5 de ago. de 2012

Brasil: muitos deficientes, pouca estrutura

Os números são imprecisos. Enquanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) avalia que cerca de 24,5 milhões de brasileiros possuam algum tipo de deficiência, há quem aponte que o total passe de 30 milhões. Independentemente da exatidão das cifras, o fato é que esse contingente é maior que a população de vários países do mundo. Só para ilustrar, na Austrália, por exemplo, vivem 21 milhões de pessoas. Apesar dos altos números, o Brasil não é referência quando se fala do trato com deficientes físicos.
Os problemas são dos mais variados. Se a escassez de transporte público já complica a vida de pessoas sem nenhum problema de locomoção, usar ônibus ou trens em uma cadeira de rodas torna-se algo bastante complexo. E não é só isso. Uma mesa de bar em cima de um piso tátil (usado para orientar deficientes visuais quanto ao caminho a ser seguido), por exemplo, pode transformar uma simples caminhada vespertina em uma visita ao hospital.
A paraplégica Julie Nakayama, 23, sabe bem o que é isso. Desde o ano passado, ela, que é assessora parlamentar da vereadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) – também deficiente –, realiza o trabalho de fiscalização da avenida Paulista. Lá, Julie, conhecida como “Guardiã da Paulista”, enumera todos os problemas encontrados na região e os encaminha à gerência da via. Com experiência nos relatos das questões encaradas pelos deficientes, Julie listou quais são as cinco maiores dificuldades enfrentadas por pessoas com dificuldades de locomoção, visual e auditiva.




Palavra de especialista
Julie Nakayama, assessora parlamentar da vereadora Mara Grabrilli (PSDB-SP), mantém um blog sobre o trabalho de fiscalização que ela realiza na avenida Paulista desde o ano passado acerca das leis sobre acessibilidade (http://guardiadapaulista.ning.com/).
 
Falta de respeito no uso de vagas reservadas para pessoas com deficiência e idosos
“Funciona da mesma maneira que os banheiros. A vaga reservada tem um espaço maior, para transferência do carro para a cadeira de rodas, e é mais perto, para diminuir a distância para quem tem mobilidade reduzida. Isso deve ser respeitado. Vale também para as vagas para os idosos. Eu acredito que um cadeirante não pode parar em uma vaga de idoso e vice- versa. Respeito também entre os usuários.”

Falta de transportes públicos adaptados
“Há uma porcentagem muito pequena ainda de ônibus e metrôs acessíveis. No caso dos ônibus, nos que são acessíveis, muitas vezes falta preparo por parte dos motoristas em ajudar. No Brasil, facilita muito se o cadeirante tem carro, porque depender de transporte público é bastante complicado.”

Falta de acesso nas ruas
“A Liberdade por exemplo, não é um exemplo bom em acessibilidade, o que é até irônico, por ser um local que apresenta um número grande de idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Mas não é só lá que este problema existe. Em praticamente toda a extensão de São Paulo, infelizmente, ainda é difícil transitar com cadeira de rodas. É complicado, porque mesmo se o local é acessível, corremos o sério risco de não conseguirmos chegar até nosso destino, porque as calçadas são muito instáveis.”

Locais públicos não acessíveis
“Eu gosto muito de sair, conhecer lugares novos, mas, para mim, chegar a um lugar onde não há acesso é como se eu não fosse bem-vinda lá. Acho que o maior problema é a educação do brasileiro, que é muito receptivo, de bom humor, quer sempre ajudar, mas não respeita o próximo. Em outros países essas coisas simplesmente não acontecem.”

Falta de respeito no uso de banheiros adaptados
“Este é um problema cultural, na minha opinião. Até existem banheiros acessíveis, mas não são respeitados. São usados como almoxarifado e vestiário de funcionários. Isso quando não são usados por pessoas que não precisam daquele espaço. As pessoas precisam entender que o banheiro adaptado não é maior por acaso. Geralmente, há um acessível e vários não acessíveis.” Então por que ocupar o único banheiro que podemos usar?


Fonte: www.nippobrasil.com.br




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