Se você ainda acha que ter um profissional com deficiência na empresa não vale a pena, esta matéria pode contribuir para que você mude de ideia.
Isso porque o recente estudo, “O valor que os colaboradores com síndrome de Down podem agregar às organizações”, desenvolvido pelo Instituto Alana, junto com a McKinsey & Company, mostra que a inclusão de pessoas com síndrome de Down nas empresas pode agregar valor à “saúde organizacional”, conceito muito difundido, atualmente, no mercado empresarial, que pode ter relação direta com um bom desempenho das empresas.
Mais que isso, a inclusão de pessoas com síndrome de Down no mercado de trabalho é benéfica para
ambos os lados.
Ao trabalhar, essas pessoas têm a chance de ter mais
qualidade de vida, com o aprimoramento de relações sociais, aprendizados
e mais autonomia.
Por outro lado, a empresa ganha em saúde
organizacional, que é a habilidade de uma organização alinhar-se,
executar e renovar-se mais rapidamente que seus concorrentes, para
sustentar um desempenho excepcional ao longo do tempo.
Dentro deste tema de saúde organizacional, os impactos positivos, no geral, mais lembrados pelas empresas pesquisadas são:
- liderança;
- orientação externa (através do impacto positivo na satisfação do cliente);
- cultura e clima;
- motivação;
- coordenação e controle.
- orientação externa (através do impacto positivo na satisfação do cliente);
- cultura e clima;
- motivação;
- coordenação e controle.
Impactos
Um dos impactos positivos mais lembrados pelos entrevistados foi quanto à liderança.
A presença de colaboradores com síndrome de Down provocou,
principalmente, nos gestores diretos, o desenvolvimento da virtude da paciência e tolerância.
“Isso acontece porque a pessoa com síndrome de Down traz demandas
diferentes das dos outros funcionários. Os depoimentos colhidos pela
McKinsey durante o estudo indicam que os gerentes começaram a
desenvolver mais a tolerância aos momentos individuais dos funcionários e
a enxergar mais claramente as capacidades individuais de cada um. Com
isto, passaram a liderar de uma maneira mais participativa, em especial
quando o modelo anterior era autoritário. Essa mudança beneficia todos
da equipe, inclusive os funcionários sem a síndrome”, explica Cláudia
Moreira, responsável pelo Projeto Outro Olhar, braço do Instituto Alana
cujo objetivo é sensibilizar a sociedade para que ela perceba as pessoas
com Síndrome de Down.
Na pesquisa, das mais de 800 pessoas entrevistadas que trabalham em
locais com pessoas com síndrome de Down, de forma agregada, 83%
acreditam que a presença de uma pessoa com a síndrome faz com que o
líder direto se torne mais apto a resolver e administrar conflitos,
contribuindo de forma positiva para o desenvolvimento das pessoas.
Por
meio de situações inusitadas provocadas por esses novos colaboradores,
como fazer perguntas ao gerente no meio de um atendimento, os líderes
adquiriram uma resiliência que não possuíam.
Quando a pesquisa avaliou a questão “orientação externa”, que está relacionada à percepção e à satisfação do cliente,
a maneira direta e simples de se comunicar, e a típica empatia desses
funcionários com síndrome de Down parecem ser muito apreciadas pelo
público.
O estudo também notou que houve um grande impacto na motivação dos
colaboradores.
“O colaborador percebe que, apesar das dificuldades
individuais, os funcionários com a síndrome demonstram um
comprometimento e seriedade que superam as expectativas de muitos. Eles
inspiram os colegas de trabalho a desafiar os próprios limites por meio
do exemplo”, aponta Cláudia.
Além disso, foi constatado também que a
presença de pessoas com síndrome de Down no ambiente de trabalho
proporciona um impacto positivo na dimensão cultura e clima da
organização, ao propiciarem um ambiente mais unido e colaborativo.
Desafios
O mercado de trabalho para pessoas com deficiência é repleto de barreiras para
ambos os lados.
O contratante reclama da falta de preparo e
qualificação dos trabalhadores, e dos possíveis custos com a adaptação
da empresa para atender às necessidades das pessoas com deficiência. Do
outro lado, estão as pessoas com deficiência, que enfrentam obstáculos
de todos os tipos – mesmo aquelas que possuem qualificação profissional.
No caso das pessoas com deficiência intelectual, os
desafios são um pouco maiores e mais complexos. Em geral, por
apresentarem restrições relacionadas ao raciocínio lógico, memória e
comunicação, esse público exige um maior preparo e acompanhamento por
parte da empresa.
O que acontece é que as empresas acabam preferindo
trabalhadores com deficiência física ou sensorial.
Outro desafio é fazer com que as empresas não busquem a contratação de pessoas com deficiência apenas para atender à Lei de Cotas.
Essa pesquisa veio acrescentar um novo e importante argumento para
incentivar a contratação de pessoas com deficiência, agora focado no
real valor que essas pessoas podem agregar às organizações.
Para auxiliar as empresas neste processo de inclusão, Cláudia traz
algumas sugestões, todas envolvendo diretamente uma mudança inicial da
cultura da empresa.
“Em princípio, a empresa deve ter clareza dos
desafios que devem ser considerados, como, por exemplo, aprender a lidar
com as características individuais de uma pessoa com síndrome de Down.
Ao longo deste processo, sugerimos que um programa seja desenvolvido
para maximizar os resultados, e isso pode ser elaborado internamente ou
com o apoio de uma consultoria terceirizada”, explica.
Em resumo, o material coletado pelo estudo – que ouviu mais de 20
líderes de RH de empresas nacionais e estrangeiras, além de diretores de
instituições de apoio a pessoas com deficiência intelectual no Brasil,
EUA, Canadá e Europa, e mais de 800 profissionais que convivem com
pessoas com síndrome de Down no ambiente de trabalho – oferece novos
argumentos para mostrar que a inclusão de pessoas com síndrome de Down
no mercado de trabalho vale a pena, apesar de todas as dificuldades e
preconceitos.
“Assim como todas as pessoas, os indivíduos com síndrome de Down têm
potenciais e capacidades únicas, que podem e devem ser utilizados. Em
muitos casos, devem ainda ser descobertos.Com esta pesquisa, a
sociedade pode começar a se conscientizar de que estes indivíduos têm
direitos e que podem começar a arcar com os seus deveres, desde que a
oportunidade de fazê-lo lhes seja dada. O que nós estamos propondo é que
enxerguemos o indivíduo antes e o diagnóstico depois. Que possamos dar a
oportunidade para este ser humano que, sim, tem uma síndrome, e também é
capaz de surpreender pela capacidade transformadora que lhe é
inerente”, argumenta Cláudia.
Fonte: Vida Mais Livre
Reportagem: Daniel Limas
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