Dos cerca de 300 empreendimentos verticais residenciais existentes em Manaus, apenas dois apresentam acessibilidade total aos deficientes físicos.
É o que afirmou o dentista Said Souza Iamut, 58, cadeirante
há 26 anos. “Só conheço dois. Um, onde morei que sofreu adaptações e o
outro é o que estou residindo atualmente, localizado no bairro Aleixo,
zona centro-sul de Manaus.
Said disse que antes de comprar o apartamento, pesquisou em várias
construtoras de Manaus. Mas não encontrou um empreendimento residencial
que, na prática, desse acesso total aos cadeirantes.
“Os empreendimentos dizem que têm acessibilidade. Mas só que eles apresentam apenas rampas
na entrada dos prédios. O que a gente quer é que a área comum do prédio
seja acessível a todos deficientes físicos, gestantes e idosos.
É um
direito que está na Constituição Brasileira, de ir e vir com autonomia,
ou seja, sozinho, sem precisar pedir ajuda para se locomover”, destacou.
Segundo o síndico do prédio onde Said mora, Marcos Melo, que acompanhou
o projeto, o empreendimento depois de entregue passou por algumas
adaptações para tornar-se acessível aos deficientes físicos.
“Não foi
algo consciente da construtora. Nós, juntamente com o morador Said,
cobramos as adaptações necessárias para tornar acessível os espaços do
condomínio a todos”, disse.
Said comprou o apartamento há um ano, mas se mudou para o prédio apenas
há três meses, porque aguardava as adaptações ficarem prontas.
Segundo o superintendente do Sindicato da Indústria da Construção Civil
do Estado do Amazonas (Sinduscon), Cláudio Guenka, todos os
empreendimentos têm que ter acessibilidade aos cadeirantes para serem
aprovados na Prefeitura.
“Os prédios têm que apresentar rampas, elevadores e banheiros
adaptados, pelo menos nas áreas comuns. Mas sabemos que muitos
empreendimentos não estão adequados”, disse, acrescentando que o
Sinduscon não tem como saber quantos edifícios estão adaptados ou não.
“A fiscalização é com a Prefeitura, que é quem aprova o projeto. E na hora de liberar o Habite-se, se faz uma nova vistoria”.
O superintendente ressaltou que todos os novos prédios que estão
surgindo deveriam ter acessibilidade. “Os antigos sei que é mais
difícil, mas os novos deveriam ter”, disse.
O vice-presidente da Sinduscon, Frank Souza, disse que, geralmente, os
empreendimentos residenciais verticais não são construídos para as
pessoas com deficiência física. “Na planta do empreendimento, o
cadeirante pode opinar sobre como ele quer seu apartamento, conforme sua
necessidade específica”, disse.
Superação
Said ficou paraplégico quando tinha 32 anos, porque a
calçada estava obstruída por um caminhão que descarregava madeira. E,
no momento que ele passava, parte da carga caiu sobre ele. Depois de
cinco anos do acidente, Said mudou de profissão: de professor de
Educação Física, virou dentista.
“Passei cinco anos estudando no cursinho para passar no vestibular. Não
porque era burro, mas sim porque os cursinhos não eram adaptados para
cadeirantes e, por isso, enfrentei muitas dificuldades para assistir às
aulas”, contou.
Segundo Said, depois de tornar-se paraplégico, passou a lutar
diariamente pela causa da acessibilidade. “São 26 anos de lutas diárias.
Se eu sair agora, terei embates. A coisa não é fácil, mas a gente não
se acovarda”, disse.
Said coleciona no seu currículo de lutas e conquistas de adaptações
para deficientes físico como em hotéis, praças no Centro, faculdades e
até no ônibus coletivo. “Mas os motoristas não querem parar quando veem
um cadeirante e as pessoas acham ruim, porque não querem esperar a
entrada do deficiente físico”, disse, acrescentando que a próxima luta é
conseguir ir de barco para Parintins.
IBGE
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deficientes motores que não conseguem se locomover de modo algum no Amazonas são 9.068, em Manaus 5.657.
“Isso caracteriza quando a pessoa se declara incapaz por uma
deficiência motora, de caminhar e subir degraus sem ajuda de outra
pessoa”, explicou o disseminador de informação do IBGE, Adjalma Nogueira
Jaques.
Já os que têm muita dificuldade são 50.675 no Amazonas e 27 mil em
Manaus. “Quando a pessoa se declara ter grande dificuldade de caminhar
ou subir degrau sem ajuda de outra pessoa.
A tendência é que tenhamos
cada vez mais esse tipo de clientes para os empreendimentos. Isso porque
a população aumenta e as pessoas com deficiência também”, explicou.
Fonte: http://www.d24am.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário