Um jovem com deficiência física reclama das dificuldades que enfrenta por não conseguir utilizar o ônibus de transporte coletivo, em São Carlos
(SP).
Segundo por Dalton Victorio Paes de Toledo, de 18 anos, o
motorista da Linha 1, São Carlos/Vila Prado, se recusa a descer a rampa
para que ele possa embarcar.
Cansado das discussões, ele registrou um
boletim de ocorrência contra o funcionário. Em um áudio gravado por ele,
é possível ouvir parte de uma discussão entre os dois em um ponto.
A Athenas Paulista,
empresa responsável pelo transporte, informou que pretende estudar
medidas para melhorar a condição do transporte do passageiro, já que a
rampa é destinada apenas cadeirantes.
Apesar disso, uma lei federal
obriga a descida do equipamento em casos como o do rapaz, segundo uma
associação de pessoas com deficiência física.
Toledo sofre de amiotrofia neuromuscular, doença degenerativa de origem
genética que faz com que tenha dificuldades para se locomover.
“Consigo
ficar em pé, mas não consigo nem mesmo subir uma calçada”, explicou.
De acordo com ele, o problema com o motorista já vem acontecendo há
cinco meses. "Ele diz que eu não tenho problema nenhum, mesmo eu já
tendo mostrado minha carteira de deficiente físico e laudo médico para
provar.
Esse homem diz que a rampa só pode ser utilizada por
cadeirantes, não por pessoas como eu. Na primeira vez que isso
aconteceu, o motorista só abaixou a rampa depois que outros passageiros
pediram”, contou o garoto.
Na segunda vez em que o problema ocorreu, o pai do adolescente teria
conversado com um amigo, funcionário da Athenas Paulista, que assegurou
que o uso da carteirinha dava direito ao jovem de ter a rampa abaixada.
O
episódio, no entanto, se repetiu. Na terceira vez em que o motorista
repreendeu Toledo, o estudante registrou um boletim de ocorrência contra
o funcionário.
Ainda assim, o garoto afirma que continua com dificuldades para usar o
serviço. “Quando encontrei com ele após ter registrado a ocorrência,
houve outro incidente.
O motorista se recusou a abrir a rampa e, quando
perguntei como faria para voltar para casa ele respondeu ‘se vira’.
Achei uma tremenda falta de respeito comigo e com as ordens que ele já
deveria ter recebido”, explicou.
Áudio registra discussão
Em áudio enviado ao site G1, é possível ouvir parte de uma discussão
entre o passageiro e o motorista do ônibus. Confira abaixo a transcrição
do diálogo:
Estudante: Dá para você abrir ali para mim?
Motorista: Lá é só cadeirante, aqui não pode não.
Estudante: Eu já fui lá na garagem.
Motorista: Ah, mas ninguém passou nada para mim. A rampa ali é só cadeirante.
Estudante: E como é que eu vou embora, então?
Motorista: Ah, eu não sei.
Estudante: É só você que não pode abrir?
Motorista: Se outro está abrindo, problema dele. Agora, aqui não pode.
“No dia em que ele não quis me levar, tive de esperar mais de duas
horas até que o ônibus voltasse à garagem e fossem trocados os
motoristas”, ressaltou o adolescente.
Dalton também diz que passou a
optar por outros caminhos para evitar constrangimentos.
“Antes eu pegava
entre dois e três ônibus para ir ao centro. Hoje pego quatro em alguns
dias, só para evitar ter que passar por isso de novo”, desabafou.
Thiago Alves é proprietário de uma academia de musculação e trabalha
com o jovem de forma a fortalecer os músculos de sua perna e fazê-lo
caminhar melhor.
Ele confirma os problemas de locomoção do jovem e diz
ter sido testemunha de um dos episódios com o motorista.
“O Dalton não
tem firmeza nas pernas, ele pode até ficar em pé, mas não consegue se
levantar sozinho ou se locomover. Ele leva quase 15 minutos para andar
um dos lados de um quarteirão. Uma vez, o motorista chegou a dizer que o
menino deveria subir a escada, já que consegue andar. Um absurdo um
cidadão como esse atender à população”, reclamou Alves.
Athenas Paulista
Segundo o encarregado de planejamento da Athenas Paulista, Fernando
Carvalho, sobre o caso de Toledo, ele informou que a porta do meio é
destinada para cadeirante, com espaço reservado para a cadeira, sem
barras de apoio.
Portanto, a situação colocaria em risco o passageiro,
que não conseguiria se sustentar na plataforma e poderia sofrer um
acidente grave na subida. O encarregado ressaltou que está disposto a
analisar, junto ao passageiro, uma maneira de resolver o problema.
De acordo com o presidente de uma Associação de Deficientes Físicos,
Guilherme Ramalho, há uma lei federal que obriga o motorista a abrir a
rampa em casos como o de Dalton.
"Inclusive para outros problemas, como
os obesos, por exemplo. Acredito que quaisquer problemas físicos que
afetem a locomoção dos cidadãos deve ser tratado de forma igual,
independente da condição ou do tipo de deficiência", afirmou.
Outro caso
Também em São Carlos, uma cadeirante reclama da linha Fagá/Embaré,
também da Athenas.
Segundo a turismóloga Ana Paula Cordeiro, há duas
semanas um dos dois ônibus adaptados foi retirado da linha.
"Eu preciso
do transporte especial porque tive poliomielite na infância. Mas, com a
remoção, agora fico mais de duas horas esperando pelo outro ônibus".
Ana disse que já entrou em contato com a empresa, mas que não resolveu o
problema. “O motorista fala que o veículo está quebrado, mas eu já o vi
na rua. Por isso, liguei e falei com um fiscal. Ele disse que o
motorista é obrigado a pegar o cadeirante e colocar em um ônibus comum
quando não há o adaptado, mas não é isso que ocorre”, relatou.
Para ela, a situação é lamentável. "Eu me sinto excluída da sociedade,
porque dependo do transporte e quando passa, não está adaptado",
ressaltou.
Segundo o encarregado de planejamento da Athenas Paulista, o veículo
passou por manutenção na parte elétrica no dia 6 de outubro, mas já está
em circulação novamente. Carvalho ressaltou que a empresa disponibiliza
22 carros adaptados que cobrem toda a cidade.
Além disso, ele disse que
a empresa oferecere o transporte porta a porta para quem tem
necessidades especiais. O serviço teria realizado mais de dois mil
descolamentos no mês de setembro.
Fonte: G1
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