As limitações visuais do pequeno Lucas das Neves, de
11 anos, que nasceu com glaucoma e má formação da córnea, e atualmente
só consegue enxergar um pouco de luz e cor, não o impedem de fazer o que
mais gosta: desenhar.
Para isso, ele conta com a ajuda da memória, já
que, desde o seu nascimento, foi submetido a 24 cirurgias, estas que lhe
possibilitaram, em alguns períodos, a ter uma visão melhor, porém nunca
normal.
"Ano passado eu tive deslocamento de retina e a minha visão voltou a
ficar bem baixa. Mas antes eu conseguia enxergar relativamente bem,
andava sozinho e nesta época eu aproveitei para memorizar muita coisa
que agora eu transformo em desenho", conta o menino, que mora com a
família em Sorocaba
(SP).
Entre as suas pinturas preferidas, a mais impressionante são os
mapas, que ele consegue traçar as linhas de cada região com a exata
precisão de um atlas.
A mãe de Lucas, a aposentada Rosana Aparecida das Neves, conta que ele
sempre gostou de geografia e história.
"Nos períodos em que conseguia
enxergar melhor, sempre ficava olhando os livros, o globo, acho que já
com a intenção de memorizar o formato de cada região, porque ele sempre
teve noção da deficiência dele e, graças a Deus, encara ela de uma forma
muito boa", ressaltou a mãe que orgulha-se da capacidade de memorização
que o filho adquiriu ao longo dos anos.
Mas os desenhos de Lucas não se restrigem apenas a mapas. Ele também
gosta de desenhar animais, paisagens, veículos e personagens dos seus
programas de TV favoritos.
"As pessoas perguntam como eu consigo fazer
isso, mas é que eu já tive a oportunidade de vê-los, de uma forma muito
mais detalhada e nítida da que eu vejo hoje. Daí eu memorizei essas
imagens na minha cabeça e as associo a certas coisas e objetos para
facilitar na hora de colocar no papel."
A técnica que o menino usa para desenhar é a de pulsão, que aprendeu
durante aulas especiais em uma escola de Sorocaba. Consiste em uma
ferramenta com uma agulha grossa na ponta, que é usada para fazer furos
na folha de sulfite.
"Só que eu faço os furos ao contrário, para que o
desenho saia em relevo do outro lado da folha", explica Lucas, que
admite sentir saudades de desenhar com lápis e caneta, mas precisou
aprimorar suas técnicas de desenho de outra forma.
'Nasceu praticamente cego'
Rosana conta que os médicos consideram que Lucas "nasceu praticamente
cego", já que tinha apenas uma visão lateral.
"Aos 22 dias, ele fez o
primeiro dos 24 transplantes a que foi submetido na vida. Tivemos que
repetir tantas vezes porque as córneas novas, que são transplantadas nos
dois olhos, eram sempre rejeitadas pelo organismo", explica a mãe.
Lucas encara a sua deficiência e a rotina de cirurgias com muita
tranquilidade. "Já aconteceu de eu fazer a cirurgia em um dia e, em
menos de 24 horas, precisar fazer outra, porque meu corpo rejeitou as
novas córneas. Só que agora estou há um ano sem fazer nada, mas o meu
médico está querendo que eu faça a vigésima quinta cirurgia, para tentar
transplantar uma córnea arficial, chamada de ceratoprótese. Se for para
ajudar a minha visão, com certeza vou fazer."
O menino, além de impressionar a todos com a precisão dos seus
desenhos, ainda dá exemplo de superação. Ao ser questionado de como
lidava com a sua deficiência, ele foi enfático ao dizer.
"Eu não tenho
problema nenhum. Eu encaro muito bem a minha deficiência, não considero
que tenho um problema, apenas uma limitação. Mas, mesmo assim, vivo com
uma menino normal", finaliza.
Fonte: G1
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