4 de jul. de 2014

Pessoas com deficiência aprendem com as ondas a surfar nos obstáculos do dia a dia

Foto da equipe do Adaptsurf


Os benefícios dos exercícios físicos são amplamente conhecidos e as desculpas para não praticá-los também. Mas e quando os empecilhos são bem maiores do que a simples falta de tempo e a preguiça? 


Esse é o caso de muitas pessoas com deficiência, que, além de enfrentar as próprias limitações, não encontram muitas opões de esportes que atendam e respeitem a redução de mobilidade.


Foi pensando em ajudar esse pessoal que Henrique Saraiva criou a ADAPTSURF, uma associação sem fins lucrativos que promove a inclusão no esporte de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. 


Tudo começou em 2001, quando o próprio gestor de projetos, por insistência do amigo surfista Marcos Sifu, experimentou a ‘kneeboard’, um modelo especial para surfar de joelhos. Henrique, que perdeu os movimentos das pernas após levar um tiro durante um assalto em 1997, sentiu os benefícios da prática e decidiu passar adiante.


- O surfe ajudou e ajuda muito na minha recuperação motora, além de fazer bem para minha coluna. Além disso, é muito bom ter o contato com a natureza e praticar um esporte junto com meus amigos, de igual para igual. 


Por todos esses benefícios, sempre fui muito grato ao Marcos pelo incentivo e sempre tive vontade de repassar isso e o sentimento de superação que o surfe me trouxe. 


Aí, em 2007, a Luana (parceira no projeto) fez um trabalho para a faculdade sobre o surf adaptado e a partir daí tomamos conhecimento de projetos de surfe adaptado e acessibilidade de praia em várias cidades mundo. 


Eu sabia que no Rio não havia nada parecido, então sugeri ao Phelipe (outro parceiro da ONG) e a Luana que desenvolvêssemos um projeto aqui – conta Henrique.


Na época, os três não tinham muito mais do que a vontade de levar essa oportunidade para outras pessoas, mas juntos, os amigos fisioterapeuta, educadora física e surfista adaptado já formavam uma equipe. Aos poucos a ONG foi ganhando forma e hoje já tem um time de cerca de 20 pessoas.


- Atualmente contamos com voluntários para as atividades na praia e na parte administrativa. Temos desde agências que nos ajudam a formatar as apresentações, vídeos, identidade visual, até pessoas que ajudam na captação de recursos, fotógrafos, fisioterapeutas, psicólogos, instrutores de surfe, entre outras coisas – explica.


O esforço conjunto é recompensado. Atualmente a associação atende 60 alunos, todos com algum tipo de deficiência física, intelectual, visual e/ou auditiva


 Além das aulas práticas, eles convivem com ensinamentos comuns ao esporte, como a importância de manter uma boa alimentação e de preservar a natureza.


- O surfe é uma excelente ferramenta de inclusão, pois proporciona que pessoas com e sem deficiência, de diferentes classes sociais, sexo, idade, culturas possam praticar juntos. 


Além disso, não há necessidade de segmentar em diferentes deficiências, todos podem praticar juntos. E não é necessário surfar bem para aproveitar os benefícios. Independente de surfar deitado, de joelho ou em pé, todos se divertem e são beneficiados pelo esporte – diz Henrique, que ainda ressalta os benefícios psicológicos, como a auto estima.


- Entrei no ADAPTSURF em 2010 e isso mudou a minha vida. A ONG não me ensinou somente a surfar no mar, mas na vida também. Hoje me sinto capaz e confiante. As ondas me ensinaram a ser forte e nunca desistir. 


Além dos sentimentos o surf me ajudou fisicamente, me dando a independência e a determinação para passar por cima de qualquer obstáculo. 


Hoje me sinto como as ondas do mar, sou independe e feliz! – conta Monique Oliveira, 26 anos, portadora de paralisia cerebral.


A proposta da ADAPTSURF de inclusão e integração social ultrapassou os limites do dia a dia e chegou aos grandes campeonatos. 


Os surfistas da ONG já participaram de etapas de WQS, WCT e do Circuito Brasileiro de Surf na Barra da Tijuca, além de ganharem uma competição própria.


- O objetivo principal do Circuito ADAPTSURF é promover a integração dos alunos da Barra e do Leblon, mas é sempre aberto a surfistas de outras regiões do Brasil. 


Aproveitamos o campeonato para tentar desenvolver metodologias onde possamos segmentar as categorias e pontuar os competidores de forma justa, o que é bastante complicado quando tratamos de surfe, uma modalidade totalmente subjetiva – explica Henrique.


Interessou? As aulas gratuitas ocorrem aos sábados, no Posto 2 da Praia da Barra da Tijuca, e aos domingos, no Posto 11 da Praia do Leblon, sempre das 9h às 14h.


Fonte: G1


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