Por muito tempo visto apenas como uma forma de inclusão, o paradesporto brasileiro mostra agora que já se firmou também no cenário do alto rendimento. 


Não há espaço para “café com leite”, a delegação brasileira conta com investimento substancioso, atletas profissionais que vivem do esporte e colhe resultados cada vez mais expressivos.


No Parapan de Toronto, encerrado no fim de semana, foram 257 medalhas, sendo 109 delas de ouro. A melhor campanha havia acontecido no Rio-2007, com 228 pódios e 83 ouros. 


O Brasil terminou na primeira colocação no quadro geral de medalhas —como no Pan, os EUA não enviam sua força máxima. Nos Jogos de Londres-2012, a delegação ficou em sétimo, com 43 medalhas.


O principal destaque da delegação foi o nadador Daniel Dias, com oito vitórias nas oito provas que disputou. O atleta soma dez primeiros lugares nos Jogos de Pequim-2008 e Londres-2012 e já ganhou duas vezes o Prêmio Laureus, o Oscar do esporte. Não à toa, é chamado de Michael Phelps paraolímpico.


O paradesporto brasileiro está longe de receber tanto dinheiro quanto o esporte olímpico, mas tem sabido aproveitar essa verba e batalhado por mais, com sucesso. 


O Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) recebe 15% das verbas da loteria destinadas ao esporte —os outros 85% vão para o COB. Mas deve receber mais a partir de 2016. 


Uma nova regra deve aumentar de 2% para 2,7% o percentual de repasse de dinheiro das loterias para o esporte. O CPB ficará com toda a diferença.


No ano passado, orçamento do CPB foi de R$ 82 milhões, valor que deve mais do que dobrar com o novo vontade de repasse.


A entidade ainda tem convênios com o Ministério do Esporte, o governo de São Paulo, a prefeitura do Rio e patrocínio da Caixa para diversas modalidades.


De olho na debandada de apoios que costuma acontecer após grandes eventos, o CPB levou empresas parceiras dos Jogos Olímpicos a Toronto para acompanharem o Parapan. 


A ideia é tentar seduzi-las a continuar a apoiar o paradesporto mesmo após a Rio-2016.

Some-se a um comitê com boa verba atletas que recebem recursos do Bolsa-Atleta para competir. Em Toronto, eram 181 beneficiados, 69 deles com valores de R$ 5 mil a R$ 10 mil. O Brasil levou 272 pessoas ao Canadá.


Esse apoio permite que os paratletas se dediquem apenas ao esporte, driblando também o problema de inclusão dos deficientes no mercado de trabalho. Dados do IBGE mostram que cerca de 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência. 


Essas pessoas, no entanto, ocupam apenas 0,7% das vagas de emprego no país.


No Parapan de Toronto, cerca de 30% dos competidores haviam sido vítimas de acidentes de carro ou problemas na gestação e nascimento. O esporte é a chance de encontrarem uma forma de sustento e de realização.


Com uma base grande disponível para se procurar talentos, dinheiro para investir na preparação e na remuneração dos atletas, o Brasil se firmou com uma força do paradesporte


As iniciativas de inclusão, os trabalhos sociais e de recuperação dos deficientes continuam acontecendo e são importantes. 


O esporte é uma potente ferramenta. Mas para algumas centenas de deficientes, é mais do que isso, é profissão e os coloca entre os melhores do mundo.



Fonte: Carta Capital