Ter o céu ao alcance das mãos, poder conhecer o terreno irregular da
lua, ou o caminho traçado pelo sol não é mais tarefa de um astronauta
sonhador qualquer.
Com um pouco de imaginação e criatividade, a viagem
pelo espaço pode acontecer em um lugar mais acessível e sem nem precisar
sair do chão: no Planetário de Vitória .
Com o intuito de atender pessoas com deficiência visual e baixa visão,
uma sessão do Planetário foi adaptada e agora dá aos que não podem
enxergar o céu, a oportunidade de senti-lo. A novidade foi inaugurada no
último dia 22.
Para atender essas pessoas, foram desenvolvidos vários materiais
didáticos exclusivos. Na sessão “Universo ao alcance das mãos”, os
visitantes assistem a um teatro de sombras baseado no livro "As Estrelas
e o Telescópio", do escritor Monteiro Lobato. As cenas são acompanhadas
de audiodescrição, que situa os visitantes na história.
Depois do teatro, os participantes podem aprofundar o entendimento com um livro tátil para
pessoas com deficiência visual; um livro adaptado para pessoas com
baixa visão (ambos inspirados no teatro das sombras); dois painéis táteis
em alto-relevo e em alto-contraste visual, explicando as fases da lua;
cinco placas em alto-relevo representando a evolução tectônica do
planeta Terra; dois globos táteis, um com os
continentes da Terra em alto-relevo e outro com o interior do planeta e
uma caixa simulando o nascer e o pôr do Sol (dia e noite).
A professora especializada Rosane Tristão, responsável por desenvolver o
projeto, destacou a importância da iniciativa.
“Não adianta nós termos
um espaço acessível, com rampa, por exemplo, se o conhecimento não é
acessível a todos”, disse.
Ela contou que tudo foi muito bem pensado
para que os visitantes pudessem compreender a sessão em sua totalidade.
"Esses conteúdos precisaram ser adaptados para que cegos e deficientes
visuais pudessem acompanhar a sessão junto de quem é vidente.
O maior
desafio foi adaptar as informações sobre astronomia que são projetadas
no teto da cúpula e no teatro de sombras em objetos táteis", contou.
Inquieto, o simpático Leandro Alves, de 16 anos, nem parece ter
deficiência visual. Enquanto brincava e implicava com os demais colegas,
ele contou que pertence ao grupo que ajudou a adaptar a sessão para os
deficientes visuais.
“Primeiro a gente participou da sessão não adaptada
e aí fomos ajeitando, falando o que dava pra entender ou não. Agora,
depois de adaptado, tá cheio de coisa que antes a gente não tinha como
entender”, disse.
Para ele, a principal surpresa foi descobrir que da Terra só podemos
ver uma “parte” da lua.
“Peguei a lua (objeto pertencente à sessão que
reproduz a forma e a textura do satélite) e vi que de um lado ela era
toda irregular, cheia de buracos. De outro, estava lisa. Perguntei e aí
me explicaram que é porque só dá para ver um lado da lua”, explicou.
Para Pedro Henrique, de 14 anos, a experiência ajudou a entender melhor
o que ele já aprende em sala de aula.
“Antes não tinha como saber
direito como é. Na sessão adaptada dá pra entender, então vou chegar na
escola e ter um entendimento melhor”, contou.
Rafaela da Silva, de 14
anos, tem baixa visão, pois enxerga apenas com um dos olhos, e contou
com as maquetes para ativar a memória. “Não lembrava que a lua tinha
quatro fases”, disse, referindo-se às diferentes formas da lua, que
foram exemplificadas em uma espécie de painel em alto relevo.
A pedagoga Bernardete Sessa, que é voluntária no Instituto Braile,
ressaltou a função do projeto. “Tem uma importância fundamental na
inclusão. Em muitos casos, a inclusão total ainda está muito longe de
existir”, disse.
Fonte: G1
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