Das 23 cidades brasileiras que têm todas as suas escolas 100% acessíveis a pessoas com deficiência, quatro municípios estão em Goiás.
Em Avelinópolis,
a 73 km de Goiânia, as duas unidades de ensino da cidade são públicas e
têm o prédio com rampas, corrimãos, salas com recursos audiovisuais
adaptados e professores de apoio em todas as salas. Com isso, alguns
alunos contam que sentem mais facilidade no aprendizado.
Os dados foram tabulados a pedido do G1 pela Fundação Lemann e pela Meritt, responsáveis pelo portal QEdu.
Eles indicam que apenas 23 municípios
do Brasil contam com todas as suas escolas acessíveis – incluindo
banheiros totalmente adequados a pessoas com deficiência.
Em Goiás, além
de Avelinópolis, também entram na lista Aurilândia, Guaraíta e Morro Agudo de Goiás.
Confira o especial feito pelo site G1 sobre acessibilidade nas escolas brasileiras clique aqui.
A primeira escola a começar a se tornar acessível em Avelinópolis foi o
Colégio Estadual Professor Alfredo Nasser.
Fundada em 1980, ela começou
a passar por reformas em 1994 para atender pessoas com deficiência. A
última reforma feita foi em 2014, para adaptar os banheiros.
Graças a essas mudanças, Maria Alves de Jesus, de 63 anos, que é
cadeirante, está realizando o seu grande sonho, que é o de aprender a
ler e escrever.
Aluna dedicada, que se senta sempre na primeira fileira,
ela superou a dificuldade da locomoção para conseguir frequentar as
aulas.
“Antes, eu não conseguia vir para a escola, era difícil, tinha
que ficar contando com a ajuda dos companheiros. Também havia muitos
degraus”, afirma.
Cursando o 9º ano do ensino fundamental, a estudante diz que já nasceu
com a deficiência física, mas nunca soube ao certo seu problema por não
ter passado por consultas médicas na infância.
“Achei que nunca fosse
aprender nada porque era difícil frequentar a escola, mas as pessoas são
compreensivas com a gente. E tem a professora de apoio, que me ajuda”,
conta, sorridente.
Com a acessibilidade, Maria consegue entrar na escola e, em vez de ter
que pedir ajuda para que desçam a cadeira de rodas pela pequena escada,
pode passar pela rampa que dá acesso ao pátio, com largo corredor.
Na
sala de aula, ela tem uma mesa especialmente para ela, mais larga e
alta, para caber a cadeira de rodas. Além disso, quando precisa ir ao
banheiro, as barras de apoio fixadas na parede facilitam a movimentação.
Recursos pedagógicos
Porém, não são apenas mudanças físicas que são necessárias para atender
todos os alunos.
No colégio também existe a sala de Atendimento
Educacional Especializado (AEE), com diversos jogos, livros e recursos
audiovisuais que são utilizados como recursos pedagógicos para que
pessoas com deficiência auditiva ou visual, por exemplo, possam
complementar os estudos.
Foi nessa sala que Franciele Dias Oliveira, de 20 anos, aprendeu a
Língua Brasileira de Sinais (Libras).
“Gosto muito de ter o intérprete
dentro de sala de aula, ajuda na hora de aprender. Só assim para
entender a aula, porque às vezes não são todos os professores que sabem
libras”, conta.
A jovem, que ficou surda depois de uma meningite aos 5 anos de idade,
está no 2º ano do ensino médio e já sabe o que quer fazer depois de se
formar.
“Quero ser professora, instrutora de Libras. Vou ajudar várias
outras pessoas."
Quem também aprendeu Libras na escola foi a estudante Maria Vitória
Malaspina, de 9 anos.
Ela estuda na Escola Municipal Modelo, que também é
100% acessível. E a garota aproveita que o local é totalmente adaptado
para aprender novas coisas todos os dias.
“É muito legal ter uma
professora só para mim. E é importante para entender o que as
professoras falam”, afirma.
Maria Vitória nasceu prematura e tem surdez profunda. Ela chegou a
fazer o implante coclear para que passasse a escutar. Porém, não se
adaptou ao aparelho auditivo e prefere se comunicar pela linguagem de
sinais.
“Ela não gosta de usar o aparelho porque acha que fica muito barulhento
ao redor dela. Se a escola não tivesse todos esses recursos, como a
sala especial e a intérprete, ela não conseguiria estudar”, conta a mãe
da estudante, a dona de casa Érica Aurélia Malaspina dos Santos.
As duas escolas de Avelinópolis têm estruturas semelhantes. Corredores
largos, rampas onde há desnível e degraus, corrimãos para dar mais
segurança na hora de caminhar ou até mesmo descer de cadeira de rodas,
sanitários adaptados, salas com recursos pedagógicos para deficientes
auditivos, visuais e mentais e professores de apoio em todas as salas.
Não foi necessária nenhuma lei que obrigasse a adaptação das escolas
para atender alunos com deficiência, e sim força de vontade.
No caso do
Colégio Estadual Professora Alfredo Nasser, as iniciativas partiram
principalmente da direção da unidade.
“Tivemos uma diretora que era
deficiente, dependia de muleta para andar. Então ela acelerou ainda mais
esse processo de adaptação”, diz a coordenadora da escola, Renata Alves
Maciel Pereira.
Já na Escola Municipal Modelo, as adaptações começaram a ser feitas em
2009, pois a unidade era usada como zona eleitoral na cidade e também
sediava diversos eventos da comunidade. A maior dificuldade, entretanto,
não foi a reforma física, mas, sim, o preconceito.
“Tinha pai que era contra, porque dizia que fazer a inclusão dos alunos
com algum tipo de deficiência ia atrasar ou prejudicar o aprendizado do
filho dele.
Alguns profissionais também impuseram resistência, porque
estavam próximos de se aposentar e não queriam fazer os cursos de
formação para atender os alunos”, diz a diretora, Dayane Bueno Bahia
Araújo.
Inclusão
Segundo a professora de apoio Luzemaria Ferreira de Araújo, de 54 anos,
que acompanha diariamente a cadeirante Maria Alves na sala de aula,
somente com a acessibilidade na escola é que todos os estudantes
passaram a ter os mesmos direitos.
“Antigamente, quem tinha alguma deficiência física era deixado de lado
ou então colocado em uma sala separada. Com essas mudanças para a escola
ficar acessível, houve uma inclusão e todos passaram a respeitar mais
uns aos outros e até a aprendizagem melhorou."
E a aprendizagem citada por Luzemaria também é compartilhada pela
intérprete Sueli Pereira Neiva Cabral, que acompanha a deficiente
auditiva Maria Vitória.
“Elas são crianças muito espertas e
inteligentes. Então, no dia a dia, nós também aprendemos com eles. No
início é difícil. Tive que fazer curso, mas depois você pega amor e as
coisas ficam mais fáceis”, conclui.
Fonte: G1/ Vida Mais Livre
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