Em uma campanha histórica, a melhor já alcançada por um país em edições dos Jogos Parapan - Americanos, o Brasil faturou 31 medalhas no tênis de mesa em Toronto.
Foram 15 ouros, 10 pratas e seis bronzes para colocar a
delegação na liderança do quadro da modalidade.
A bandeira verde e
amarela e o Hino Nacional foram presença garantida até o último dia das
disputas no Centro Markham. Nesta quinta-feira (13.08), os mesatenistas
brasileiros levaram três ouros e uma prata.
Foi por pouco que Maria Luiza Passos, de 64 anos, não realizou o grande
sonho.
A prata, conquistada ao lado de Joyce Oliveira na disputa por
equipes da classe 4/5, foi o sétimo pódio da mesatenista em edições do
Parapan: três pratas e três bronzes somando as participações em Santo
Domingo-2003, Rio-2007 e Guadalajara-2011.
Na final desta quinta, contra
as mexicanas Maria Paredes e Martha Verdin, as brasileiras foram
derrotadas por 2 x 1.
“A Joyce mora em Brasília e eu, em Curitiba. Então cada uma treinou na sua cidade. Só nós encontramos e treinamos aqui”, afirma Maria Luiza.
Sem se preocupar com a idade, ela avisa: não pretende parar tão cedo.
“Vou continuar treinando e viajando.
Não vou parar, até porque tenho uma neta de 14 anos que é classe 10, porque nasceu com má formação no braço, e ela já está jogando. Quero dar esse apoio para ela”, conta a avó mesatenista.
Parceira de Maria Luiza, Joyce teve um grande obstáculo no Parapan. “Eu
tenho uma haste na coluna, e um parafuso está fora do lugar. Tenho que
fazer uma cirurgia, estou sentindo essa dor há quatro meses. Nos Abertos
da Eslovênia e da Eslováquia (em maio), nem consegui jogar de dor.
Fiquei dois meses parada e treinei só um mês para estar aqui”, diz a
jovem de 25 anos, que chegou a adiar o procedimento para competir no
Canadá e carimbar a vaga para os Jogos de 2016.
“A gente queria o ouro (na equipe), mas eu nem esperava chegar à final porque estou com muita dor”, admite.
O esforço foi recompensado com o ouro no individual na última
segunda-feira (10) e a garantia de estar no Rio de Janeiro no ano que
vem.
“Na minha classe vão 12 atletas, e estou em nono no ranking
mundial. Estava ‘na trave’ e poderia ser passada por qualquer bobeira.
Então o objetivo era ganhar aqui para fazer a cirurgia e voltar em
janeiro com tudo perfeito e treinando firme”, adianta a atleta, que tem
uma das histórias mais impressionantes da delegação brasileira.
Em 2002, Joyce estava em um ponto de ônibus quando a estrutura desabou
sobre ela, deixando a jovem paraplégica.
“Pensei em desistir de tudo,
tinha vergonha de sair de casa. Quando conheci o esporte, em 2005, vi
que não era a única deficiente”, recorda a paulista, que entrou no tênis
de mesa depois de usar o esporte como reabilitação durante o tratamento
em Brasília.
A jogadora deixa as mesas de Toronto sem ser perder sequer
um set nas partidas individuais.
Festa em família
Luiz Filipe Manara e Paulo Salmin também garantiram a participação nos
Jogos Paralímpicos de 2016.
Na final por equipes da classe 6/8, os
brasileiros venceram os canadenses Ian Kent e Masoud Mojtahed por 2 x 0
após uma disputa eletrizante. “Foi muito emocionante.
A gente sabia que
enfrentar o Canadá seria nosso principal desafio, mas a gente queria ter
essa emoção do jogo disputado e com torcida.
Isso valorizou o
espetáculo e a nossa medalha de ouro”, avalia Manara, que contou com
apoio especial nas arquibancadas.
A mãe, Eliana, o pai, Luiz Carlos, e o irmão, Luiz Carlos Júnior,
viajaram pela primeira vez ao exterior para acompanhar uma competição de
Luiz Filipe.
“Meu pai tem um jeito peculiar de torcer porque sempre
grita muito. A família dá uma força diferente, ajudou bastante”,
diverte-se o jogador.
“Passamos por muitas dificuldades por causa da deficiência, então as duas medalhas de ouro são para eles”, acrescenta o jovem de 23 anos, que também foi campeão individual.
Emocionado, o pai Luiz Carlos já estava praticamente sem voz ao fim da manhã. “Eu acompanho desde o começo e incentivei bastante para chegar até aqui. Com um puxando e outro colaborando na mesa, a gente faz uma torcida bem maior”, comenta.
“Onde vamos, deixamos a nossa marca e, graças a Deus, ele deixa a dele, sempre com a medalha de ouro no peito”, elogia.
Abraçada ao filho, Eliana ainda respirava com certo alívio. “Eu só não infartei porque não tenho problema de coração”, brincou.
Próximas metas
Também com dois ouros e a vaga paralímpica, Paulo Salmin acredita que a seleção brasileira chegará ainda mais forte aos Jogos do Rio.
“A gente vem em uma evolução mês após mês e, chegando em casa, já vamos traçar metas para o melhor chaveamento em 2016”, explica.
As outras medalhas de ouro desta quinta foram conquistadas por Claudio Massad e Carlos Carbinatti, que derrotaram os norte-americanos Lim Ming Chui e Tahl Leibovitz por 2 x 0 na final da classe 9/10, e por David Andrade e Welder Knaf, que venceram os mexicanos Jesus Sanchez e Jesus Salgueiro, também por 2 x 0.
“O sentimento é de missão cumprida. Trabalhamos duro para isso, então merecemos viver esse momento”, resume Massad.
“Quando tem investimento nas modalidades e um trabalho bem feito, o resultado é esse”, aponta o atleta.
Em 2013, um convênio firmado entre a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) e o Ministério do Esporte, no valor de R$ 2,3 milhões, permitiu a estruturação de dois centros de treinamento paralímpicos para a modalidade.
O local destinado a atletas cadeirantes fica em Brasília (DF), enquanto o de andantes é em Piracicaba (SP). Além disso, os recursos permitiram a aquisição de equipamentos de ponta e a formação de uma equipe multidisciplinar.
A modalidade conta ainda com 110 contemplados atualmente pela Bolsa-Atleta (investimento de R$ 1,8 milhão), segundo a lista de 2015, e com cinco pela Bolsa Pódio (R$ 816 mil).
“O Ministério do Esporte sempre acreditou no tênis de mesa, tanto olímpico quanto paralímpico, e está nos dando condições ideais de trabalho”, afirma o presidente da CBTM, Alaor Azevedo, radiante com as conquistas no Canadá.
“Nós estabelecemos uma meta de 15 medalhas de ouro e conseguimos exatamente isso. E isso com uma renovação importante, já que mais de 50% da equipe não estava em Guadalajara. É um resultado que nos anima muito para futuros títulos. A campanha foi irretocável”, define.
Para os Jogos Paralímpicos Rio 2016, a meta brasileira é conquistar ao menos três medalhas.
O tênis de mesa brasileiro deixa Toronto superando a marca das 27 medalhas de Santo Domingo, em 2003, e com vagas garantidas em 2016 para os dez brasileiros medalhistas de ouro individuais. Outras vagas podem ser conquistadas por meio do ranking mundial.
A equipe participa em setembro de um treinamento na Inglaterra antes de disputar o Aberto da República Tcheca.
Fonte: Ministério do Esporte
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