17 de jan. de 2013

Prédios residenciais não têm acessibilidade total para cadeirantes em Manaus

Símbolo de acessibilidade
Dos cerca de 300 empreendimentos verticais residenciais existentes em Manaus, apenas dois apresentam acessibilidade total aos deficientes físicos.

É o que afirmou o dentista Said Souza Iamut, 58, cadeirante há 26 anos. “Só conheço dois. Um, onde morei que sofreu adaptações e o outro é o que estou residindo atualmente, localizado no bairro Aleixo, zona centro-sul de Manaus.

Said disse que antes de comprar o apartamento, pesquisou em várias construtoras de Manaus. Mas não encontrou um empreendimento residencial que, na prática, desse acesso total aos cadeirantes.

“Os empreendimentos dizem que têm acessibilidade. Mas só que eles apresentam apenas rampas na entrada dos prédios. O que a gente quer é que a área comum do prédio seja acessível a todos deficientes físicos, gestantes e idosos. 

É um direito que está na Constituição Brasileira, de ir e vir com autonomia, ou seja, sozinho, sem precisar pedir ajuda para se locomover”, destacou.

Segundo o síndico do prédio onde Said mora, Marcos Melo, que acompanhou o projeto, o empreendimento depois de entregue passou por algumas adaptações para tornar-se acessível aos deficientes físicos. 

“Não foi algo consciente da construtora. Nós, juntamente com o morador Said, cobramos as adaptações necessárias para tornar acessível os espaços do condomínio a todos”, disse.

Said comprou o apartamento há um ano, mas se mudou para o prédio apenas há três meses, porque aguardava as adaptações ficarem prontas.

Segundo o superintendente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Amazonas (Sinduscon), Cláudio Guenka, todos os empreendimentos têm que ter acessibilidade aos cadeirantes para  serem aprovados na Prefeitura.

“Os prédios têm que apresentar rampas, elevadores e banheiros adaptados, pelo menos nas áreas comuns. Mas sabemos que muitos empreendimentos não estão adequados”, disse, acrescentando que o Sinduscon não tem como saber quantos edifícios estão adaptados ou não.

“A fiscalização é com a Prefeitura, que é quem aprova o projeto. E na hora de liberar o Habite-se, se faz uma nova vistoria”.

O superintendente ressaltou que todos os novos prédios que estão surgindo deveriam ter acessibilidade. “Os antigos sei que é mais difícil, mas os novos deveriam ter”, disse.

O vice-presidente da Sinduscon, Frank Souza, disse que, geralmente, os empreendimentos residenciais verticais não são construídos para as pessoas com deficiência física. “Na planta do empreendimento, o cadeirante pode opinar sobre como ele quer seu apartamento, conforme sua necessidade específica”, disse.
Superação

Said ficou paraplégico quando tinha 32 anos, porque a calçada estava obstruída por um caminhão que descarregava madeira. E,  no momento que ele passava, parte da carga caiu sobre ele. Depois de cinco anos do acidente, Said mudou de profissão: de professor de Educação Física, virou dentista.

“Passei cinco anos estudando no cursinho para passar no vestibular. Não porque era burro, mas sim porque os cursinhos não eram adaptados para cadeirantes e, por isso, enfrentei muitas dificuldades para assistir às aulas”, contou.

Segundo Said, depois de tornar-se paraplégico, passou a lutar diariamente pela causa da acessibilidade. “São 26 anos de lutas diárias. Se eu sair agora, terei embates. A coisa não é fácil, mas a gente não se acovarda”, disse.

Said coleciona no seu currículo de lutas e conquistas de adaptações para deficientes físico como em hotéis, praças no Centro, faculdades e até no ônibus coletivo. “Mas os motoristas não querem parar quando veem um cadeirante e as pessoas acham ruim, porque não querem esperar a entrada do deficiente físico”, disse, acrescentando que a próxima luta é conseguir ir de barco para Parintins. 
IBGE

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deficientes motores que não conseguem se locomover de modo algum no Amazonas são 9.068, em Manaus 5.657.

“Isso caracteriza quando a pessoa se declara incapaz por uma deficiência motora, de caminhar e subir degraus sem ajuda de outra pessoa”, explicou o disseminador de informação do IBGE, Adjalma Nogueira Jaques.

Já os que têm muita dificuldade são 50.675 no Amazonas e 27 mil em Manaus. “Quando a pessoa se declara ter grande dificuldade de caminhar ou subir degrau sem ajuda de outra pessoa. 

A tendência é que tenhamos cada vez mais esse tipo de clientes para os empreendimentos. Isso porque a população aumenta e as pessoas com deficiência também”, explicou.


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