Personagem principal do documentário Outro Olhar, lançado na última terça-feira (23), a gaúcha Renata Basso, de 19 anos, é uma das poucas jovens com síndrome de Down de Santa Maria, Rio Grande do Sul, que se formou no ensino médio depois de estudar em escolas públicas a vida toda.
Retratando os desafios da educação inclusiva no País, o
filme mostra como Renata quebrou paradigmas em sua cidade e se tornou
um exemplo para outras crianças com alguma deficiência.
Entrei em uma escola pública quando tinha seis anos. Nunca frequentei
outro tipo de colégio. A primeira lembrança que tenho é que me dava
muito bem com as minhas amigas, nunca me senti excluída.
Roseane Basso, irmã da jovem, contou que a família foi aconselhada a
incluir Renata em atividades com outras crianças que não tinham
deficiência.
Minha mãe foi aconselhada por um grupo de professoras da
Universidade Federal de Santa Maria a colocá-la em uma escola pública. A
universidade ofereceu acompanhamento especial para Renata durante todo o
ensino fundamental.
Renata foi alfabetizada aos oito anos e acompanhava bem a turma, mesmo
assim, conta que o ensino médio foi um período especialmente
desgastante. Na mudança de escola, a jovem perdeu o acompanhamento
especial e teve que lidar com outros desafios.
A escola era muito grande e eu imaginava que não conseguiria fazer
muitos amigos, mas pedi para entrar nos grupos e consegui. Tinha algumas
aulas que eu não era capaz de acompanhar bem, mas outras, como
biologia, eram bem legais porque a professora explicava tudo bem
explicadinho para mim.
Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco,
que patrocinou o filme, comenta que o desafio da educação inclusiva no
ensino médio é ainda maior do que na etapa do fundamental.
Segundo ele, inadequação da estrutura atual da escola, voltada para um
ideal de aluno e não para atender à singularidade de cada um deles, vai
desde o currículo até a infraestrutura e arquitetura da escola, passando
pela formação de professores e gestores.
A educação inclusiva nos obriga a repensar o ensino como um todo. No
que se refere ao currículo, precisamos pensar o que é necessário que as
crianças e jovens aprendam para a vida.
Além disso, são necessárias
políticas públicas para formação dos professores e para apoiar os
gestores e as famílias para a garantia da educação inclusiva nas escolas
públicas.
O Colégio Estadual Coronel Pilar, onde Renata estudou, se tornou
referência em educação inclusiva.
Em 1993 a instituição recebeu o
primeiro aluno cego em uma classe de ensino regular, reconheceu a
importância social e aceitou o desafio pedagógico de ter salas de aula
mais plurais quando tais práticas ainda eram absolutamente incipientes e
experimentais na educação brasileira.
Outro Olhar
A apresentação do documentário acontece às 19h, na Livraria Cultura do
Conjunto Nacional, na avenida Paulista.
O evento também terá um debate,
que contará com a participação de Henriques, do diretor geral do
Instituto Rodrigo Mendes, Rodrigo Mendes e de Liliane Garcez, mestre em
educação e assessora especial da Secretaria Municipal da Pessoa com
Deficiência e Mobilidade Reduzida de São Paulo.
Fonte: R7
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