Em 2010, um acidente de carro mudou a vida de Francisco Elione de
Sousa, então com 26 anos.
Jovem, desatento, estava bêbado ao volante. Da
noite para o dia, "desaprendeu a andar", como ele próprio relembra.
Teve a perna esquerda amputada e passou a usar muletas. Mas essa foi
apenas uma das mudanças pelas quais passou nos últimos quatro anos.
Neste domingo (16), na Ilha do Mosqueiro, em Belém, o cearense completou
mais uma prova de triatlo. Mais uma de muletas.
A porta de entrada para o triatlo foi a natação, para "reaprender a
andar com as muletas", relembra.
No triatlo, inclusive, é dentro da água
que Elione se sente mais à vontade. No ciclismo, o esforço recai todo
sobre a perna direita. Na corrida, as muletas funcionam como uma
extensão metálica da perna esquerda, mas os ombros são os que mais
sofrem. Mas não pense que ele reclama.
- Antes do acidente eu não praticava nada de esportes. Acho que o
acidente me deu uma oportunidade de ver a vida com outros olhos. Hoje
faço tudo isso com muita realização - afirmou Elione.
Antes de a reportagem conseguir falar com o atleta, logo após a chegada
da quinta etapa do circuito nacional de triatlo, vários foram os que o
cumprimentaram.
Palavras de reconhecimento, incentivo, eram as mais
ouvidas. "Você é um exemplo para mim", dizia um, ou "nunca mais vou
reclamar por qualquer coisa", dizia outro.
- Gratificante demais poder servir como exemplo para tanta gente. É algo que motiva bastante - pontuou.
"Sou um paratleta"
Elione começou na natação, mas se apaixonou pelo triatlo. Nele, teve a
chance de rever sua vida e, de quebra, ganhou uma segunda família.
Ele
participa do projeto da Federação de Triatlo cearense, que levou 47
jovens para Belém, para a quinta etapa do circuito nacional de triatlo.
O
grupo, que enfrentou 16 horas de "prego" no ônibus para ir de Fortaleza
a Belém, teve outra dificuldade no percurso entre Belém e a Ilha do
Mosqueiro, local da prova. O motorista se perdeu e acabou indo parar em
outra localidade.
- Atrasamos a prova do pessoal todo em meia hora. Foi horrível. A gente
achou que ia perder a prova. Era gente tirando a bicicleta de dentro do
ônibus e colocando o pneu às pressas.
Chegamos quando faltavam cinco
minutos. Não vimos balizamento, não vimos boias, não concentramos... mas
levantamos a cabeça e fomos lá.
No paratriatlo, há cinco categorias. Do PT1 (cadeirantes), ao PT5.
Elione compete pela categoria PT2, para amputados acima do joelho.
No
circuito do Sesc, para promover a inclusão, as cinco categorias disputam
a mesma prova. O resultado? Pouco importa.
Em Fortaleza, Elione
explicou que participa de todas as corridas de rua como forma de
incentivo aos que estão começando.
Quer estímulo maior que esse?
- Trabalhava como vigilante, mas estou afastado do trabalho enquanto
consigo uma prótese. Por enquanto estou me dedicando somente ao esporte.
Agora eu sou um paratleta - encerrou, com um orgulho que não cabia no
largo sorriso estampado no rosto.
Fonte: Globo Esporte / Vida Mais Livre
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