Homens que são pais em idade avançada correm maior risco de ter netos com autismo, aponta um novo estudo feito em conjunto pelo Instituto de Psiquiatria do King’s College de Londres, no Reino Unido, pelo Instituto Karolinska, na Suécia, e pelo Instituto do Cérebro de Queensland, na Austrália.
Esta é a primeira vez que uma pesquisa mostra que a probabilidade de transmitir esse transtorno do desenvolvimento se acumula ao longo de gerações.
Os resultados foram publicados na quinta-feira (21/03) na revista científica "Journal of the American Medical Association (Jama) Psychiatry".
Os pesquisadores usaram registros da população sueca e analisaram 5.936 pessoas com autismo e 30.923 indivíduos sem autismo que nasceram desde 1932. O banco de dados incluía informações sobre a idade de reprodução dos avós maternos e paternos de cada um dos analisados, além de detalhes sobre diagnósticos psiquiátricos.
Os homens que haviam gerado uma filha com 50 anos de idade ou mais apresentaram 1,79 vez mais chance de ter um neto com autismo, em comparação com aqueles que tiveram filhos entre os 20 e 24 anos. Já os pais que haviam gerado um filho do sexo masculino com 50 anos ou mais apresentaram 1,67 vez mais risco de ter um neto com a desordem.
"Tendemos a pensar em termos de 'aqui e agora' quando falamos sobre os efeitos do ambiente sobre o nosso genoma. Pela primeira vez na psiquiatria, mostramos que as escolhas do estilo de vida do seu pai e seu avô podem afetar você", diz o coautor do estudo Avi Reichenberg, do King's College, segundo nota da instituição.
De acordo com Reichenberg, isso não quer dizer que uma pessoa deva evitar filhos se o pai dela a gerou com idade avançada, pois o risco de autismo ainda é pequeno. No entanto, descoberta é importante para entender a forma complexa como o distúrbio se desenvolve.
O autismo é causado por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. De acordo com a principal autora do trabalho, Emma Frans, do Instituto Karolinska, pesquisas anteriores já apontavam que a idade paterna era um fator de risco que chega a mais que dobrar as chances de aparecimento da doença. Mas o atual estudo vai além, ao sugerir que a faixa etária do avô também seja relevante.
O mecanismo que está por trás dessa ligação ainda é desconhecido pela ciência, mas poderia ser explicado por mutações que ocorrem nos espermatozóides. Isso porque as células reprodutivas masculinas se dividem ao longo do tempo, e cada divisão no genoma enfrenta a possibilidade de novas mutações genéticas.
A maioria dessas mudanças "silenciosas", porém, não resulta em crianças autistas, mas pode influenciar o risco das gerações futuras, ao se acumular até atingir um limite em que o autismo se manifesta.
No Reino Unido, cerca de 1 em cada 100 adultos apresenta algum transtorno do espectro do autista, que atinge mais homens que mulheres.
A condição afeta as pessoas de maneiras muito diferentes: algumas são capazes de levar uma vida relativamente normal, enquanto outras exigem um apoio especializado. Indivíduos com síndrome de Asperger (um tipo de autismo), por exemplo, têm dificuldade de comunicação e relacionamento com os outros e de encontrar sentido no mundo ao redor.
Fonte: G1 / Bem Estar
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