"Representando 2,4% da população estadual, segundo dados
do censo do IBGE de 2010, os pernambucanos com deficiência somam quase
205 mil cidadãos ligados nas políticas para o segmento."
De olho na corrida eleitoral deste ano, pessoas com deficiência e organizações dedicadas aos direitos desse segmento social aproveitam o período para pautar os políticos que brigam por um cargo eletivo. O eleitor Daniel Xavier, de 42 anos, é um desses. À frente da Associação das Pessoas com Deficiência de Ponte dos Carvalhos, na Região Metropolitana do Recife, o cadeirante destaca que o primeiro desafio é ampliar a compreensão do conceito. “Quando se fala de acessibilidade só se pensa na pessoa com deficiência, mas é preciso pensar no acesso de idosos, gestantes e outros grupos”, enfatiza.
Representando 2,4% da população estadual, segundo dados do censo do IBGE de 2010, os pernambucanos com deficiência somam quase 205 mil cidadãos ligados nas políticas para o segmento. E entre essa parcela, reclamações sobre a conservação das vias e a infraestrutura dos serviços públicos são as mais recorrentes. “A maior parte das escolas e dos prédios públicos não tem rampas de acesso nem banheiros específicos. Pra você ter idéia, o Hospital das Clínicas, que é federal, não tem nenhum banheiro com estrutura para cadeirantes”, denuncia Daniel Xavier.
No interior do estado, a situação é ainda mais difícil. Diferentemente da Região Metropolitana, municípios distantes da capital pernambucana sequer contam com serviço de transporte apto para as pessoas com deficiência. “Não temos ônibus com elevadores nem com espaço para cegos com cão-guia. Os governantes precisam enxergar isso”, conta Júlio Costa, presidente da Associação de Cadeirantes e Cegos de Bezerros (ACCB), no Agreste. Segundo ele, apesar de estar em lei, os órgãos municipais e estaduais da cidade também não possuem com rampas de acesso, ou quando têm, não são respeitadas as medidas arquitetônicas afixadas no texto legal, obrigando a pessoa com deficiência a pedir assistência a outrem.
Mesmo no Grande Recife, onde a frota de ônibus é equipada com elevadores de acesso e assento para cegos com cão-guia, o despreparo dos profissionais dificulta o dia a dia das pessoas com deficiência. “Muitos motoristas queimam as paradas ou dizem que os elevadores estão quebrados, porque não sabem ou não querem operar o equipamento ou estão com pressa”, afirma o cabense Daniel Xavier. A instalação dos equipamentos e da reserva para pessoas com deficiência é lei, mas a aplicação ainda tem índices baixos. “A lei no papel é muito vasta e avançada, mas falta efetivar essa teoria em políticas públicas”, alfineta Daniel.
A melhoria das ruas e calçadas de Pernambuco também é campeã no ranking de petições de acessibilidade para os futuros prefeitos e vereadores do estado. E as pessoas com algum tipo de deficiência visual e de mobilidade cutucam: “não é pela deficiência que deixamos de ser humanos”, como reclama a estudante de enfermagem Elisângela Czekalski, de 28 anos. Ela, que é cadeirante, pede dos políticos que pleiteam um cargo público municipal ações contra a ocupação irregular das calçadas e a grande quantidade de buracos. “Porque você é obrigada a andar no meio dos carros, por falta de calçadas”, desabafa.
A articulação entre secretarias municipais e a incorporação do conceito de acessibilidades por parte dessas é uma das proposições das entidades em defesa das pessoas com deficiência. “É importante que haja articulação e que as secretarias não sejam isoladas, mas olhem mais para a cidadania”, diz Daniel Xavier. E o presidente da ACCB, Júlio Costa, completa: “aquele que for eleito precisará reconhecer a carência histórica desse e de outros segmentos da sociedade”, destaca.
Fonte: http://ne10.uol.com.br (Jéfte Amorim)
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