Os olhos de Walef Ivo Carvalho, de 18 anos, brilham ao mostrar a evolução de seu famoso invento na garagem no Centro de Santa Rita do Sapucaí
(MG), na casa onde mora pai, parte importante nesse trabalho. Walef
mesmo testa o aparelho.
Arruma os cintos em volta das pernas e do corpo,
simulando estar preso a uma cadeira de rodas.
Aos poucos, o projeto de
nome complicado, “cadeira ortostática dinâmica”, o
deixa em pé de novo. Com o toque em um botão, o aparelho vai para
frente, para trás, para os lados. Promete o movimento que um acidente
tirou da vida de muitos.
“Você tem uma vida sem dificuldades e, de uma hora para outra, você se
vê limitado”, comenta em um tom reflexivo.
“A minha ideia é ver isso
aqui em um supermercado, para que o cadeirante tenha
liberdade de pegar um produto em uma prateleira mais alta se ele quiser.
Um professor nessas condições poderia se levantar para escrever no
quadro. Essas pequenas conquistas mudam a qualidade de vida, fazem
diferença para a autoestima”, diz e abre um sorriso de canto a canto do
rosto novamente.
Walef sabe do que está falando. Há oito anos, o pai, Leandro Aparecido
de Carvalho, chegou a perder todos os movimentos do corpo. Quem vê o
serralheiro de 35 anos mal acredita que ele teve a tetraplegia como prognóstico.
“Era véspera do Natal de 2006”, recorda-se Leandro, hoje com 35 anos.
“A gente tinha chegado da missa. Estava quente e eu fui dar um mergulho
na piscina. Caí de cabeça e daí por diante não me lembro de mais nada.”
Segundo o pai de Walef, o acidente lhe deixou apenas os movimentos da
cabeça. Os médicos pareciam pouco otimistas. Depois de uma semana
internado, a possibilidade de uma cirurgia lhe trouxe a chance de, pelo
menos, conseguir se sentar.
“O médico disse que minhas chances eram de
3% a 10%. Eu decidi lutar para ficar muito além disso. Coloquei na
cabeça que se quisesse voltar a andar, teria que ficar de pé”, conta.
Na época, ajudado pelos três irmãos, também serralheiros, uma estrutura
com roldanas foi improvisada para que Leandro conseguisse ficar alguns
momentos fora da cadeira. Na sequência vieram as sessões de fisioterapia
no Centro de Desenvolvimento e Transferência de Tecnologia Assistiva
(CDTTA), pertencente ao Inatel, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e a
recuperação gradativa dos movimentos que hoje lhe permitem circular pela
cidade com a ajuda de um andador.
Se um provável tetraplégico não acreditou em limites, por que Walef
acreditaria? É esse sentimento que move as pesquisas do jovem.
“Eu fui
para a ETE (escola com ensino profissionalizante da cidade) mais para
conhecer. Lá, a gente tem que desenvolver algum projeto na área
tecnológica e foi nesse momento que pensei na primeira versão dessa
cadeira”, conta o hoje estudante de Engenharia Biomédica.
Projeto em evolução
A cadeira ortostática, construída em 2012, lembra uma balança daquelas
de inox usadas para pesar sacos de batata. A estrutura rústica, no
entanto, se mostrou bastante eficiente para o propósito inicial do
estudante: garantir uma postura ereta para o cadeirante. Mas, a exemplo
do pai, Walef queria vencer novos limites.
No projeto apresentado em uma feira da ETE, Walef trabalhou com uma
equipe de colegas de sala. A proposta rendeu prêmios ao grupo durante
todo o ano seguinte e preparou o terreno criativo para os avanços que
chegariam em 2014.
“No Inatel, eu tive acesso ao CDTTA e comecei a investir em melhorias
na cadeira ortostática até chegar na cadeira ortostática dinâmica, que
permite que o paraplégico se levante e se movimente”, explica.
Essa segunda etapa do projeto foi desenvolvida a partir de junho deste
ano e chegou a ser apresentada ao Congresso Brasileiro de Engenharia
Biomédica. Com a inovação, Walef também obteve reconhecimento
internacional e da Sociedade Brasileira com Deficiência.
Mesmo sem a equipe que o auxiliou na primeira versão da cadeira, não
foi uma conquista solitária.
“Eu entendo muito pouco da parte mecânica.
Quem me ajuda mesmo nessa parte é meu tio Luciano, é ele que encontra as
soluções para as ideias que eu tenho e me ajuda a por em prática”,
revela o estudante, que já se prepara para uma terceira evolução da
cadeira.
“Agora eu quero que ela acompanhe o movimento da cabeça, o que
vai ajudar as pessoas tetraplégicas”, imagina o futuro engenheiro de
biomedicina.
Fonte: G1
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