8 de set. de 2014

Dra. Fabíola Peixoto Minson explica sobre a Dor do Membro Fantasma


 

 A dor do membro fantasma é uma das mais terríveis e fascinantes de todas as síndromes clínicas dolorosas , e é um dos exemplos mais relevantes de dor crônica. 

A maioria dos amputados menciona a percepção de um membro fantasma, quase imediatamente depois da amputação do membro. 


Ele é geralmente descrito como uma forma precisa do membro real desaparecido.
 
 
Este "fantasma" deve ser produzido pela ausência de impulsos nervosos do membro. 
 
 
Quando um nervo é seccionado, produz uma violenta descarga lesional em todos os tipos de fibras. Esta excitação diminui rapidamente e o nervo seccionado torna-se silencioso, até que novas terminações nervosas comecem a crescer. Isto implica que o sistema nervoso central dá conta da falta de influxo normal.
 
 
Para trazer mais informações sobre esta síndrome para a comunidade do Vida Mais Livre, entrevistamos a Dra. Fabíola Peixoto Minson, coordenadora da equipe de tratamento da dor do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e diretora da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED). Confira a entrevista:
 
 
 
Vida Mais Livre: Para começar a entrevista, acho que é conveniente explicar o que é dor.
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Dor é uma experiência física e emocional desagradável. Essa é a definição da Associação Internacional para Estudo da Dor.
 
 
 
Vida Mais Livre: Existem diversos níveis de dor? Como é feita essa classificação?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Existe a dor aguda, que segue um trauma ou uma cirurgia, e existe a dor crônica, que não está relacionada a uma lesão. A dor crônica pode estar relacionada com dores músculo-esqueléticas, dores neuropáticas, entre outras. A dor do membro fantasma, por exemplo, é uma dor crônica.
 
 
 
Vida Mais Livre: Como uma pessoa leiga consegue saber se ela está no nível agudo ou não da dor?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: A dor aguda é aquela que segue um trauma, um traumatismo ou lesão, e dura alguns dias. Mas ela também não é normal, e pode ser tratada. Então uma dor que tem começo, meio e fim, que decorre de uma lesão, um machucado ou uma cirurgia, é uma dor aguda. Outras dores que, geralmente, duram mais do que três meses, de forma contínua ou intermitente, são consideradas crônicas.
 
 
 
Vida Mais Livre: E com relação à intensidade, é possível classificá-la também?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Em relação à intensidade, sim. A dor pode ser fraca, média ou forte, e usa-se muito uma escala chamada escala numérica. Ela vai de zero a dez, sendo que zero é sem dor nenhuma, um, dois e três é para dor fraca, quatro, cinco e seis para dor média, sete, oito e nove para forte, e dez seria uma dor insuportável. Dor é que a pessoa diz ser, e ocorre quando ela diz sentir. Não existe um “dolorímetro” que vai lá e diz ‘isso é dor’. A pessoa avalia a dor de forma subjetiva. Avalia a característica, a intensidade, a localização, fatores de melhora e fatores de piora.
 
 
Vida Mais Livre: Existe aquela história de que os homens são mais sensíveis à dor do que as mulheres. Isso é verdade?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Não, isso é um mito. As dores são mais frequentes na população de sexo feminino. Não há uma só resposta para isso. São várias causas, entre hormonais, genéticas e estilo de vida.
 
 
 
Vida Mais Livre: E as crianças, são mais sensíveis à dor do que os adultos?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Não. Cada um tem seu tipo de dor, e não existe uma forma de dizer que homem é mais sensível, ou que criança é mais sensível, ou que essa doença dói mais que a outra, porque a dor é muito individual. Cada um sente de um jeito.
 
 
 
Vida Mais Livre: Existem doenças que causam muita dor. Você pode citar algumas, por favor?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Algumas das mais comuns são a hérnia de disco, diabetes, enxaquecas.
 
 
 
Vida Mais Livre - Entrando na questão da Dor do Membro Fantasma, você pode explicar o que é a síndrome do membro fantasma?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: É uma síndrome em que há uma sensação de dor e a sensação de um membro que já não existe. A pessoa tem a sensação de que aquele membro que foi amputado ainda existe, então ela geralmente acha que está ficando louca porque, por exemplo, não tem a perna, mas sente dor no dedinho.
 
