Em 1977, o deficiente visual Daniel Ribas fingiu ter
visão perfeita para frequentar o colégio do irmão mais novo.
Sua mãe
pensava que havia chegado a hora dele ingressar no ensino fundamental.
Afinal, já tinha nove anos, e tudo o que sabia havia aprendido em uma
escola de braile, onde também eram ensinados conteúdos de matemática e
português.
A mentira durou três dias. O diretor do colégio na época se recusou a
manter o estudante na instituição depois que a deficiência visual de
Daniel foi descoberta por uma professora, ao perceber que ele não
entendia nem escrevia no caderno o que era exposto no quadro.
“Nasci em uma época em que o estudante tinha de se adaptar à escola, e
não o contrário”, diz o hoje professor de Língua Portuguesa da rede
estadual de São Paulo.
“Quando descobriram que eu era cego, o diretor
queria me mandar embora, dizendo que ‘aquilo não era escola de braile’”.
A solução foi ser matriculado em outra escola, com classes especiais.
“Lá eu tinha uma professora de braile, mas eu já estava muito adiantado
em relação a outros alunos. Acabei voltando para a escola do meu irmão”.
A partir desse ano conturbado, Daniel frequentou somente classes
regulares. As dificuldades, no entanto, não desapareceram.
No ensino
médio, sofreu com o preconceito das escolas que não queriam aceitá-lo
por sua deficiência visual. “A dificuldade é o novo. A verdade é que os
colégios tinham medo, por nunca terem tido alunos assim”.
A adaptação às escolas de que fala acontecia quando elaborava “seus
próprios livros” - pedindo para alguém gravar a leitura em fita cassete -
ou quando estudava em casa com as gravações das aulas.
“Algumas vezes
eu assimilava melhor o conteúdo que os colegas, por ouvir bastante a
matéria. E os colegas também vinham me pedir para escutar as aulas”,
lembra.
Aos nove anos, Daniel quis se aproximar - do irmão, dos estudos, da
escola regular. Contudo, no tempo em que o aluno se adaptava à escola,
como ele mesmo diz, nunca encontrou igualdade no acesso ao ensino.
Hoje, aos 46 anos, o professor optou pela distância. Está cursando especialização em Educação Especial Inclusiva em EAD, na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Na pós-graduação, acredita que encontrou um local onde seu desempenho pode ser idêntico ao de qualquer outro colega.
Daniel conta que a maior mudança foi dispor de uma equipe que oferece
apoio diante de qualquer dificuldade na plataforma de ensino.
Os
profissionais podem ser contatados via Skype, fórum ou email, de acordo
com a preferência do estudante.
Isso minimizaria os problemas, que
geralmente são links ou imagens inacessíveis pelo seu leitor de tela -
programa que descreve em áudio os elementos da página, desde que o site
esteja adequado ao seu acesso.
Com todo material de que precisa disponível em versão digital, Daniel
não precisa mais buscar livros impressos na biblioteca nem pedir para
alguém que o leia, como frequentemente acontecia durante sua graduação.
Outra experiência positiva citada pelo estudante foi um quiz.
A partir
da descrição do jogo pelo leitor e da exposição das alternativas, o
aluno responde as questões em um documento e envia o arquivo por email à
coordenação.
Apesar dos avanços testemunhados por Daniel nas últimas décadas, ainda
há muitos relatos negativos de universitários em relação à
acessibilidade, o que compromete a realização de seus estudos a
distância sem percalços.
Fonte: Terra
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