É num surrado caderninho de anotações que o mecânico
de bicicletas Adalberto Fortes, 49 anos, do Bairro Sítio dos Açudes, em
Alvorada, dá vida a invenções que levam sorrisos a dezenas de pessoas.
Da mente e das mãos dele surgem bicicletas mágicas, capazes de
movimentar quem é impedido no dia a dia. Adaptáveis e produzidas com
material reciclado, elas permitem que deficientes visuais e cadeirantes
pedalem pelas ruas.
Conhecido como Mágico das Bicicletas, Adalberto
iniciou os trabalhos há cerca de quatro anos, motivado por uma ONG da
cidade. Um protótipo foi criado unindo duas bicicletas com uma barra de
ferro.
Prêmio para a vida
Mas a dupla de bicicletas foi só o começo. Com parte de outras
cinco, uma cama de ferro e um rack de televisão, Adalberto construiu uma
para cadeirantes — onde os pedais são com as mãos. E ele foi além.
Como
a primeira deu certo, melhorou o próprio protótipo, mais leve e menos
complicado. Desta vez, partes da churrasqueira do mecânico foram usadas
para prender a cadeira do ciclista especial.
Me sinto ganhando um prêmio ao realizar a felicidade de alguém — afirma.
Mesmo mantendo a oficina mecânica no Sítio dos
Açudes, Adalberto encontra tempo para trabalhos voluntários com ongs
especializadas em deficientes.
Neste mês, ele está construindo
gratuitamente seis pares de bikes para a Associação das Pessoas com
Deficiência Visual e Amigos de Gravataí.
O pai, Antônio Fortes, morto no ano passado, era um mecânico de
carros conhecido em Cachoeirinha, onde a família morava, por construir
gratuitamente carrinhos para catadores de recicláveis. Adalberto
acredita que tenha herdado do patriarca o gosto pelo trabalho.
Mas, se hoje Adalberto leva magia a outras pessoas,
durante mais de dez anos foi o mecânico quem precisou dela para deixar o
álcool.
Dos 18 aos 30 anos, quando morava em Cachoeirinha, enfrentou a
dependência e se afastou até da família. Neste período, ganhou o apelido
de “mágico”, por fazer brincadeiras de magia com os amigos dependentes.
Por causa da cachaça, dormia embaixo da ponte do
Rio Gravataí com outros dependentes químicos. Numa noite, desesperado
para deixar o álcool, olhei para o céu estrelado e pedi a Deus que me
ajudasse a sair daquela vida — revela.
Emocionado, recorda que a partir daquela data decidiu
que se mudaria para o sítio da família, em Alvorada, e começaria a
trabalhar com bicicletas.
Nunca mais bebi e nunca mais parei de trabalhar. Só
me dá vontade de fazer mais quando vejo a felicidade de uma criança sem
as duas pernas andando numa bicicleta fabricada por mim — finaliza.
Fonte - Zero Hora
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