 
 
Vida Mais Livre: E por que isso acontece?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: É como se o nosso organismo tivesse uma memória. Mas não é uma memória na cabeça, mas na medula. Então o nervo, de forma desregulada, leva a informação de dor daquele membro que não existe para a medula, e fica como se fosse gravado.
 
 
 
Vida Mais Livre: Isso acontece com todas as pessoas que amputam algum membro?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Não, só com algumas.
 
 
 
Vida Mais Livre: Qual a porcentagem de pessoas que sofrem com está síndrome?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Normalmente, a incidência é maior entre aquelas pessoas que sofrem mais dores agudas, ou seja, que tiveram uma amputação traumatizante, com muita dor no período pós-operatório de uma amputação. Isso serve tanto para o traumatismo da amputação como para o não tratamento da dor na fase aguda. No geral, cerca de 30% das pessoas com membros amputados apresentam sintomas da síndrome.
 
 
 
Vida Mais Livre: E por quanto tempo a pessoa costuma sentir essa dor?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Às vezes por mais de um ano.
 
 
 
Vida Mais Livre: E qual é a intensidade dessa dor?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Pode variar desde leve até intensa. Na escala numérica que eu mencionei anteriormente, varia de 1 a 10.
 
 
 
Vida Mais Livre: Essa síndrome ocorre com mais frequência após a amputação de algum membro específico?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Não. Ela pode ocorrer em um membro específico, ou pode ocorrer de você ter dois membros amputados e, em um deles, você ter o membro fantasma. Não existe uma regra. Não há uma relação de causa/efeito.
 
 
 
Vida Mais Livre: E qual o tratamento mais indicado para essa pessoas?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Existem medicamentos específicos para essas dores, que são chamadas dores neuropáticas, que são dores que vêm dos nervos. Muitas vezes, as pessoas acham que vão tomar um anti-inflamatório ou um analgésico comum e que isso vai resolver, mas não. São medicamentos específicos, como anticonvulsivantes, antidepressivos, ou outros medicamentos que agem no sistema nervoso central.
 
 
 
Vida Mais Livre: E qual é o médico mais apto para prescrever esse tratamento?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Médicos com especialização no tratamento de dor, que é uma subespecialidade de neurologistas e anestesiologistas, por exemplo.
 
 
 
Vida Mais Livre: É recomendável o tratamento associado com psicólogos ou psiquiatras?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Também. A equipe para este tratamento é multidisciplinar.
 
 
 
Vida Mais Livre: Após o tratamento, as pessoas podem voltar sentir essa dor no membro?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: O tratamento não é para cura, mas para controle. Então é muito importante a pessoa ter essa ideia, porque às vezes, ela pode ter dor e continuar fazendo suas coisas, ou às vezes é melhor não ter dor porque ela vai render melhor nas suas atividades.
 
 
 
Vida Mais Livre: Falando um pouco mais sobre a questão das pessoas com deficiência em geral, existe mais alguma recomendação para evitar a dor para essas pessoas?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Existem várias coisas para ajudar a prevenção, como a reabilitação precoce. Exercícios bem orientados, numa fase precoce, podem prevenir a dor do membro fantasma. Outra coisa é não achar que a dor é normal. Muitas vezes, quando a pessoa vem até o médico, a dor já está num estágio muito avançado, o que pode prolongar e dificultar o tratamento e exigir mais medicamentos. Quando o tratamento começa numa fase precoce, a chance de sucesso é maior.
 
 
 
Vida Mais Livre: Gostaria de comentar mais alguma coisa sobre a Dor do Membro Fantasma?
 
Dra. Fabíola Peixoto Minson: Acho que o mais importante a gente abordou, que o tratamento é feito por uma equipe multidisciplinar, com fisioterapeuta, psicólogo e o médico especialista em tratamento de dor, todos atuando em conjunto, com a participação do paciente
 
 
 
Reportagem: Daniel Limas e Marco Petucco Jr.
 
 
Fonte: Vida Mais Livre 


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