No galpão de madeira do Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) Porteira Aberta, de Dois Irmãos, no Vale do Sinos, Rio Grande do Sul, a pequena Thaine Bittencourt, de 7 anos, se sente realizada. Cadeirante desde
bebê, ela participa da Invernada Mirim, dançando com outras crianças,
há quatro meses.
Antes, a vontade da menina de dançar, apesar de não
poder caminhar, emocionava a mãe, a dona de casa Rejane Elenir Datsch,
de 29 anos.
"Ela dizia que queria dançar e eu ficava muito sentida, pensando que
nunca surgiria uma oportunidade para ela na nossa cidade, uma cidade
pequena. Agora ela está podendo realizar o sonho dela", diz a mãe que passa grande parte de
seu tempo tomando conta da filha.
Em sua cadeira de rodas, Thaine mostra que conhece todos os passos da
"dança do caranguejo", coreografia típica do folclore gaúcho. Bate
palmas e faz o gesto imitando o animal com as mãos.
Quando as outras
crianças batem com os pés no piso, ela bate com as palmas das mãos nas
coxas. Roda sozinha na cadeira, e só recebe a ajuda de um adulto quando
troca de par. "Me sinto bem", diz a menina.
A Invernada Mirim é realizada há um ano e meio.
Integrante do DTG, o pai de Thaine, Magno Bittencourt, imaginava que a
dança faria bem à filha, mas relutou ao pedir que ela fosse incluída na
atividade."Pensei que iriam barrar", conta.
Mas os professores de dança
insistiram e a menina topou. "Ela provou para ela mesma que é capaz de
fazer muitas coisas mesmo estando na cadeirinha", comemora o pai.
Os familiares demonstram emoção com o jeito de ser de Thaine, que
enfrenta as dificuldades com um sorriso no rosto. "Ela está sempre
faceira", conta o pai. "Não tem tempo ruim para ela".
Mulher de Magno, a auditora Letícia Demiquelli, de 26 anos, diz que
aprende ao ver a forma como a menina enfrenta as dificuldades.
"Ela não
transparece em nenhum momento tristeza. Está sempre alegre. Dá uma lição
na gente", afirma Letícia, exaltando a boa relação que a enteada tem
com as outras crianças. "Todos estão sempre ao redor dela, chegam a
disputar para empurrar a cadeira", conta.
Thaine conta que, além de dançar, gosta de ir à escola e "brincar com
os colegas".
A mãe fala com orgulho sobre o quanto a filha se dá bem com
os colegas, mesmo com as dificuldades, mas demonstra preocupação com o
futuro. "Me preocupo em quando ela chegar na adolescência, na fase de ir
a festas", confessa.
Tratamento
A menina sofreu uma lesão na medula após ser atropelada quando tinha um ano e oito meses.
Em Dois Irmãos, faz fisioterapia e hidroginástica de
manhã, e à tarde vai à escola. Vive com a mãe. Graças à boa relação que
mantém com ela, o pai pode ver a filha com frequência.
Além destas atividades, a pequena é submetida a um tratamento duas
vezes por ano em um hospital referência em reabilitação em Belo
Horizonte. Lá, Rejane ouve dos médicos que, com o avanço das pesquisas
com células-tronco, pode haver uma chance de reverter a situação.
"Temos
de pensar que este sonho pode não acontecer, mas há uma possibilidade",
diz. Mas Thaine não quer ficar esperando, e se esforça para viver da
sua maneira: com um sorriso no rosto e dançando no salão.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário