Cerca de 148,6 mil eleitores com algum tipo de deficiência fizeram pedido de atendimento especial para o dia 5 de outubro – data do primeiro turno das eleições.
Muitos desses eleitores terão acesso a uma das 32.267 seções eleitorais
especiais disponibilizadas em todo o território nacional.
Criadas em
2002, elas seguem regras estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para facilitar o acesso ao
local de votação. Cerca de 430 mil eleitores brasileiros (residentes no
país e no exterior) declararam ter deficiência à Justiça Eleitoral.
Estacionamento próximo e instalações que sigam as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) são alguns dos requisitos exigidos para as seções especiais. Mais de 10,3 mil delas estão no estado de São Paulo.
“Escolhemos uma sala no térreo, que seja de fácil acesso, que não tenha
escada nem degrau. Essa é a acessibilidade que a gente busca. Se tiver
obstáculo, a gente tenta contornar ou monta outra seção no local de
votação para que o deficiente consiga chegar”, explica a juíza assessora
da presidência do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, Carla
Themis Lagrotta.
Segundo ela, essas seções não são de uso exclusivo das pessoas com
deficiência. “Não fazemos uma separação para não haver discriminação.
Damos a preferência, mas se sobrar vagas, a gente completa. Se na
eleição seguinte tiver um número maior de pessoas com deficiência, a
gente tira as pessoas que não têm e coloca mais das que têm.”
Decreto de 2009, que promulgou a Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, diz que o Estado deve garantir que
pessoas com deficiência tenham os mesmos direitos políticos dos demais
cidadãos e deve assegurar equipamentos e procedimentos apropriados e
acessíveis para votação.
Já o Código Eleitoral prevê, entre outras
medidas, que os tribunais regionais orientem os juízes para que os
locais de votação sejam de fácil acesso para quem tem deficiência
física, por exemplo.
Também em 2009 foi regulamentado o uso da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) ou das legendas para
as propagandas gratuitas exibidas na televisão. Este ano, a exigência
foi ampliada para os debates televisivos e, caso seja descumprida,
acarreta sanções para a emissora.
“A Resolução [do TSE] 23.404 de 2014,
que trata da propaganda eleitoral, determina que os debates
transmitidos pela televisão devem usar a Libras ou o recurso de legenda.
Essa mesma regra é aplicável à propaganda eleitoral gratuita na
televisão”, explica a ministra do TSE Luciana Lóssio.
O estudante Paulo Lafaiete, 29 anos, está se preparando para mais uma
eleição. Cego desde os 3 meses de idade, ele conta que a urna eletrônica
facilita o voto, já que as teclas estão em braile. Presidente da
Associação de Amigos do Deficiente Visual, em Brasília, ele explica que
um fone de ouvido também é disponibilizado.
“Eu aperto o número e há o áudio que
fala o nome dele [candidato]. A gente confirma depois”, conta,
destacando que, mesmo assim, já teve problemas com o recurso
disponibilizado pela Justiça Eleitoral. “Não funcionou e eu tive de
chamar alguém da minha confiança para me ajudar”, relata.
Desde 2010, uma resolução do TSE permite que o próprio eleitor, ao ter
alguma dificuldade decorrente de sua deficiência, escolha alguém para
auxiliá-lo.
A regra estabelece que o acompanhante não pode estar a
serviço da Justiça Eleitoral nem de partido político ou coligação e que a
assistência deve ficar registrada em ata.
O documento traz ainda um
artigo específico sobre o que pode ser usado por quem tem deficiência
visual, assim como Paulo.
A ministra Luciana Lóssio explica que, em 2012, o TSE criou o Programa
de Acessibilidade da Justiça Eleitoral. A resolução prevê diferentes
medidas para melhorar o acesso ao voto.
“O programa vem sendo aprimorado
e as medidas vêm sendo desenvolvidas ao longo desse período para
facilitar o acesso ao voto para que essas pessoas possam comparecer com
mais facilidade para exercer o seu direito ao sufrágio”, explica.
O treinamento de quem trabalha nas seções é um dos pontos que precisa
ser melhor focado, na avaliação do estudante Paulo Lafaiete. “Muitos não
sabem como guiar uma pessoa com deficiência visual.”
O estudante
destaca também que as escolas que abrigam seções eleitorais não têm a
adaptação necessária.
“Muitos locais não têm o piso tátil
para chegar até o lugar da votação e muitas escolas ficam em locais
difíceis. Também sinto falta de mais informação sobre nossos direitos.
Nós temos capacidade de exercer a nossa cidadania e, às vezes, somos
impedido de fazer.”
Em geral, as seções eleitorais são montadas em escolas públicas e
particulares. Segundo a juíza Carla Themis Lagrotta, muitos desses
prédios não são preparados para receber pessoas com deficiência.
Com
relação às calçadas e ao acesso a esses locais, ela explica que a
manutenção não cabe à Justiça Eleitoral.
“É claro que a gente busca as
escolas que tenham a melhor localização. Agora, o acesso a esse local
nós não podemos interferir, mas a gente observa. O juiz eleitoral faz
uma visita a todos os locais de votação para ver as disponibilidades não
só para o deficiente, mas para o eleitor em geral.”
Ela explica que
diferentes pontos são observados, como a luminosidade, a estrutura e o
acesso.
“Às vezes uma entrada tem uma rampa melhor, o acesso por uma
determinada porta é melhor e a gente pode pedir para aquela porta ser
aberta”.
A ministra Luciana Lóssio alerta que existe um prazo para que o eleitor
solicite a transferência de seção e outro para que ele informe o tipo
de deficiência que tem.
“Dessa forma, a Justiça Eleitoral pode se
instrumentalizar e suprir, providenciar instrumentos para que ele possa
exercer seu direito de forma ampla e irrestrita.”
Fonte: EBC Agência Brasil
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