Muitas competições escolares ou de várzea presenteiam seus campeões com taças mais bonitas do que a do Campeonato Paulista de vôlei.
A conquista do título, que o central Deivid Júnior Costa celebrou no último sábado, pelo Funvic/Taubaté,
em tese pouco representa para quem já foi campeão da Superliga e tinha
três títulos do próprio estadual no currículo. Mas o central se
emocionou de verdade ao ver o brilho do caneco. Na verdade, ficou feliz
pelo simples fato de enxergá-lo.
Deivid teve que se submeter a um transplante da córnea do
olho esquerdo por ter sido acometido de ceracotone, doença que reduz a
rigidez do colágeno da córnea, dando-lhe um formato mais cônico. A
pressão intraocular acabou por romper a córnea esquerda do jogador.
Sem
alternativa, Deivid teve que passar pelo transplante. Os pontos
estouraram algumas vezes, e o período de afastamento, que era para ter
sido de quatro meses, dilatou-se para 18.
“Achei que a minha carreira no
vôlei tinha terminado, porque ninguém consegue ficar parado tanto tempo
e continuar jogando num time de ponta.”
Felizmente, Deivid foi um dos três jogadores do modesto elenco da
temporada passada de Taubaté mantidos para esta. Nesse ínterim, o time
recebeu uma injeção polpuda de verba de seu patrocinador e se
transformou numa superequipe, com Sidão, Lipe, Rapha e Felipe, todos da
seleção brasileira que foi vice-campeã mundial na Polônia, além do
veterano Dante, campeão olímpico em 2004, e do valorizado Lorena.
Como Sidão se machucou no primeiro jogo da final, Deivid teve que botar seus óculos especiais,
que protegem os poucos pontos cirúrgicos ainda remanescentes, e foi à
luta na segunda partida.
Antes, passou por “sessões de terapia” com seus
colegas para fortalecer a confiança e encarar a responsabilidade de
substituir um titular da seleção brasileira contra o fortíssimo Sesi, um
dos candidatos ao título da Superliga.
“Voltei a jogar só em junho e
ainda não estou do jeito que almejo. Tem algumas coisas que quero fazer,
mas meu corpo não acompanha. Dormi muito mal nesta semana que passou.
Mas conversaram muito comigo. O Rapha me orientava todos os dias, e o
Lorena, que chamo de pai, também me deu força. É engraçado, mas quando
vi o ginásio lotado, a ansiedade passou. Até me disseram que joguei bem,
mas acho que fui razoável. O importante é que estou jogando”.
Antes de passar pela cirurgia, com 21 graus de astigmatismo, Deivid
bloqueou alguns vultos.
“Lembro que fomos disputar os Jogos Regionais
num ginasinho baixo e escuro em Caraguatatuba. Acho que joguei por
instinto. Meu oftalmologista disse que, o que a gente não enxerga
totalmente, complementa com a imaginação. Acho que é isso”.
O transplante ajudou o gigante de 2,06m e 26 anos a enxergar a vida com
outra perspectiva. Campeão e eleito melhor jogador do Mundial juvenil
de 2007, na Índia, Deivid é uma promessa que não chegou a vingar como se
esperava.
“Eu gostava bastante da noite, estava desfocado do vôlei.
Acho que esse problema no olho aconteceu para eu dar uma guinada na
vida. Sou outro cara”.
Fonte:Vida Mais Livre
Nenhum comentário:
Postar um comentário