O ambicioso projeto do grupo de cientistas comandado pelo paulistano Miguel Nicolelis, 52, que pretende fazer um paraplégico dar o pontapé inicial da Copa de 2014, no Brasil, usando um esqueleto biônico controlado pelos pensamentos, deve entrar na fase de testes com humanos no mês que vem.
A revelação foi feita por Nicolelis durante palestra ontem na Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), a agência pública brasileira que financia o projeto, chamado Andar de Novo e orçado em R$ 33 milhões.
"As primeiras simulações do exoesqueleto já foram
feitas e, para minha satisfação, ele funciona como planejado", disse
Nicolelis, que está à frente do IINN (Instituto Internacional de
Neurociências de Natal) e é professor da Universidade Duke (EUA).
Segundo ele, até o momento, já houve uma simulação com macacos usando
um protótipo. "Conseguimos realizar padrões de marcha usando simuladores
e, daqui a alguns meses, a gente espera que esse macaco ande com o
exoesqueleto tanto lá na Duke quanto no nosso laboratório aqui em
Natal."
Para os testes com humanos, os voluntários serão selecionados pela AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente),
em São Paulo, segundo Neiva Paraschiva, diretora-executiva da
associação que gerencia o IINN.
Ela afirmou também que os primeiros
testes "não serão invasivos", ou seja, não haverá a conexão de eletrodos
ao cérebro do paciente para que eles possam emitir os comandos que
controlarão o exoesqueleto.
O equipamento deve incluir ainda um
revestimento que dará um feedback tátil ao cérebro do usuário,
permitindo que ele "sinta" o chão onde pisa.
Segundo a AACD, serão selecionados para o teste dez pacientes com lesão
medular incompleta, isto é, ainda com algum grau de movimento.
O superintendente-geral da instituição, João Octaviano Machado Neto,
diz que a aprovação do estudo pela Conep (Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa) deve sair ainda neste mês.
A parceria da AACD com os
cientistas, financiada pela Finep, ampliará o laboratório da entidade,
criando "o mais avançado laboratório de reabilitação neurorrobótica do
planeta", segundo Nicolelis.
O cientista disse também que o primeiro simulador de locomoção completo do mundo será testado na AACD "nas próximas semanas".
"O paciente vai olhar para um avatar de si mesmo andando e vai treinar o
cérebro, usando a informação visual, para gerar os sinais que
precisamos pegar para controlar o exoesqueleto no futuro." Nicolelis se
emocionou ao citar a meta de demonstrar o projeto na abertura da Copa.
"Se tudo der certo, um brasileiro ou uma brasileira, jovem adulto, de
até 1,70 m, com até 70 kg, vai levantar de uma cadeira de rodas,
realizar 25 passos da linha lateral até o centro do gramado e abrir a
Copa com um chute da ciência brasileira para toda a humanidade", disse o
cientista, indo às lágrimas.
Para Machado Neto, da AACD, o prazo curto, de um ano, até a abertura da
Copa não é um problema. "É um desafio, mas os desafios produzem grandes
resultados." Ainda que o exoesqueleto não seja uma solução para todos
os paraplégicos, diz ele, é uma vertente importante de pesquisa. "Temos
toda sorte de paciente, o importante é melhorar a qualidade de vida
deles."
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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