Em pouco mais de 24 horas, a espanhola Lidia García Villar, 34, deixou
de levar uma vida normal e passou a depender de alguém para tudo.
"Me
davam banho, me vestiam, me alimentavam", diz, lembrando o período
logo após o diagnóstico, há apenas nove meses. "Você se sente super
vulnerável", confessa.
Sua filha, de 19 meses, não entendia o que estava acontecendo com a
mãe, já que do dia para a noite ela não mais podia carregá-la, brincar
com ela ou levá-la para o parque.
Tudo começou numa tarde de outubro, quando estava na casa de sua
família, na Galícia, Espanha. Lidia conta que perdeu a força nas mãos.
No começo, ela conta não ter dado muita importância ao fato, mas com o
passar das horas descobriu que a sensação foi ficando cada vez mais
forte.
Um dos primeiros sinais, lembra Lidia, foi não conseguir abrir e fechar
a presilha do cabelo da filha.
"Depois senti os meus pés pesados",
afirma. Mas Lidia tinha dificuldades para explicar à sua família o que
sentia.
"Era difícil contar o que estava acontecendo. Ninguém me viu
chorar, porque não sentia dor; é uma sensação que você mesma acha que
não tem importância. Mas eu dizia a eles: 'Isso não é normal; aconteceu
algo comigo'".
Na manhã seguinte, ela já não conseguia usar as mãos. "Eu não podia
abrir uma porta, tomar banho ou me vestir".
Quando se deu conta de que
os movimentos de seu corpo estavam prejudicados, Lidia decidiu ir ao
hospital e, ao se consultar com uma neurologista, um dia e meio após os
primeiros sintomas, conta que não conseguia mais se levantar sozinha.
Tampouco tinha reflexos involuntários.
"Em poucas horas, meus músculos
estavam completamente atrofiados".
Lidia, que trabalha como enfermeira no setor de emergência de um
hospital em Madri, reconhece ter sentido algum alívio ao ter o
diagnóstico confirmado: ela sofria da rara síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune que afeta uma a cada 100 mil pessoas no mundo.
Surpreendentemente, porém, apesar do efeito explosivo, a maioria dos
pacientes que sofre dessa rara doença consegue se recuperar depois de um
ano.
No entanto, não sem antes passar por um intenso e diário
tratamento de reabilitação, com inúmeras sessões de fisioterapia e
terapia ocupacional.
"Levei dois meses para perceber o quão lenta, dura e pesada seria a
minha recuperação", confessa. "Houve semanas que não via nenhuma
melhora".
Lidia conta ter levado um mês para se levantar sozinha. Eventualmente,
contabilizava pequenos progressos: "Voltei a caminhar com ajuda", lembra
ela.
"Não era capaz de tomar banho sozinha, mas conseguia me lavar aos
poucos", diz. "Conseguia colocar as calças, mas precisava de ajuda para
abotoá-las".
Hoje, Lidia tem poucas sequelas da síndrome que mudou sua vida, mas
ainda precisa das sessões diárias para recuperar todos os movimentos.
"Ainda não consegui recuperar totalmente a sensibilidade das mãos",
explica ela.
Ter de volta os movimentos significaria voltar a exercer uma de suas
paixões: ser enfermeira.
Atividades diárias, como colocar o sutiã,
escrever, abotoar roupas ou cortar alimentos para cozinhar continuam
sendo um desafio. Tampouco Lidia consegue correr, ficar na ponta dos pés
ou andar de salto alto.
Mas Lidia diz ser otimista e acredita que sua atitude positiva vem
contribuindo para sua recuperação.Ela fica emocionada quando questionada
sobre como a doença mudou o modo como encara a vida.
"Embora soe como
um clichê, a doença mudou o modo como eu encaro minha vida. Agora dou
valor a coisas pequenas, como sair para tomar um café, fazer compras ou
levar a minha filha para o parque.".
"E espero que, se conseguir me
recuperar 100%, não perca a capacidade de continuar a apreciar as
pequenas coisas".
Fontes: UOL / Vida Mais Livre
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