21 de mai. de 2013

Intérprete de Libras da Câmara de Vereadores de Joinville conta como começou na profissão

Alfabeto em Libras
Há quase dez anos, Rute Mielniczki se dedica integralmente a uma missão: traduzir o mundo para pessoas com deficiência auditiva através dos gestos. 

Ela não tinha nenhum familiar surdo, nem conhecia alguém que enfrentasse as dificuldades que uma pessoa que não escuta enfrenta, mas foi um encontro, ao acaso, que fez Rute se dedicar à profissão de intérprete de Libras, uma decisão que mudou sua vida e a de muitas pessoas.

Nascida em Curitiba, Rute conta que assim que chegou em Joinville, em 2004, foi a uma igreja, onde estava acontecendo uma apresentação de um grupo teatral missionário de João Pessoa. Na ocasião, eles apresentaram um jogral em Libras, a Língua Brasileira de Sinais.

— Quando a apresentação terminou, percebi que um senhor estava chorando muito, e fui falar com ele. O senhor contou que já frequentava a igreja há três anos, mas como era surdo, era a primeira vez que ele de fato estava entendo o que acontecia, e se emocionou com a mensagem —, lembra.

Tomada por aquela emoção, Rute se interessou pelo assunto, e começou a aprender a linguagem de sinais já no dia seguinte.

— O senhor me deu uma apostila, e comecei a estudar. Isso tinha acontecido numa quinta, e no domingo eu já comecei a interpretar a missa para ele —, relata.

Autodidata, Rute começou a aprender sozinha.

— Colei as páginas da apostila pela parede da casa.

Mais tarde, ela  procurou se aprimorar, participando de cursos e fazendo uma pós-graduação em biolinguística, em Curitiba. Foi lá que ela também encontrou materiais para poder replicar este conhecimento para outras pessoas.

Atualmente, ela ministra aulas gratuitas de Libras no Instituto Joinvilense de Assistência aos Surdos e na Escola do Legislativo da Câmara de Vereadores, onde ela também realiza a tradução simultânea das sessões solenes.

— É muito gratificante  perceber que muitos surdos estão conhecendo seus direitos, como cidadão, através do nosso trabalho —, diz.

— Muitos me procuram, para falar com os vereadores sobre os problemas do bairro ou reclamar da falta de interpretes nas escolas e faculdades, por exemplo —, relata.

— Além disso, é muito legal perceber que muitos passaram a assistir a TV Câmara, até porque é hoje o único canal com a tradução na linguagem dos sinais —, ressalta.

Outra realização de Rute tem sido trabalhar como intérprete no Festival de Dança.

— Há três anos já realizo esse trabalho —, diz, orgulhosa.

Mas Rute não se limita a traduzir em sinais o que os surdos precisam "ouvir" ou "falar". Mais do que uma mediadora, ela se transformou uma militante da causa e já obteve grandes conquistas. Graças ao esforço de Rute, muitos surdos já tiveram acesso a um direito básico, como passar pela autoescola e prestar a prova do Detran para conseguir a carteira de habilitação.  

É também graças ao trabalho voluntário de Rute junto aos órgãos públicos (que deveriam, por lei, oferecer um intérprete), que muitos surdos puderam receber atendimento médico, passar por uma cirurgia ou fazer uma queixa na delegacia. E recentemente, ela está engajada em outra causa: a alfabetização de pessoas surdas.

— Este mês, será inaugurada a primeira Casa Brasil Bilíngue —, antecipa.

O espaço para crianças, adolescentes e adultos, pessoas de todas as idades, surdas ou não,  oferecerá desde a alfabetização em Libras para crianças de um a seis anos, até adultos, em busca de cursos profissionalizantes para ingressar no mercado de trabalho.

— É triste pensar Joinville em 20 mil surdos, e que muitos chegam a fase adulta sem saber ler e escrever. Mais triste ainda é pensar que muitas crianças surdas passam a primeira infância sem se comunicar, porque até chegarem à escola, a família não se interessou em aprender ou teve acesso à  Libras. Foi pensando nisso que desenvolvemos esse projeto piloto —, justifica.

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