Para quem diz que o amor é complicado, Fabíola Sebastiana Kelly Silva, de 25 anos, não achou nada difícil a decisão que tomou: conhecer o amor da vida dela pela internet, descobrir que ele tinha paralisia cerebral e iniciar o namoro dois dias depois.
Miguel de Paula Carvalho Pinto, hoje com 36 anos e uma deficiência que o impedia de se aproximar do coração da maioria das mulheres, encontrou na internet uma forma de conhecer pessoas e, quem sabe, achar uma para a vida inteira.
Na casa em que hoje moram juntos, o casal contou como o detalhe não fez a mínima diferença.
“Pra mim, sempre foi muito difícil conhecer pessoas. Então, eu vi na
internet o caminho para encontrar a minha cara-metade”, declara Miguel.
Em meados de 2008, em sua busca pela rede social, ele adicionou Fabíola pelo Orkut. Ela não aceitou. Após insistir por mais umas três vezes enumerando alguns amigos que tinham em comum, Fabíola resolveu aceitar o novo amigo e começaram a conversar.
“Eu nunca gostei de ficar conversando pela internet, usava a internet só para trabalho. Mas nós começamos a nos falar e de repente, estávamos conversando todos os dias”, diz Fabíola.
Em meados de 2008, em sua busca pela rede social, ele adicionou Fabíola pelo Orkut. Ela não aceitou. Após insistir por mais umas três vezes enumerando alguns amigos que tinham em comum, Fabíola resolveu aceitar o novo amigo e começaram a conversar.
“Eu nunca gostei de ficar conversando pela internet, usava a internet só para trabalho. Mas nós começamos a nos falar e de repente, estávamos conversando todos os dias”, diz Fabíola.
Ela conta que os dois haviam saído recentemente de relacionamentos,
portanto a afinidade se tornou amizade e apoio rapidamente. “
Eu moro em Varginha, mas na época estava trabalhando em Elói Mendes, e eu não conhecia praticamente ninguém lá. Então, no meu horário de almoço, eu ficava conversando com o Miguel”, explica. “Nessa época ele já começou com um ‘lero’ pra cima de mim, falando que era pra ligar para ele, essas coisas, mas eu esquivava”.
Cerca de cinco meses depois, de conversa todos os dias, Miguel sumiu. Ficou dois dias sem aparecer na internet. “E eu achei aquilo super estranho, porque sempre que eu entrava, ele estava lá”, conta Fabíola. Mas outra coisa além do sumiço de Miguel chamou a atenção dela: Fabíola estava, de fato, sentindo a falta dele. “Aí eu percebi que eu estava começando a me apaixonar”, conta.
Fabíola resolveu então ligar na casa dele para saber o que estava acontecendo. Quem atendeu foi a irmã do Miguel, que, após chamar Fabíola pelo nome de outra mulher, disse que ele estava internado por causa de uma cirurgia, mas que não era nada sério. Os dois ficaram cerca de duas semanas sem se falar.
Eu moro em Varginha, mas na época estava trabalhando em Elói Mendes, e eu não conhecia praticamente ninguém lá. Então, no meu horário de almoço, eu ficava conversando com o Miguel”, explica. “Nessa época ele já começou com um ‘lero’ pra cima de mim, falando que era pra ligar para ele, essas coisas, mas eu esquivava”.
Cerca de cinco meses depois, de conversa todos os dias, Miguel sumiu. Ficou dois dias sem aparecer na internet. “E eu achei aquilo super estranho, porque sempre que eu entrava, ele estava lá”, conta Fabíola. Mas outra coisa além do sumiço de Miguel chamou a atenção dela: Fabíola estava, de fato, sentindo a falta dele. “Aí eu percebi que eu estava começando a me apaixonar”, conta.
Fabíola resolveu então ligar na casa dele para saber o que estava acontecendo. Quem atendeu foi a irmã do Miguel, que, após chamar Fabíola pelo nome de outra mulher, disse que ele estava internado por causa de uma cirurgia, mas que não era nada sério. Os dois ficaram cerca de duas semanas sem se falar.
Quando Miguel voltou ao mundo virtual, Fabíola decidiu que queria ver
ele e começaram a combinar de se encontrar.
