Quem assiste às palestras da professora Temple Grandin, de 67 anos, não
imagina que na infância ela não se relacionava com outras pessoas e só
pronunciou a primeira palavra aos quatro anos de idade. Diagnosticada autista grave,
Temple formou-se em veterinária, fez pós-doutorado na área e é
especialista em ciências animais.
Os passos para a nova vida foram dados
graças à ajuda da mãe, que a incentivava a ter uma rotina normal. “Se
não fosse pela dedicação dela, talvez eu não chegasse onde estou.”
Nascida em Boston, nos Estados Unidos, Temple foi diagnosticada ainda
criança com grau considerado grave de autismo.
Os médicos indicaram
internação em uma clínica psiquiátrica, decisão que dividia a família,
já que o pai concordava, mas a mãe optava por uma educação inclusiva.
"Sempre que alguém nos visitava, minha mãe me obrigava a receber o
convidado, dar a mão para cumprimentá-lo, pegar o casaco, conversar e
ficar com todos na sala. Isso fez com que eu aprendesse um comportamento
novo, algo que não conhecia."
A insistência da mãe em fazê-la conviver com outras crianças e
ensiná-la que a doença não a deixava diferente das outras pessoas,
conseguiu mudar o jeito de Temple ser e pensar.
Hoje, a veterinária
viaja o mundo transmitindo os mesmos ensinamentos aos pais de crianças
autistas. Para ela, o apoio da família - e, principalmente, das mães - é
fundamental na formação e na evolução do filhos.
“O pai e a mãe têm que perceber o comportamento das crianças, têm que
sentir se há alguma coisa errada. Por isso, a presença da mãe é
essencial. Não pode ficar só jogando videogame. Elas precisam sair, ver e
viver o mundo", afirmou a professora, cuja história de superação virou
tema de filme lançado em 2010 e que conquistou o Emmy - considerado o oscar da TV norte-americana - em cinco categorias.
Ainda segundo Temple, os pais devem incentivar os filhos autistas a
praticarem atividades culturais, para o desenvolvimento cognitivo das
crianças.
A professora relembrou que aos oito anos, a mãe percebeu sua
vocação para as artes e a fez participar de aulas de pintura e trabalhos
manuais na própria escola onde estudava.
Aos 14 anos, Temple também foi
levada pela mãe para uma fazenda e foi nessa oportunidade que teve a
ideia de desenvolver o que ela chama de "máquina do abraço", ao observar
como as vacas eram vacinadas.
"Os animais eram colocados em um corredor com barras de ferro, que se
fechavam. Eles não se machucavam e ficavam tranquilos. A pressão ajudava
a acalmar os bichos. Eu gostei e tive a ideia de copiar isso, criando a
máquina do abraço. Eu controlava a pressão da máquina e ficava ali até
20 minutos", afirma.
Em uma rápida visita pelo Brasil, Temple esteve em Ribeirão Preto (SP)
e afirmou que o autismo não deve ser encarado pelos pais e pela
sociedade como um obstáculo.
"Existem dois tipos de cérebro: um social e
outro pensante. Aqueles que têm cérebro social, estão por aí, passeando
e socializando. Os pensantes, são capazes de fazer criar coisas
geniais."
Fonte: G1
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