Joanna Rowsell (dir), que enfrenta condição que provoca calvície, serve de inspiração para outros portadores
Quando tinha nove anos, a ciclista britânica Joanna Rowsell,
que conquistou no último sábado o ouro na perseguição por equipes dos
Jogos Olímpicos e ouviu os torcedores cantarem Hey Jude com Paul
McCartney, viu uma sobrancelha cair. Achou estranho, claro.
Aos 10,
Rowsell já havia perdido completamente o cabelo e se desesperou. Foi
diagnosticada com uma rara doença: alopecia areata, falha que faz o
sistema imunológico atacar os pelos corporais. Tal condição não foi um
limitador para a prática de esporte. Pelo contrário, através dela a
atleta virou sinônimo de inspiração.
A partir do momento em que foi diagnosticada com a doença e
descobriu que era incurável, a atleta, então apenas uma criança, mudou
sua personalidade. Deixou de sair com os amigos, não se preocupava em
ficar bonita e evitava até olhar a si mesma no espelho, fato que a
entristecia. Certa noite, começou a chorar e perguntou aos pais Roger e
Amanda: "por que isto está acontecendo?". Sem autoestima, ficou muito
mais tímida e passou a focar nas tarefas de casa para a escola, a fim de
se distrair dos pensamentos sobre o seu futuro - se teria um namorado e
como seria conviver com outros sem cabelo. Até que o ciclismo, como
Rowsell admite, mudou sua vida.
Em um dia qualquer de aulas da britânica em 2004, o time
nacional de ciclismo foi fazer testes na escola em que Joanna atendia, a
"Nonsuch High School". Na época, a garota de 15 anos tinha apenas uma
ultrapassada e enferrujada bicicleta na garagem dos pais, mas mesmo
assim resolveu ver sobre o que se tratavam os testes. Foi bem em todos e
passou a integrar o time juvenil britânico. Daí para frente, ainda com
pouca confiança em sua aparência, começou a dedicar seus esforços no
ciclismo e fez sua carreira decolar.
A primeira vez em que se destacou no cenário nacional foi nos
anos de 2005 e 2006, quando conquistou a competição nacional junior. Em
2007, assinou um contrato profissional para atuar pelo time Global
Racing e já no primeiro ano terminou em terceiro na perseguição de 3 km
do campeonato nacional. A carreira não parou de crescer e ela guarda
como maiores conquistas, além do ouro recém-conquistado nos Jogos de
Londres, vitórias com o time britânico nos Campeonatos Mundiais de 2008,
2009 e 2012.
Os sucessos dentro das pistas fizeram também a ciclista aceitar
mais naturalmente a sua condição. Antes avessa à possibilidade de ter um
namorado, conseguiu encontrar um e teve a primeira grande prova de
autoestima. Rowsell começou a sair com o atual parceiro em uma época em
que estava com cabelo, já que as crises de queda são sazonais. Quando
ficou careca de novo, achou que seu namorado a largaria, mas
surpreendeu-se com o contrário. O que só aumentou a confiança da atleta,
que mesmo assim guarda três perucas em sua casa para usar no dia a dia.
Bem resolvida com a situação, foi em fevereiro deste ano que
Joanna Rowsell chocou - e encantou - os britânicos. Ao vencer uma das
provas do Campeonato Mundial de ciclismo, tirou o capacete e subiu ao
pódio completamente careca. A surpresa de todos virou rapidamente uma
história de inspiração para outras pessoas com a mesma rara doença da
esportista - estima-se que a alopecia afeta 600 mil pessoas em todo o
mundo. Exemplo este que só aumentou depois de Londres 2012.
Menos de dois dias após a vitória da ciclista, que também
comemorou com a charmosa careca à mostra enquanto Paul cantava, o site
pessoal de Rowsell já está cheio de recados de congratulações. Entre
eles, destacam-se o de dois portadores da mesma doença da britânica, que
disseram estar "inspirados" e que agora acreditam mais em si mesmos.
Detalhe: o ouro olímpico da britânica veio exatamente no Dia
Internacional da Alopecia. Só uma brincadeira do destino para uma pessoa
que não é ouro apenas dentro das pistas.
fonte: www.terra.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário