Lisboa - Portugal
Querido filho Manoel Joaquim
Escrevo-te esta linha para que saibas quea mãe está viva. Vou
escrever bem devagar, pois sei que não consegues ler depressa.
Caso estejas sem tempo de escreverà mãe, manda uma carta dizendo que quandoestiveres mais tranqüilo vais mandar notícias.
Se tu viesses hoje aqui em casa não iriasreconhecer mais nada, porque mudamos.
Temos agora uma máquina de lavar roupa. Mas não trabalha muito bem.
Na semana passadapus lá 14 camisas, apertei o botão e nunca mais as vi.
Vai ver que esta marca Hydra não é das melhores.
Tua irmã Maria está grávida.Mas ainda não sabemos se vai ser
meninoou menina. Portanto,não podemos te dizer se vais ser tio
ou tia.
Teu pai arranjou um bom emprego. Tem 2300 homens abaixo dele.É o responsável pelo corte da grama do cemitério.
Quem anda sumido é teu tio Venâncio, que morreu no ano passado.
Lembra-te do teu tio Joaquim? Então... afogou-se no mês passado
num depósito de vinho. Oito compadres dele tentaram salvá-lo, mas o
tio lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado há duas semanas.Levaram oito dias para apagar o incêndio.
Os engarrafadores de refrigerante aquifinalmente tiveram a grande
idéia de colocar uma indicação na tampinha, dizendo "abra por
aqui". Facilitou-nos muito a vida. Espero que os daí façam a mesma
coisa.
Caso esteja difícil para ti, a mãe te manda algumas garrafas. Teu
irmão, João Manuel, continua o mesmo de sempre.Semana passada fechou o
carro com as chaves dentro.
Perdeu um tempão indo até a casa pegar a cópia da chave, para
poder tirar-nos todosde dentro do automóvel. Estava um calor de rachar.
Por falar em calor, o tempo aqui está muitoestranho. Esta semana só
choveu duas vezes. Na primeira vez choveu durante 3 dias e na segunda
vez choveu durante 4 dias.
Esta carta te mando através do Gabriel, que vai amanhã para
aí. A propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto?
Lembrei de uma coisa importante. Terás um problema para falar com a
mãe,caso decidas escrever-me. Não sei o endereço desta
casa nova.
A última família que morou aqui, antes de nós,também era portuguesa,
levou a placa da rua e o número da casa para não precisar
mudar de endereço.
Se encontrares Teresa, dê-lhe um alôda minha parte. Caso não a encontres, não precisas dizer nada.
Adeus. Tua mãe que te ama.Fátima Manoela da Alcova
P.S. Ia mandar-te 2000 euros,mas fica para outra vez. Já fechei o envelope.
***
Fim
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