O acidente de moto que tirou os movimentos das pernas da professora de educação física Carolina Ignarra, 34, quase acabou com seus sonhos profissionais.
Mas, após seis anos em uma cadeira de rodas, a decisão de empreender mostrou o caminho da superação.
Hoje, dona de uma consultoria especializada em incluir pessoas com deficiência física no mercado de trabalho, seu sucesso abre portas para outras pessoas na mesma condição.
Ignarra é fundadora da Talento Incluir.
O negócio de pequeno porte conta com oito funcionários –três deles com
deficiência física– e presta serviços para grandes empresas como Ambev,
Bradesco, Itaú, Santander e Vale.
A oportunidade surgiu em 2007, depois que a empresária se desligou de
uma consultoria para a qual trabalhava. Um primo, que era gestor de RH
em uma grande empresa, a indicou ao patrão para fazer o trabalho de
inclusão dos funcionários com deficiência física recém-contratados.
Ao olhar para o mercado, ela percebeu que havia poucos concorrentes e a
cultura de inclusão de pessoas com deficiência no trabalho era pouco
disseminada. Estar em uma cadeira de rodas a fez entender melhor as
necessidades de seus clientes. “Se não estivesse nessa situação, não
entenderia sobre este mercado”, diz.
Empresária teve ajuda de antigos patrões para abrir negócio Para
abrir o próprio negócio, Ignarra contou com a ajuda da empresa para a
qual trabalhava na época do acidente, a Movimento –prestadora de
serviços na área de ginástica laboral.
Com a ajuda dos antigos gestores,
a empresária criou um projeto para atender ao mercado. A consultoria
nasceu com o nome de Movimento Incluir.
“Foram pessoas que sempre me ajudaram muito. Não tive vergonha de bater
na porta delas”, afirma. Em 2009, a empreendedora fundiu o negócio com a
empresa de uma amiga. A consultoria virou, então, Talento Incluir e a
amiga se tornou sócia-investidora.
Após acidente, empreendedora cogitou fazer artesanatoQuando
sofreu o acidente, em 2001, a empresária tinha 22 anos. Foram três
meses de fisioterapia até se adaptar à cadeira de rodas.
Jovem, ela diz
que tomava medicamentos fortes e chegou a pensar em trocar de área por
não poder dar aulas de ginástica laboral como fazia antes. “Pensei que
teria de fazer artesanato ou outra atividade em casa. Não me via no
trabalho”.
Mas, quando a empresa lhe pediu que voltasse a trabalhar, Ignarra se
sentiu valorizada. No início, montava as aulas em casa para os outros
professores aplicarem. Depois, começou a ir pessoalmente à empresa. Dois
anos após o acidente, deu a primeira aula de ginástica laboral em uma
cadeira de rodas.
“Sabia que minha lesão era irreversível. Pensei: ‘se é assim que estou,
como posso viver melhor?’ Não me prendi à esperança de voltar a andar”,
declara.
Empresas ainda desvalorizam pessoas com deficiência
A maior dificuldade da empresária é crescer em um mercado restrito.
Segundo ela, poucas empresas estão dispostas a criar uma política de
valorização de pessoas com deficiência física no ambiente de trabalho.
Na opinião dela, a maioria apenas contrata esses profissionais como cumprimento à lei de cotas,
que obriga empresas a destinarem uma porcentagem das vagas de emprego a
pessoas com deficiência. “Há empresas que contratam, mas deixam a
pessoa escondida. Mais do que auxiliar no cumprimento de lei, nós
apostamos em envolver funcionário na rotina do negócio”, afirma.
Apesar do desafio, Ignarra diz que a cultura empresarial está começando
a mudar. Aos poucos, o mercado parece se abrir para a inclusão de
pessoas com deficiência.
“Às vezes, nas folgas, as pessoas chegam para
me perguntar sobre inclusão e sempre tenho um cartão da minha empresa
para entregar. O fato de ter deficiência é um outdoor”, declara.
Fonte: http://economia.uol.com.br
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