Mãe do adolescente com síndrome de Down Geanderson
Ferreira da Silva, de 13 anos, Silvana Ozelia costuma dizer ao filho que
ele precisa ter responsabilidade e saber se virar.
"Falo que ele logo
se tornará um adulto e que não estarei aqui para sempre. Por isso, é ele
quem faz algumas tarefas da casa, como guardar a louça e arrumar a
cama", diz ela.
Silvana não infantiliza o filho e faz com que ele
participe dos afazeres cotidianos para desenvolver autonomia.
No
entanto, muitos pais de adolescentes com Down acabam não tendo esse
comportamento.
"Ainda existe a visão de que a pessoa com deficiência intelectual é uma
eterna criança, e isso não é verdade. O incentivo para participar do
cotidiano deve começar desde criança", afirma a pediatra Ana Cláudia
Brandão, coordenadora do Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao
Adolescente com Síndrome de Down do Hospital Israelita Albert Einstein,
em São Paulo.
A infantilização, geralmente, é consequência da superproteção. "Muitas
vezes, não por não confiar no filho, mas por não confiar na sociedade,
os pais o protegem demais", diz a psicóloga Edinete Sousa, do Serviço do
Apoio Socioeducativo da Apae (Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais) de São Paulo.
Segundo ela, é comum que os adultos não
saibam lidar com os desejos do jovem com Down e acabem reprimindo-o e
prejudicando seu desenvolvimento.
Além de aprender a lidar com os novos anseios do filho, os pais também
precisam saber que, como todo adolescente, ele também apresentará uma
mudança de temperamento, mostrando-se mais rebelde e contestador.
"Os
picos hormonais acontecem da mesma forma, tornando-o mais teimoso e
questionador, e é preciso mais jogo de cintura por parte dos
responsáveis", afirma Ana Cláudia.
Amizades e namoros
Geanderson adora festas, principalmente aquelas nas quais pode dançar
forró. Ele já mostra interesse por meninas e diz para a mãe que quer uma
namorada, mas Silvana acha que ele é muito novo.
"Ele fará 14 anos em
outubro, mas, para essas coisas, sempre achamos que nossos filhos são
bebês."
Ter bons amigos e sentir que faz parte de um grupo é fundamental para
todo jovem, principalmente no período da adolescência.
"Todos passamos
por uma fase na qual precisamos procurar alguém que curte o que a gente
curte, veste o que a gente veste", diz o geneticista e pediatra Zan
Mustacchi, responsável pelo Departamento de Genética Médica do Hospital
Estadual Infantil Darcy Vargas, também na capital paulista, e
especialista em síndrome de Down.
Por isso, a família deve, não só permitir, mas também criar condições
para que o jovem faça amizades.
"A família tem de levar o adolescente a
festas, permitir viagens com a escola e outras situações nas quais há
alguém responsável por observar e dar um suporte, caso seja necessário. Os pais te que acreditar que ele cresceu e pode se virar", afirma a
coordenadora do Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao
Adolescente com Síndrome de Down do Einstein.
Para ter essa confiança, o principal é estabelecer um diálogo com o
adolescente.
"O filho precisa confiar nos pais para poder contar as
coisas que acontecem quando a família não está por perto, incluindo
casos de bullying, situação a qual o jovem com Down acaba ficando mais
vulnerável", fala Edinete.
Além da escola, os locais que o adolescente com Down costuma
frequentar, como clínicas de fonoaudiologia ou fisioterapia, também são
possibilidades para que novas amizades surjam.
"Muitos acabam tendo uma
turma de amigos que também têm a síndrome. Isso não é fundamental, mas é
legal que alguém no grupo também tenha. Isso vai permitir que ele
descubra melhor sua sexualidade", diz Ana Cláudia.
"É bom que ele tenha
alguém com quem possa ficar, namorar, e, geralmente, isso acontece com
outra pessoa com Down. Ele precisa passar por isso, como todos os
adolescentes."
E, nessa fase, o jovem certamente terá vontade de sair sozinho com
amigos ou com o namorado.
Segundo os especialistas, isso pode e deve
acontecer, mas é preciso uma preparação gradual, que deve se iniciar na
infância.
"Deve haver um treinamento, um ensino passo a passo para que
ele pegue um ônibus sozinho, para que vá ao cinema.
No começo, você vai
junto e compra o ingresso. Depois, dá o dinheiro e o observa comprar. Só
então vai deixá-lo na porta do shopping sozinho", fala Ana Cláudia.
Para Zan Mustacchi, é importante que, ao sair sozinho, o jovem tenha um
celular para que os pais possam ligar às vezes e acompanhar o que ele
está fazendo.
"Todo casal quer privacidade, quer ir ao parque, ao
cinema, a um restaurante. Ele tem esse direito, mas é preciso garantir
que tudo seja feito de maneira segura", diz.
Por isso, ele também
recomenda que os pais não estejam em bairros distantes quando o filho
for passear, pois, caso ele precise, eles conseguem rapidamente ir a seu
encontro.
Educação sexual
De acordo com Ana Cláudia, é importante que os adultos conversem de
forma transparente sobre sexo com os filhos.
"Se a conversa ficar nas
entrelinhas, a mensagem não será captada. Ele precisa de exemplos, saber
claramente o que se faz com a namorada, mas não com uma amiga", diz
ela.
"Há o estereótipo de que a pessoa com Down tem a sexualidade
exacerbada. Não é verdade. Isso só acontece quando há má orientação",
afirma Ana Cláudia.
Para explicar sobre sexualidade, a melhor maneira é contar com o
auxílio de imagens.
"É importante expor as particularidades de cada
sexo, mostrar bonecos que o façam entender as diferenças entre o corpo
de um homem e de uma criança", diz Mustacchi.
E, claro, a conversa sobre
DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e a necessidade do uso da
camisinha não pode ser deixada de lado.
De acordo com a psicóloga Edinete, do Serviço do Apoio Socioeducativo
da Apae de São Paulo, a educação afetiva e sexual é fundamental para que
haja inclusão social do jovem com Down.
Ana Cláudia, do Einstein, afirma que as conversas ajudam o adolescente a
amadurecer.
"Quanto maior a autonomia e o poder de escolha do jovem em
todas as áreas da vida, mais bem resolvido ele será quando adulto",
afirma.
Fontes: UOL / Vida Mais Livre
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