Pesquisadores da USP deram um passo importante no tratamento do autismo. A doença prejudica o desenvolvimento do cérebro e afeta o comportamento e as habilidades de comunicação.
Aos 15 anos, Igor de Camargo Castro cursa o ensino médio. Nunca repetiu
de ano. Leva uma vida normal, mas tem diagnóstico de autismo leve. Toma
remédios. Os sintomas, que já foram piores, hoje se resumem a uma certa
agitação e à falta de sono. “Preciso de medicamento para dormir, não
consigo dormir. Fico horas tentando dormir”, disse.
Ele é um dos mais de mil pacientes estudados no Instituto de
Biociências da USP. E foi o material retirado de um dente de leite de
outro paciente, também autista, que serviu de base para a pesquisa,
publicada em uma das principais revistas científicas do mundo.
Estudando o DNA do paciente, a equipe da geneticista Karina Oliveira identificou uma mutação em um gene chamado TRPC6.
Com a ajuda de equipes de universidades americanas, as células do dente
foram transformadas em neurônios. Em um deles foi inserido um gene
TRPC6 normal. Os sintomas do autismo desapareceram.
Ao mesmo tempo, o funcionamento do gene foi bloqueado em um neurônio
normal, de outra pessoa. O resultado foi o oposto. Esse neurônio começou
a apresentar características de autismo.
O passo seguinte seria desenvolver ou identificar uma droga, um
medicamento que pudesse produzir em pacientes o mesmo efeito já obtido
em laboratório. A boa surpresa foi descobrir que não apenas essa
substância já existe, como está associada à medicina popular.
A hiperforina é encontrada na erva de São João, indicada para o
tratamento de depressão. Aplicada em laboratório, a hiperforina também
conseguiu corrigir neurônios com autismo.
“De maneira alguma significa a cura do autismo. A gente precisaria
testar isso em pacientes e, principalmente, a gente imagina, como o
autismo pode ser causado por diferentes genes, pode ser que essa droga
só tenha efeito em pacientes que tenham alterações nesse gene
especificamente”, afirmou Karina Griesi Oliveira, geneticista e coautora
da pesquisa.
Fonte: Jornal Nacional
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