Com perda total da visão, Sandro Gonçalves de
Carvalho, 47 anos, não vai mais precisar da ajuda do pai para votar em
seus candidatos nestas eleições.
Isso era necessário porque, apesar dos
teclados das urnas eletrônicas tenham o braile, não era possível saber
que número tinha sido digitado, para verificar se houve algum engano.
Agora, com o recurso do fone de ouvido, a pessoa com deficiência visual
é informada para que cargo está votando e os números digitados. Se
tiver errado, basta corrigir e tentar novamente.
Sem essa tecnologia,
muitos votos acabavam sendo anulados porque as pessoas com limitações
visuais, quando digitavam errado, ficavam sem saber que tinham cometido
um engano e acabavam por confirmar o voto.
Na quinta-feira passada, a Justiça Eleitoral realizou, na sede da Associação Sorocabana de Atividades para Deficientes Visuais (Asac),
um treinamento para que os eleitores com deficiência visual pudessem
saber como a urna irá funcionar.
Entre os presentes, estava o eleitor
Sandro. Conforme ele, a única dificuldade que terá, agora, vai ser
decorar os números de seus candidatos, pois nenhum distribui panfletos
de divulgação em braile. Sandro talvez ainda precise do pai apenas para
lhe falar os números.
"Esse seria o próximo passo para ficarmos mais
independentes." De acordo com Sandro, também a sessão eleitoral deveria
ter acessibilidade melhor. "Ainda precisaria de ajuda para chegar ao
local, pois apesar da escola ser a mesma, constantemente mudam a sala de
votação", completa.
Uma das pessoas com deficiência visual, que preferiu não ser
identificado, tem uma máquina portátil que pode ser usada para passar
para o papel o número de seus candidatos, em braile. Ele consegue ser
mais independente, porém sabe que nem todos têm o recurso.
Roque Batista Martins, que possui retinose pigmentar, de 48 anos, veio
de Cesário Lange para conhecer a novidade.
"Agora, com essa inovação,
não vou ter mais como errar. As teclas são grandes e em braile, e tendo o
fone melhora bastante." Roque contou que vai sozinho votar, mas que
precisa do auxílio do mesário. "Ele coloca minha mão perto da urna e
avisa que ela está na minha frente. Assim que eu consigo votar."
Celular
Jovens e modernos, Edson Miranda, 18, e a namorada Janaína Reis de
Almeida, 29 anos, foram conferir o funcionamento da urna, agora com o
fone de ouvido, e contaram que usam o celular para saber mais sobre seus
candidatos.
Conforme Janaína, a Apple tem uma tecnologia que emite som
para avisar cada aplicativo que está sendo acessado e também é possível
escutar os textos.
Edson explicou que tem retinopatia da prematuridade e por isso não
enxerga desde que nasceu.
"Nasci prematuro, de 6 meses e meio, e tive
descolamento da retina." Mesmo sem poder ver, ele não é alheio às
tecnologias e como qualquer outro jovem, acessa a internet. Também
Janaína é conectada. Ela, que tem o nervo ótico atrofiado desde o
nascimento, afirmou que o sistema de seu celular é bem útil para quem
não enxerga. Com esse aplicativo, os dois conseguem entrar nas páginas
dos candidatos, escutar as propostas e saber das notícias sobre
política.
Direito à cidadania
Conforme Sandra Fogaça da Silva, auxiliar da Justiça Eleitoral na Zona 137 de Sorocaba, que atende a região central e a zona sul da cidade, a Justiça Eleitoral se preocupa muito com a acessibilidade.
A primeira medida foi solucionar a questão da locomoção, com a criação
de sessões especiais, que são apropriadas para as pessoas com
deficiências. São locais em que não é preciso subir a escada e que a
porta seja mais larga, para facilitar a entrada do cadeirante, entre
outras adaptações.
"Na Zona 137 temos uma sala com atendimento voltado
também aos surdos, com um colaborador que sabe a linguagem dos sinais.
Futuramente todas as escolas terão, mas quando sabemos que naquela
escola tem uma pessoa com determinada deficiência, aí temos de
providenciar", afirma.
Sandra esclareceu que as melhorias estão sendo feitas ao longo dos anos
devido às sugestões dos próprios eleitores e observações dos mesários.
"As pessoas dão sugestões, também o mesário coloca em ata quando alguém
teve dificuldade, e dessa forma vão se fazendo estudos e aprimorando."
De acordo com Laurinda Ana de Negreiros, chefe de cartório da Zona 137,
todas as sessões especiais têm fone de ouvido, mas qualquer pessoa com
problema visual, mesmo que sua deficiência não esteja cadastrada, pode
solicitar para o mesário o fone de ouvido. "Não temos para todas as
salas, mas todos os locais terão fone de ouvido", assegura.
Sorocaba tem hoje 981 eleitores com algum tipo de deficiência, sendo 104 deles deficientes visuais.
Fonte: Cruzeiro do Sul
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