldades de locomoção e visual que surgem com o decorrer da idade.
Rio Grande da Serra é proporcionalmente o município com o maior número de habitantes que apresentam ao menos um tipo de deficiência severa, com quase 8% da população. O menor índice é o de Mauá, com 6,55% ou 27.299 dos moradores neste quadro.
O coordenador do Grupo de Trabalho da Pessoa com Deficiência do Consórcio Intermunicipal, Luiz Kassab, aponta a locomoção como um dos maiores obstáculos para o deficiente. “Na verdade, falta tudo. Falta banheiro adaptado, cardápios em braile, muitas vezes uma pessoa que não fala chega a um hospital e não tem funcionário que saiba libras”, enumerou.

Demanda

Kassab trabalha na Secretaria da Pessoa com Deficiência de São Caetano, única cidade da Região que possui uma pasta específica para o assunto. No Consórcio, entre as demandas apresentadas ao Estado está a criação de uma unidade da rede de reabilitação Lucy Montoro no ABCD. Além de assistência gratuita, o espaço também auxiliaria na distribuição de próteses e órteses. “Hoje uma cadeira de rodas adaptada pode custar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil”, afirmou. Ainda não há previsão de quando o centro será inaugurado.

Nanasa promove a inclusão por meio do esporte

Resgatar a autoestima das pessoas com deficiência é o principal objetivo do Nanasa (Núcleo de Apoio à Natação Adaptada de Santo André). O núcleo faz parte da Acide (Associação pela Cidadania das Pessoas com Deficiência) e desde 2002 dá assistência para quem quer aprender a nadar ou aprimorar as técnicas dentro da piscina.
Ivan Teixeira Cardoso é coordenador do projeto e afirma que em 10 anos foram atendidas 960 pessoas de todas as idades. Os resultados da atividade vão além dos efeitos físicos, como melhora de postura e respiração. “O mais importante é a autoestima, quando a pessoa acredita nela começa a ousar e perceber que pode muito mais. O principal é que eles tenham qualidade de vida.”
Parte dos nadadores participa com frequência de campeonatos como os Jogos Regionais, realizados no Estádio Pedro Dell’Antonia, em Santo André. É o caso de Renan Nepomuceno Negrão, 27 anos, que nasceu com paralisia cerebral e começou a nadar aos nove anos por indicação médica. “Dá um pouco de ansiedade (participar de competições), mas me sinto muito bem. Sinto falta quando não nado.”
Bruna Bressanin, 23, é outra atleta do time. Com deficiência visual, a jovem já conquistou diversas medalhas e descreve os benefícios da natação em sua vida. “Na piscina me sinto segura. É a realização pessoal de algo que eu achava que não podia ou que era distante”, relatou.
Atualmente, o Nanasa possui dois programas, “Nadar é preciso”, voltado para pessoas que já têm noções de natação, e “O esporte ao alcance de todos”, para iniciantes. Neste último, existe lista de espera de cerca de 500 pessoas. Quem já sabe nadar e quiser integrar o primeiro programa, pode se informar nos telefones 4427-5240 ou 4993-0619.

Escolaridade da pessoa com deficiência ainda é desigual

O Censo 2010 apontou que a diferença entre a taxa de escolaridade de pessoas com deficiência em relação à população sem nenhuma das deficiências investigadas permanece. Entre os habitantes de 15 anos ou mais de idade com pelo menos uma das deficiências investigadas pela pesquisa, 81,7% declararam ser alfabetizados. A taxa é quase 9% menor se comparada com a população da mesma faixa etária que declarou não possuir qualquer tipo de deficiência.
Uma das explicações para a diferença na escolaridade, de acordo com o Censo, também se deve ao envelhecimento da população. Na Região, de 24% dos moradores que declararam ter deficiência em um dos três graus de severidade investigados (alguma dificuldade, grande dificuldade e não consegue de modo algum), mais de 266 mil pessoas disseram não ter instrução ou não completaram o ensino fundamental.
No ABCD, mais de 3,2 mil crianças e adolescentes com deficiência estão matriculadas em escolas municipais. Para Rubens Wajnsztejn, professor de Neurologia Infantil e coordenador do Núcleo Especializado em Aprendizagem da Faculdade de Medicina do ABCSite externo., a inserção do estudante em escolas regulares deve levar em conta o grau de severidade da deficiência.
“Vai depender de cada caso. De maneira geral, a tendência é que a criança com algum tipo de deficiência estude em uma escola regular, mas tem casos em que vai precisar pesar se existe uma evolução satisfatória do aluno. Tem casos mais graves e com maior dependência do aluno, é difícil para uma escola comum conseguir atender”, argumentou. Na opinião de Wajnsztejn, o programa ideal de inclusão deve reduzir o número de crianças em sala de aula e, além do professor, deve haver um auxiliar com treinamento.

Prefeituras oferecem centro de atendimento para alunos com deficiência

As prefeituras do ABCD disponibilizam locais de atendimento para crianças e jovens com deficiência que frequentam a rede pública de ensino. Em Diadema, os alunos são atendidos no Cais (Centro de Atenção à Inclusão Social) e na EMEE Olga Benário, voltada para atendimento de deficientes auditivos, além de duas entidades conveniadas. Em São Caetano, a Fundação Anne Sullivan administra uma unidade de ensino e outra de atendimento clínico, que oferece tratamento aos estudantes da rede municipal.

Santo André inaugurou neste mês o Caem (Centro de Atendimento Educacional Multidisciplinar),  destinado aos alunos com deficiência ou com Transtornos Funcionais Específicos que podem interferir direta ou indiretamente na aprendizagem. Além disso, também é possível procurar atendimento no Capsi (Centro de Atendimento Psicossocial Infantil), Crem (Centro de Reabilitação Municipal), CRPD (Centro de Referência da Pessoa com Deficiência).
Em São Bernardo, a Secretaria de Educação não oferece educação especial segregada em escolas especiais em cumprimento das diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Educação. Dessa forma, as escolas recebem apoio para o desenvolvimento da educação inclusiva por meio de atendimento educacional especializado.
Mauá também segue a Política Nacional de Educação Especial e os alunos são encaminhados para escolas regulares. Quando necessário, é oferecido atendimento educacional especializado em dez unidades municipais e atendimentos terapêutico-educacionais no Cemei Cleberson da Silva.
Em Ribeirão Pires, o Centro de Apoio à Inclusão Escolar Ricardo Tolesano Mendes oferece apoio a crianças e familiares. São atendidos, em média, entre 60 e 80 alunos da rede pública de ensino.

Fonte: www.abcdmaior.com.br

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