18 de ago. de 2015

Guia Alimentar propõe novo olhar sobre a alimentação

 


Quebrar paradigmas e propôr uma nova maneira de se relacionar com a alimentação é a proposta do novo Guia para a População Brasileira, uma parceria do Ministério da Saúde com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, localizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.


Em sua segunda edição, o Guia busca inovar e se atualizar em relação ao primeiro, lançado em 2006 — sem a participação do Nupens —, fazendo uma ampla análise da alimentação do brasileiro. 


Além da parte nutricional, levou-se em conta questões culturais, sociais e até ambientais, inovando no conceito de guia alimentar e explorando os alimentos além dos seus nutrientes.


Uma das principais propostas do novo guia é mudar o conceito de alimentos como “carregadores de nutrientes”, pois não é o suficiente para explicar toda a relação entre comer — e seus desfechos para a saúde da população. 


Segundo a nutricionista Maria Laura Louzada, pesquisadora do Nupens e participante na elaboração do Guia, um alimento não é só uma soma de nutrientes: “A maioria dos guias recomenda: coma mais vitamina C, mas uma laranja não é só vitamina C”, exemplifica. 


Ela cita também que, com a Revolução Industrial, tentou-se formular alimentos artificiais baseados em soma de nutrientes existentes em produtos naturais, sem sucesso. 


Com base nessa complexidade de nutrientes e de suas relações nos alimentos, buscou-se no livro uma mudança na proposta de uma alimentação mais saudável.

 

Muito além da comida
 


O novo guia também relaciona a alimentação com questões culturais e sociais, focado na própria população brasileira. 


Foi estudado um inquérito do IBGE, que analisou o comportamento alimentar de mais de 30 milhões de brasileiros, de várias regiões e classes de renda, para tentar relacionar o que as pessoas já comem com o ideal. 


Percebeu-se que muitas pessoas já têm uma alimentação saudável e balanceada. 


O livro foca em refeições ideais baseadas na realidade cultural do País, diversificando os tipos de alimentos e citando pratos regionais, como pão de queijo e tapioca, para abranger o maior número de pessoas possível e ser tangível à realidade da população.


Indo além da questão do alimento em si, o livro também trata da alimentação como uma simbologia, que vai desde o que se come até o local, as companhias e questões sociais. 


O guia recomenda que se coma em um lugar adequado e especial para tal (evitando o chamado mindless eating, que seria, de acordo com Maria Laura, uma alimentação sem foco e que acaba sendo excessiva, sem a percepção de quem come). 


Além disso, alimentar-se preferencialmente em companhia e cozinhando os alimentos (evitando os chamados “alimentos ultraprocessados”) é considerada a melhor opção. 


O ato de preparar os alimentos envolve questões históricas e de gênero, da estigmatização da mulher na cozinha e de sua maior entrada no mercado de trabalho, além da imagem negativa do ato de se cozinhar: “a culinária só vai funcionar se ela for resignificada, se parar de ser um fardo e uma obrigação e for uma atividade de prazer e divertimento, partilhada entre todos os moradores da casa”, cita a pesquisadora.


O novo Guia, ao buscar representar o brasileiro em sua pluralidade, aborda desde questões culturais e sociais até a relação entre o que está no prato e o meio ambiente: “alimentação não é só comer”, reforça Maria Laura. 


Evitar comer alimentos chamados “ultraprocessados”, que geram maior impacto ambiental, e consumir mais produtos in natura, especialmente vegetais orgânicos, são recomendações citadas pela doutoranda. 


Veja abaixo o infográfico resume os quatro tipos de alimentos abordados no Guia, com suas especificações e consumo recomendados.





Os alimentos com produção agroecológica — que valoriza o trabalhador do campo e a agricultura policultora e familiar — também devem ser priorizados. 


Não obstante, o livro também relaciona a alimentação com políticas públicas, que vai desde transporte urbano (uma pessoa que demora muito para se locomover muitas vezes não tem disposição para cozinhar e acaba prejudicando a qualidade de sua alimentação), até custo de alimentos e concessão de subsídios agrícolas, envolvendo o agribussiness, a monocultura exportadora e o lobby de semestres geneticamente modificadas.


Abordando as mais diversas áreas do conhecimento, com estudos não tradicionais, populacionais e com observações de evolução histórica e de saberes populares, o novo Guia Alimentar para a População Brasileira procura unir toda a heterogeneidade do País, baseando-se em oficinas com estudiosos das mais diversas áreas da saúde e de outros campos do conhecimento e contando com o apoio de jornalistas para criar uma linguagem mais acessível ao público em geral. 


Com traduções em inglês e espanhol, outros países podem se inspirar nessa nova proposta e abordagem da alimentação de um país, principalmente para a América Latina, com raízes históricas, culturais e sociais semelhantes às brasileiras.


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