“Aí ele me disse: tudo bem, mas tem um detalhe. Eu perguntei: que detalhe? Ele disse: eu tenho uma deficiência. Aí eu pensei, decerto ele não tem um dedo, ou não movimenta a perna, sei lá, qualquer coisa assim”, lembra Fabíola. Miguel levou outros dois meses para tomar coragem e dizer à Fabíola a deficiência:
“Eu tenho paralisia cerebral”, digitou. “Aí eu não acreditei ‘né’”, conta Fabíola, “afinal isso era impossível. A gente conversava todos os dias e era normal. Eu já imaginava a pessoa com paralisia cerebral, desculpa o termo, mas ‘retardado’, pra mim era impossível aquilo”.
Mas era verdade. Miguel explicou que, no caso dele, a paralisia só atingiu a coordenação motora, mas a maioria das suas funções cognitivas funcionava normalmente. Ele só tinha dificuldades em falar e em se movimentar.
“Eu me sinto uma pessoa normal presa em meu corpo”, explicou Miguel à época. Fabíola não precisou pensar muito para decidir que queria vê-lo assim mesmo.
“Aí ele me disse: tudo bem, mas tem um detalhe. Eu perguntei: que detalhe? Ele disse: eu tenho uma deficiência. Aí eu pensei, decerto ele não tem um dedo, ou não movimenta a perna, sei lá, qualquer coisa assim”, lembra Fabíola. Miguel levou outros dois meses para tomar coragem e dizer à Fabíola a deficiência:
“Eu tenho paralisia cerebral”, digitou. “Aí eu não acreditei ‘né’”, conta Fabíola, “afinal isso era impossível. A gente conversava todos os dias e era normal. Eu já imaginava a pessoa com paralisia cerebral, desculpa o termo, mas ‘retardado’, pra mim era impossível aquilo”.
Mas era verdade. Miguel explicou que, no caso dele, a paralisia só atingiu a coordenação motora, mas a maioria das suas funções cognitivas funcionava normalmente. Ele só tinha dificuldades em falar e em se movimentar.
“Eu me sinto uma pessoa normal presa em meu corpo”, explicou Miguel à época. Fabíola não precisou pensar muito para decidir que queria vê-lo assim mesmo.
“Eu apareci uns dois dias depois de surpresa na casa dele. Foi a irmã que atendeu de novo e novamente me chamou pelo nome de outra mulher (risos)”, conta Fabíola.
“Ele era um mulherengo. Quando a gente começou a namorar, ele teve que excluir um monte de mulher do Orkut (risos). Mas voltando àquele dia, quando eu apareci no quarto, o Miguel levou tanto susto que até caiu da cadeira (risos)”. Miguel emenda com as lembranças dele do momento: “Eu olhei para ela e pensei: nossa, que ‘morenona’ (risos)”.
Fabíola não sabe nem explicar como foi o momento, mas eles se abraçaram, Miguel começou a falar, e mesmo com toda a dificuldade de se expressar, ela diz que entendia 90% do que ele dizia.
“Foi um momento realmente sem explicação”, lembra. Quando os dois estavam na varanda, se reconhecendo, o primeiro beijo aconteceu. “Só um selinho, mas foi maravilhoso”, completa ela.
O Namoro
Fabíola disse que nem pensou muito para decidir que queria ficar com ele. A parte mais difícil, segundo ela, foi convencer ambas as famílias. “Assim que os pais do Miguel ficaram sabendo, a mãe dele já veio ter aquela conversa séria comigo.
Em todo o instinto de proteção dela, me disse que outra pessoa já tinha magoado muito ele, que o mundo deles girava em torno do Miguel, e que não era fácil, que eu tinha que ter cuidado antes de entrar na vida dele”, lembra.
Fabíola queria que Miguel fosse a um encontro da igreja com ela em outra cidade, mas de última hora, a viagem não aconteceu. Ela foi sozinha. “Quando eu estava lá, rezando, eu pensei: Deus, eu não sei o que fazer, eu tenho esse sentimento, mas não sei se é possível, se é a coisa certa. Então me dá um sinal, qualquer um, ou senão faça eu esquecer ele”, lembra Fabíola.
