Um aluno especial do Programa Segundo Tempo vive dias
de glória graças ao esporte. A mais recente proeza do estudante Marcelo
Rocha Vieira, 8 anos, ocorreu no fim de agosto, quando disputou e venceu
o Circuito Caixa de Maratoninha, em Fortaleza
(CE).
Sua vitória no atletismo, na categoria de deficiência motora, que
caminha com a ajuda de um andador, rendeu uma bicicleta como prêmio.
E o garoto já faz planos adaptados à sua realidade. “Minha mãe vai
comprar as rodinhas para que eu treine em minha bike”, revela, feliz, o
irmão gêmeo da cadeirante Sara, vítima da mesma complicação.
Realizada no Parque do Cocó, na capital cearense, em 24 de agosto, a
corrida contou com a participação de estudantes de 12 dos 25 núcleos do
Segundo Tempo, da parceria entre o Ministério do Esporte e a prefeitura
de Fortaleza.
Alem de Marcelo, José Natanael Braga, 12 anos, também do núcleo Dendê;
João Lucas Lopes, 12; do núcleo Passaré, e o trio formado por Vinicius
Romão, 8, Denilson Batista, 12, e Felipe Santos de Andrade, 12, do
núcleo Vila do Mar, venceram o circuito e levaram para casa bicicletas.
Ao que tudo indica, correr com o apoio de um andador ou pedalar numa
bike com rodinhas será “fichinha” para Marcelo, se comparado aos
desafios já superados em função do esporte.
A motivação vem da fiel
escudeira e mãe, dona Maria da Conceição Texeira Rocha, 48 anos, uma
ex-sacoleira que vendia roupas e abandonou o trabalho para cuidar
exclusivamente dos dois filhos especiais, beneficiários do INSS com um
salário mínimo cada um.
“O pai, Antônio Vieira, ajuda muito, apesar de estarmos separados, e
acompanha o tratamento das crianças”, reconhece a mãe, contando que
“pouco antes de completar sete meses de gravidez, tive descolamento de
placenta seguida de hemorragia, gerando falta de oxigênio no cérebro e paralisia cerebral. O problema atingiu a parte motora dos meus dois filhos”, recorda emocionada, a dona de casa.
Esporte e saúde
A rotina de Marcelo é disciplinada e repleta de afazeres. Inclui de
consultas com fisioterapeutas, pediatras e neurologistas no hospital
Sarah Kubitschek, às aulas no Colégio Pensador, onde cursa o 1º ano do
ensino fundamental. A prática esportiva é uma determinante na vida do
aluno do Programa Segundo Tempo.
Além de treinar caratê no projeto do Centro de Inclusão Tecnológica e
Social (CITS), da prefeitura, e da terapia ocupacional oferecida pela
Faculdade Cristo, o pequeno se torna um gigante quando o assunto é
futsal.
No núcleo Dendê do Programa Segundo Tempo, instalado no ginásio
poliesportivo da Universidade de Fortaleza (Unifor), Marcelo é um dos
100 beneficiados com a prática de futsal.
Na unidade que tem como
coordenador de núcleo Carlos Kleber Bezerra Campos, as aulas acontecem
às terças e quintas-feiras, das 13h às 16h, em turmas para alunos de 7 a
9 anos, de 10 a 12 anos e de 13 a 17 anos.
A evolução no futsal é visível. “Os dez primeiros passos contínuos que
Marcelo deu sozinho, sem o auxilio do aparelho, foi treinando futebol.
Ele ganhou uma bola do professor Kleber e com ela também treina em casa e
consegue se equilibrar”, comemora, orgulhosa, Maria da Conceição.
Talento e inclusão
Normalmente jogado com cinco atletas por equipe, sendo quatro atletas
na linha e um goleiro, o futsal do Segundo Tempo foi adaptado para
receber um jogador a mais em cada time, totalizando equipes com seis
atletas. “A quadra oficial funciona como universo gigante para nossos
pequeninos”, explica Kleber.
Já o coodenador-geral da parceria PST/Prefeitura de Fortaleza, Igor
Pinheiro, destacou o espírito coletivo e a amizade da turma. Conta que
os demais colegas de Marcelo o acolheram e entendem as suas limitações,
numa ação em que prevalece o espírito de equipe.
A maior prova de
incentivo e de amizade das demais crianças vem na hora de cobrar o
pênalti, o escanteio, a lateral e a falta. Nesses momentos, Marcelinho é
sempre o escolhido para a função.
“Ao contrario das disputas na quadra, quando ele corre com auxilio do
andador, nessas horas ele é então o privilegiado. Nosso garoto bate as
cobranças, sem o uso do andador, e, ao se equilibrar sozinho, confirma o
talento para o esporte”, afirma Pinheiro.
Fonte: Portal Vermelho
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