Os pesquisadores do Centro de Terapia Celular da USP registraram a
patente, junto ao governo brasileiro, de uma nova plataforma para a
produção do fator VII recombinante.
Esta tecnologia é fundamental aos
pacientes hemofílicos A e B que apresentam rejeição as alternativas
utilizadas para substituir os fatores naturais da coagulação,
responsáveis por estancar as hemorragias quando ocorre o rompimento de
vasos sanguíneos.
O Fator VII recombinante (rFVIIa) faz parte da Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais (RENAME) do Ministério da Saúde desde 1999.
Em função do elevado custo, já que o medicamento é importado, o órgão
tem adquirido o rFVIIa apenas para os pacientes que apresentam
inibidores de alto grau, que não respondem ao uso de derivados do plasma
ou para aqueles pacientes com reação alérgica grave (com risco de
morte).
O produto desenvolvido em parceria com a Fundação Hemocentro de
Ribeirão Preto é livre de potenciais viroses de doadores humanos, pois é
criado em laboratório, apresenta menor custo de produção e menos riscos
de anticorpos inibidores que fazem o organismo produzir defesas.
O diferencial é o uso de células humanas para produzir uma proteína
mais semelhante a existente no corpo humano. Atualmente, o produto
distribuído no País é desenvolvido a partir de células de Hamsters.
A pesquisa foi apresentada pela doutora Marcela Cristina Corrêa de Freitas, na tese Clonagem e expressão do fator VII de coagulação sanguínea em linhagens celulares humanas, orientada pelo professor Dimas Tadeu Covas, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
O trabalho apontou a produção de fator VII em três linhagens
celulares humanas nunca antes utilizadas para a expressão dessa proteína
recombinante (HepG2, Sk-Hep-1 e HKB-11).
Estas linhagens mostraram mais
proteína recombinante quando comparada com a célula murina controle
(BHK-21).
Tratamento de sangramentos
O hemofílico apresenta baixa atividade do fator VIII ou fator IX.
Pessoas com deficiência de atividade do Fator VIII possuem hemofilia A,
enquanto aquelas com deficiência de atividade do Fator IX possuem
hemofilia B.
Os dois tipos da doença apresentam muitas similaridades, como
frequentes episódios de sangramento, na maioria das vezes em regiões da
pele, musculoesquelético e em tecidos moles.
Além disso, o rFVIIa é
recomendado para o tratamento de sangramentos espontâneos e ou
cirúrgicos críticos, bem como em portadores de outras doenças como
deficiência de fator VII e trombastenia de Glanzmann (síndrome
hemorrágica caracterizada por déficit de agregação plaquetária).
Dados do Ministério da Saúde (Coordenação Geral de Sangue e
Hemoderivados: Hemovida Web – Coagulopatias de 2009), apontam que 10%
dos pacientes com hemofilia A severa desenvolvem anticorpos inibidores
contra o FVIII. Dentre os hemofílicos B, a incidência de inibidores de
FIX é mais baixa, cerca de 3%.
A hemofilia A é a mais comum entre as doenças relacionadas à
coagulação do sangue, com uma incidência de aproximadamente 1 em cada 5
mil homens e, atualmente, afeta aproximadamente 400 mil pessoas no
mundo. A hemofilia B é uma doença hereditária, também associada ao
cromossomo X, e tem uma incidência de 1 em cada 30 mil homens.
Segundo a a doutora Marcela Freitas, muitos esforços têm sido
realizados na tentativa de encontrar um tratamento efetivo, independente
da presença de fator VIII e IX.
“Desta maneira, a produção de proteínas
para uso terapêutico em linhagens celulares humanas surge como uma
alternativa promissora”.
Ao longo do período de quatro anos, de 2010 a 2014, 54 produtos
biológicos foram aprovados para uso clínico. Dentre estes, 6 foram para o
tratamento de hemofilias, ou seja, 11% dos novos biofármacos são
fatores de coagulação.
“Analisando este panorama é possível perceber que
este mercado está em constante expansão e em busca de novos produtos”,
afirma a pesquisadora.
As pesquisas realizadas dentro do Centro de Terapia Celular da USP
(CEPID FAPESP) trazem como benefícios para a sociedade brasileira a
possibilidade de obtenção de medicamentos mais eficientes, acessíveis e
desenvolvidos com tecnologia brasileira.
Fonte: Agência USP de Notícias
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