“Aí eu abri os olhos, e quando olhei lá na frente do auditório, tinha um casal de uma mulher e um homem com paralisia também caminhando. Aí pensei, em todo o preconceito que a gente tem mesmo: ela deve estar cuidando dele ‘né’. Mas aí, eles se beijaram. E pra mim foi o sinal que eu precisava”, finaliza.
Em junho de 2009, Miguel e Fabíola começaram a namorar. “E era muito complicado, porque Miguel não podia andar a pé e eu não sabia dirigir. Aí, todo lugar que a gente ia, ou era a mãe, ou o pai, ou alguém da família que levava e trazia, e estava sempre ali”, conta Fabíola.
Ela então resolveu o problema. Cerca de quatro meses depois do início do namoro, tirou a carteira de motorista e comprou um carro.
“Eu estava guardando um dinheiro para fazer pós-graduação. Então usei ele para pagar o curso e dar entrada no carro. Assim a gente podia namorar sem ninguém por perto”, conta.
Miguel, apesar de já ter se formado em ciência da computação, ficava em casa o dia todo. Fabíola, então, distribuiu o currículo dele em vários lugares. Logo depois, uma empresa que produz peças automotivas chamou o Miguel para um programa de inclusão de funcionários com deficiência e ele conseguiu o emprego. “Eu fiquei muito feliz, porque ele sempre consegue o que quer”, comenta Fabíola.
Não demorou muito e os dois quiseram se casar. Noivaram com cerca de oito meses de namoro, outro drama na família. “Todo mundo duvidou que a gente ia ficar junto. Eu, pra ser sincera, não pensava em casar tão cedo. Eu sou assistente social, e queria ir para essas missões na África para ajudar os outros, mas eu estava apaixonada e queria ficar com ele”, conta.
Ao ser questionada se alguma vez ela duvidou da sua decisão, a resposta é rápida: “Nunca duvidei, hora nenhuma”, afirma. E Miguel completa, com o costumeiro bom humor: “A África dela é aqui comigo”.
O Casamento
Fabíola e Miguel se casaram em agosto de 2012. A igreja ficou lotada, e até hoje os dois não têm muita certeza se todos os presentes eram conhecidos.
“Parece que estava tendo uma missa antes do casamento, e quando começou a cerimônia, muita gente ficou ali pra ver o casamento. Eu via gente que eu não conhecia, outros que eu não tinha convidado... e estava muito cheio! As pessoas não estão acostumadas a ver o diferente ‘né’”, lembra Fabíola.
Ela comenta que, antes de lidar com o preconceito dos outros, teve que aprender a lidar com o próprio preconceito de achar que alguém assim é diferente.
“A gente sempre pensa que a pessoa que tem uma deficiência é alguém diferente, especial, e por isso não ‘caberia’ em uma vida como a nossa, mas o Miguel sempre falava que, antes de ser uma pessoa deficiente ele é uma pessoa, com as mesmas necessidades de qualquer um Falava isso para a família dele, que muitas vezes acaba acreditando que a pessoa não precisa viver um relacionamento por exemplo, que nunca vai sentir falta disso”, explica.
Mas por onde eles passam, todos os olhares se voltam. “Não adianta, o povo olha mesmo”, conta Fabíola. “Eu nunca fui chamada de mulher dele. Quando chego com o Miguel, me perguntam se eu sou ‘cuidadora’, irmã, tudo, menos mulher.
A pior foi a última, quando em um consultório, me perguntaram se eu era mãe dele. Acabou comigo (risos). Mas é assim mesmo, tem gente que ainda acha que é interesse, que eu sou louca, coisas desse tipo, nunca que é amor”. Miguel entra em defesa de Fabíola: “Ela é uma mulher de muita coragem.”
Nesta semana de dia dos namorados, quase cinco anos após se conhecerem, o casal planeja e se preocupa com as mesmas coisas de qualquer casal: passarem em um concurso para melhorar as condições financeiras, comprar uma casa maior, quando vão ter o primeiro filho.
Ao mostrar o vídeo de casamento, Miguel, ao lado de Fabíola, começa a chorar de emoção. “Ah, toda vez que ele assiste o vídeo, ele chora. Miguel é muito sensível”, entrega Fabíola. Ao comentar o bom humor de Miguel, que disfarça toda essa sensibilidade, ela completa: “Ele que anima a vida da gente. Somos muitos felizes”.
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