Pouco importam as notas na música, o que conta são as sensações
produzidas por elas.” A frase, atribuída ao pensador russo Leonid
Pervomaisky, é um dos lemas do projeto Alma de Batera, que desde 2008 ensina bateria a pessoas com deficiência, em São Paulo. Nos últimos seis anos, foram 300 alunos.
Criado pelo pedagogo catarinense Paul Georges Lafontaine, 33 anos, o
Alma de Batera foi desenvolvido para um público que tinha interesse, mas
faltava oportunidade.
“Geralmente, o pessoal tem o conceito de que
música para deficiente deve ser musicoterapia. A ideia do projeto não é
essa, mas sim de proporcionar a aula de bateria para pessoas com
deficiência, no tempo de cada uma”, afirma Paul, que também convida
profissionais famosos para sessões específicas. Na última terça, foi a
vez do roqueiro Supla.
“Ele gostou bastante, se sentiu à vontade, tocou e interagiu. Todos
adoraram a presença dele. É uma figura importante, estar ali tocando é
um incentivo muito grande aos alunos, que filmaram, tiraram fotos e
brincaram. O Supla foi bem receptivo, como sempre. Além disso, ele
recebeu uma dedicatória em um calendário de lembrança”, diz Paul.
As aulas do Alma de Batera são gratuitas, acontecem como oficinas em grupo
e costumam reunir alunos de dez anos a 50 anos. Geralmente, as turmas
têm quatro alunos e a aula dura uma hora e meia.
Eles aprendem
basicamente ritmos considerados retos e mais fáceis de entender e tocar,
exercícios de rudimentos e marcação de tempo, além de tocar as músicas
que são pedidas.
“As aulas também envolvem socialização, autoestima, autoconfiança e
motivação dos alunos. Para mim, é muito gratificante ver que as oficinas
fazem a diferença na vida de cada um. Segundo as mães, durante as
férias, os filhos não veem a hora de voltar”, diz Paul, que antes do
projeto havia feito trabalhos voluntários na Fundação Dorina Nowill para Cegos e na Ecoterapia da Hípica de Santo Amaro.
Aulas com famosos
Desde 2010, Paul tem conseguido um apoio importante para o Alma de
Batera: a participação de bateristas consagrados no projeto.
“Achei que
seria uma experiência muito forte para todos os envolvidos. Os alunos se
sentem privilegiados, prestigiados, e isso também é bom para os
músicos, que saem realizados. Eles vêm com a intenção de ajudar, mas é
uma via de mão dupla.”
Participaram das aulas, além de Supla, João Barone (Paralamas do
Sucesso), Daniel Weksler (NXZero), Japinha (CPM 22), Dudu Braga (filho
de Roberto Carlos). Em breve, é a vez do rapper Emicida.
“A relação é uma sensação de aprendizado de ambas as partes. Os alunos
têm uma sensibilidade musical muito grande, mesmo com todas as
dificuldades impostas pela vida, um carinho enorme para quem quer
ensinar algo novo para eles, me trataram de igual para igual, foram
bonzinhos comigo, eu gostei bastante”, diz Japinha, do CPM22, 40 anos.
“O Paul é um cara de coração muito bom, carinhoso e você sente o
incentivo nessa relação, na harmonia no local, a galera te trata bem, e
isso gera uma energia que facilita realmente o aprendizado, o que
acontece com frequência no Alma de Batera.”
Por enquanto, Paul é o único professor e recebe ajuda de um auxiliar e
de fotógrafos, todos voluntários. O projeto se mantém através de
captações de recursos e patrocínios e também busca auxílio da Lei
Rouanet.
“A intenção é termos um espaço próprio, no futuro, e investimentos de
empresas que apoiem e patrocinem, além de capacitar mais professores e
abrir franquias para espalhar esta oportunidade para todo o País”,
espera o incansável Paul.
Fonte: Terra
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