Contas simples e pequenos problemas de matemática podem ficar menos complicados para crianças com deficiência visual com a ajuda de um aplicativo desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O software se utiliza de perguntas em áudio para ensinar alunos a
entender a disciplina de forma lúdica nas aulas com professores e também
pode auxiliar no dever de casa no ambiente familiar. O programa é
gratuito e deverá ser disponibilizado até o fim do ano.
O MiniMatecaVox foi pensado e desenvolvido como tese
de mestrado do tecnólogo em informática Henderson Tavares de Souza, de
31 anos, na Unicamp, no curso de engenharia elétrica na área de
concentração em engenharia da computação.
O sistema contempla o conteúdo
de matemática do primeiro ano do ensino fundamental, portanto para
crianças de 6 a 8 anos de idade. São 20 aulas com 300 atividades.
"Eles
podem aprender conceitos básicos, cálculo mental, além de ser um
estímulo ao uso do computador e à inclusão digital", afirma o
pesquisador.
A ferramenta poderá ser utilizada dentro de um programa já conhecido e muito usado por pessoas com deficiência visual, o Dosvox,
que permite a realização de tarefas variadas por meio da voz. O caminho
é fazer o download pela internet para ter acesso a todo o conteúdo.
"O
programa vai fazer perguntas de áudio. Quantos dedos há em sua mão
direita? E o professor aproveita para orientar, ensinar a noção de
direita e esquerda, por exemplo. A resposta é pelo teclado e um aviso
com voz humana diz se o aluno acertou ou não", explica entusiasmado.
O programa, no qual o aplicativo ficará hospedado, faz a leitura de
cada tecla digitada pela criança e traduz em som para que seja possível
saber o que está sendo escrito pelo teclado do computador.
Segundo
Souza, não há muito investimento para melhorar o aprendizado de
deficientes visuais, principalmente na área de exatas.
"Nunca vi nada no mercado. Foi um grão de areia o que consegui
desenvolver em dois anos e meio. Pretendo continuar o projeto em um
doutorado", conta.
O pesquisador espera que, com a divulgação, mais
profissionais se interessem pelo projeto para desenvolver e
disponibilizar o conteúdo para outras séries escolares.
O trabalho foi orientado pelo professor Luiz César Martini, do
Departamento de Comunicações da Faculdade de Engenharia Elétrica e de
Computação (Feec).
Motivação veio da sala de aula
Além de pesquisador, Henderson, morador de Louveira (SP), é professor
do ensino fundamental na rede pública de Várzea Paulista (SP), cidade
próxima.
No dia a dia, convivendo com as deficiências de cada aluno para
aprender matemática, ele se viu motivado a fazer algo por aqueles que
enfrentam ainda mais dificuldades para absorver o conteúdo.
"A matemática tem mais dificuldade para os deficientes visuais por
falta de recursos, ferramentas que dêem a eles condições de aprender.
Espero que através do software eles se motivem para aprender e usar a
matemática para as suas vidas e para o futuro", conta o pesquisador, que
hoje se diz preparado para receber um aluno com essa deficiência em
sala de aula.
Programa foi testado em instituições especializadas
Henderson levou o programa para ser testado em instituições
especializadas no auxílio a deficientes visuais em Campinas. "É um
suporte a mais para o que a criança aprende no ensino regular. Foram
solicitados ajustes e até o fim do ano o aplicativo estará disponível na
internet", afirma.
Uma delas foi a Pró Visão, que promove a habilitação e reabilitação
desse público há 30 anos.
A instituição, localizada no bairro Jardim
Proença, atende em média 45 deficientes, de bebês a adolescentes. Para a
coordenadora Maria Cecília Saragiotto, a invenção de Henderson será
muito importante para o futuro das crianças.
"Tudo que facilita, dá
autonomia para os deficientes visuais, é bem-vindo", conta.
A coordenadora afirma que esse público enfrenta uma carência no ensino
normal e, por isso, as crianças procuram o apoio das instituições. Sem a
ajuda, muitas não conseguem acompanhar.
"Vamos usar o aplicativo e
exercitar com as crianças. Já está no nosso plano", completa.
Carência em matemática é percebida entre adultos com deficiência
Outra instituição que cuida dos deficientes visuais em Campinas é o
Centro Cultural Louis Braille, também no Jardim Proença.
No local é
possível aprender a linguagem e apoiar os jovens, principalmente acima
dos 18 anos, na inclusão escolar em classes comuns.
O coordenador de
projetos sociais Devanir de Lima, que é deficiente visual, percebe que a
matemática é, de fato, um problema para esse público.
"Muitos pais acreditam que o papel de ensinar está sendo feito nas
escolas, que elas estão suprindo, mas não é assim. As crianças precisam
sim de apoio e empenho maior das famílias", afima Lima.
Segundo ele,
muitas escolas não possuem professores especializados e o aprendizado
precisa ser complementado para que as crianças evoluam.
"Recebemos jovens de 18 anos que não sabem fazer contas de adição,
subtração, divisão e multiplicação com três dígitos. Matemática avançada
eles nem sabem o que é. Se não tiver uma base bem feita do 1º ao 5 º
ano, eles terão problemas no futuro", preocupa-se.
Fonte: G1
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