Samanta Quadrado, 25, está investindo aos poucos em um novo relacionamento, iniciado há seis meses.
Depois de terminar um namoro de quatro anos, ela quer ir com calma. "Estamos nos conhecendo", conta. Samanta mora em São Paulo e está "ficando" com carioca Breno Viola, um dos atores do filme "Colegas", de Marcelo Galvão.
Eles se conheceram na pré-estreia do filme, no Rio de Janeiro, em setembro do ano passado. Desde então, se encontram quando é possível e conversam pelo Skype.
"Meus pais sempre apoiam meus namoros. Posso conduzir minha relação sozinha, tenho autonomia", explica. Ela trabalha como auxiliar administrativo em uma editora, frequenta grupos de apoio para pessoas com Down e tem planos de morar sozinha daqui a dois anos: "Já tive muitas conquistas, quebrei muitas barreiras. Será mais uma delas", diz.
Samanta faz parte de uma geração de pessoas com Down que cresceu mais distante do preconceito e consegue ver o futuro em condições mais igualitárias.
O avanço da medicina e o melhor conhecimento das peculiaridades da síndrome permitem que esses jovens estudem, trabalhem e se relacionem mais.
"Percebemos um aumento no número de pessoas com Down que namoram, têm uma vida social boa. Há mais esclarecimento da sociedade, as famílias permitem mais e existem mais oportunidades", afirma o geneticista Zan Mustacchi, um dos maiores especialistas na síndrome de Down no Brasil.
O nível mais aprofundado de informação sobre a síndrome reflete até na expectativa de vida, que, em 1929, era de nove anos, em média. Hoje, a previsão é de 60 anos.
"Por tudo isso, temos de pensar que eles têm direito a uma vida plena. E essa vida inclui a afetividade e sexualidade. Vejo que ainda existe resistência nas famílias em enxergar que os filhos, embora tenham uma deficiência, devem ser livres para se relacionar", diz a advogada Maria Antônia Goulart, coordenadora do Movimento Down. "Parece que, quando o filho tem uma deficiência intelectual, surge a certeza nos pais de que ele não terá vida sexual. Até pais mais progressistas negam isso".
Mas nem sempre a vida afetiva é perfeita –regra que vale para todos. Pedro Brandão Carrera, 18, sempre estudou em escola regular e se apaixonou por meninas de sua classe sem ser correspondido. Voltava de baladas sem beijar na boca, apesar de paquerar bastante. "Ele chegava em casa chateado, dizendo que não tinha ficado com ninguém", conta a mãe Ana Cláudia Brandão.
Há um ano, conheceu a namorada em um grupo de jovens com deficiência intelectual e está apaixonado. "Sou um cara romântico, preparo declarações de amor para ela", conta.
Colaboração dos pais
Ana Cláudia conta que colabora para que o namoro do filho progrida, por exemplo, levando o casal ao cinema. "Nós, os pais, não sabemos se eles veem o filme ou ficam se beijando", diz. "Eles precisam que a gente leve e busque.
Nesse ponto é mais complicado, porque os pais devem dar uma força para que o namoro dê certo. As descobertas perdem um pouco da naturalidade", afirma.
Se a evolução do namoro é monitorada, ao menos os planos podem ser feitos a dois. Pedro deseja se casar com a namorada depois que terminarem a faculdade. Ele quer ser chef de cozinha e abrir um restaurante de massas. "Adoro cozinhar e faço um macarrão ótimo".
Diferentes?
O desejo e a vontade de estar com alguém é o mesmo em todos os jovens. "Tenho um filho adolescente sem a síndrome e percebo que suas questões são as iguais às dos jovens com Down que acompanho no grupo", diz Maria Antonia.
O desenvolvimento da sexualidade ocorre na mesma época, mas nem sempre o amadurecimento emocional acompanha. "Pessoas com Down podem extrapolar e ir além de situações palpáveis, acreditando que é possível ter uma relação com quem não gosta delas ou com um artista. Acreditam nisso de forma ingênua", diz Zan Mustacchi.
Por isso, a orientação da família é fundamental, não só para evitar decepções como para diminuir riscos de abusos. "Quando o assunto não é tratado, a pessoa com Down perde o referencial. Tudo aquilo que não é dito é fantasiado e isso tende a se distanciar do que se espera no trato social", diz Goulart.
Os jovens com Down também precisam aprender sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez. As chances de concepção de um casal em que ambos têm Down é de 80%, segundo Zan Mustacchi. Quando um dos parceiros não tem a síndrome, o número cai para 50%. Homens com Down podem ser inférteis, mas não é regra. "O fato de haver mais homens com fertilidade reduzida do que férteis não quer dizer que não há possibilidade de gravidez", diz o geneticista.
Fonte: Mulher UOL
Foto: Getty Images
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