25 de set. de 2014

Mecânico cria bicicletas adaptáveis para deficientes visuais e cadeirantes



É num surrado caderninho de anotações que o mecânico de bicicletas Adalberto Fortes, 49 anos, do Bairro Sítio dos Açudes, em Alvorada, dá vida a invenções que levam sorrisos a dezenas de pessoas. 


Da mente e das mãos dele surgem bicicletas mágicas, capazes de movimentar quem é impedido no dia a dia. Adaptáveis e produzidas com material reciclado, elas permitem que deficientes visuais e cadeirantes pedalem pelas ruas.


Conhecido como Mágico das Bicicletas, Adalberto iniciou os trabalhos há cerca de quatro anos, motivado por uma ONG da cidade. Um protótipo foi criado unindo duas bicicletas com uma barra de ferro.


Juntas, elas permitem que o deficiente visual possa andar acompanhado de um ciclista. E ainda ajudo o meio ambiente, usando barras de ferro recicláveis — explica Adalberto.


Prêmio para a vida
 

Mas a dupla de bicicletas foi só o começo. Com parte de outras cinco, uma cama de ferro e um rack de televisão, Adalberto construiu uma para cadeirantes — onde os pedais são com as mãos. E ele foi além. 


Como a primeira deu certo, melhorou o próprio protótipo, mais leve e menos complicado. Desta vez, partes da churrasqueira do mecânico foram usadas para prender a cadeira do ciclista especial.


Me sinto ganhando um prêmio ao realizar a felicidade de alguém — afirma.


Mesmo mantendo a oficina mecânica no Sítio dos Açudes, Adalberto encontra tempo para trabalhos voluntários com ongs especializadas em deficientes. 


Neste mês, ele está construindo gratuitamente seis pares de bikes para a Associação das Pessoas com Deficiência Visual e Amigos de Gravataí.
 
 
O pai, Antônio Fortes, morto no ano passado, era um mecânico de carros conhecido em Cachoeirinha, onde a família morava, por construir gratuitamente carrinhos para catadores de recicláveis. Adalberto acredita que tenha herdado do patriarca o gosto pelo trabalho.


Mas, se hoje Adalberto leva magia a outras pessoas, durante mais de dez anos foi o mecânico quem precisou dela para deixar o álcool. 


Dos 18 aos 30 anos, quando morava em Cachoeirinha, enfrentou a dependência e se afastou até da família. Neste período, ganhou o apelido de “mágico”, por fazer brincadeiras de magia com os amigos dependentes.


 Por causa da cachaça, dormia embaixo da ponte do Rio Gravataí com outros dependentes químicos. Numa noite, desesperado para deixar o álcool, olhei para o céu estrelado e pedi a Deus que me ajudasse a sair daquela vida — revela.


Emocionado, recorda que a partir daquela data decidiu que se mudaria para o sítio da família, em Alvorada, e começaria a trabalhar com bicicletas.


Nunca mais bebi e nunca mais parei de trabalhar. Só me dá vontade de fazer mais quando vejo a felicidade de uma criança sem as duas pernas andando numa bicicleta fabricada por mim — finaliza.


Fonte - Zero Hora 

 

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