O professor Stephen Hawking é um dos físicos
contemporâneos mais renomados, com importantes obras sobre relatividade e
buracos negros.
Ele descobriu a doença degenerativa ELA (esclerose
lateral amiotrófica) aos 21 anos. Atualmente está com 73 anos, ainda que
especialistas afirmavam que ele não passaria dos 25.
Além de ter feito contribuições significativas para a
ciência e ter superado quaisquer expectativas da medicina, o professor
britânico é um dos poucos portadores de ELA que conseguiram algum nível
de autonomia, apesar dos avançados sinais degenerativos da doença.
Mundialmente conhecido também pela sua voz robótica, Hawking enfrentou
desafios para conseguir manter sua comunicação conforme sua doença
avançou.
Primeiro sistema de voz e escrita
Uma das empresas mais empenhadas em ajudar o
professor a manter a qualidade de sua comunicação é a Intel, que desde
1997 oferece aparelhos personalizados e suporte técnico ao professor,
conta o artigo do Wired.
Hawking perdeu a fala em 1985 e foi quando
desenvolveu com o físico Martin King e a empresa Words Plus um sistema
de comunicação chamado Equalizer, que permitia selecionar e escrever
usado um botão na mão.
Para o sistema de voz foi usado um sintetizador
da Speech Plus e, ao adaptar os dois sistemas, Hawking passou a ter uma
capacidade de se comunicar com 15 palavras por minuto.
No entanto, com os anos a doença degenerativa de
Hawking prejudicou seus movimentos e em 2008 ele não conseguia mais
movimentar os polegares que o permitiam escrever.
O então assistente do
físico, Jonathan Wood, aprimorou o dispositivo para que fosse possível a
comunicação ser realizada por meio de um músculo da bochecha que era
ativado por um feixe infravermelho anexado aos óculos do cientista.
Com
este sistema era possível navegar na internet, escrever e-mails e textos
e falar. No entanto, com a degeneração muscular crescente, Hawking
entrou em 2011 com a capacidade de escrever apenas uma ou duas palavras
por minuto.
Intel Labs entra em cena
Neste ano Hawking escreveu para Gordon Moore,
co-fundador da Intel e que em 1997 ofereceu o suporte da empresa para o
físico, perguntando se era possível a Intel fazer algo para ajudar a
melhorar a velocidade de comunicação do seu sistema.
Justin Ratter, CTO
da Intel, foi consultado sobre a possibilidade de ajudar o cientista e
como resposta montou uma equipe de especialistas em interação
humano-computador da Intel Labs para se dedicar no desenvolvimento de um
novo sistema de comunicação para Hawking.
O objetivo da equipe era reformular todo o hardware e
software usados por Hawking. No entanto, o professor, que usava a
interface há mais de duas décadas, não queria mudar completamente seu
sistema, mas aprimorar o que ele já usava.
“Ele é muito inflexível e
deseja mantê-lo. Portanto, a nossa tarefa foi a de manter a experiência
do usuário familiar, mas fazer essa experiência mais intuitiva e
poderosa”, explicou Lama Nachman, engenheiro da Intel Labs.
Entre as ideias iniciais da equipe estava o uso de
reconhecimento facial, gestos, rastreamento de olhar e interfaces
cérebro-computador, conta Nachman.
Mas esses modelos não tiveram tanto sucesso quando
testados em Hawking. “Eu também experimentei a interface controlada pelo
cérebro para me comunicar com o meu computador, porém, isso ainda não
funciona de forma tão consistente quanto o meu interruptor operado pela
minha bochecha”, explicou o próprio cientista em uma postagem em seu
site.
Nachman e sua equipe desenvolveram um sistema com
adições mais básicas, como um “botão de volta”, usado para apagar
caracteres e voltar na interface com o usuário. Houve ainda uma
alteração no algoritmo de previsão de palavras.
Após uma fase de testes,
no entanto, Hawking nà£o conseguiu se adaptar e a equipe percebeu que o
desenvolvimento do novo sistema teria que acontecer em conjunto com o
professor para que tivessem sucesso.
Novos rumos
A equipe da Intel Labs resolveu mudar de estratégia.
Foram gravadas dezenas de horas de vídeo de Hawking em diferentes
situações: digitando, digitando com sono, usando o mouse.
Mesmo com o
estudo mais detalhado dos costumes do professor, ele não conseguiu se
adaptar às novas interaçàµes da interface e novamente a equipe teve que
buscar outra saída para o sistema de comunicação do físico.
Melhorias preditivas
Com as mudanças anteriores sem atingir os resultados
desejados, a equipe da Intel finalmente conseguiu um sistema que
agradasse ao professor.
A principal e mais atraente mudança foi um novo
sistema de previsão de palavras, usando uma tecnologia desenvolvida pela
startup londrina SwiftKey.
Com o sistema preditivo anterior, Hawking
tinha que sair da página em que estava para selecionar a palavra
desejada em uma lista.
Para melhorar a experiência do professor, a equipe da
Intel, em parceria com a SwiftKey, adicionou uma série de documentos de
Hawking no sistema, entre livros, artigos, palestras e materiais sem
publicação.
Dessa forma, o sistema preditivo já possui um grande
histórico de consulta e consegue prever com mais exatidão as palavras
digitadas.
A expressão “buraco negro”, por exemplo, não precisa mais ser
digitada e ao escrever “buraco”, a palavra “negro” é automaticamente
disponibilizada.
A nova versão da interface recebeu o nome de ACAT e
inclui menus mais contextuais para que seja possível acessar por atalhos
o e-mail, um novo gerenciador de aulas, pesquisas e a fala.
“Nós
adicionamos um monte de menus contextuais ao sistema, de modo que ele
pode selecionar um com um único clique, ao invés de ter que ir para o
mouse, em seguida, para o menu, e, em seguida, selecionar uma opção. Nós
criamos várias novas opções contextuais em todo o sistema para acelerar
o uso”, conta Nachman.
Hawking e Intel
“Meu mais recente computador da Intel, baseado em um
processador Intel Core i7 e Intel Solid-State Drive 520 Series, também
contém uma webcam que eu uso no Skype para manter contato com meus
amigos.
Eu posso dizer muito pelas minhas expressões faciais para
aqueles que me conhecem bem. Eu tambà©m posso dar palestras. Eu escrevo a
palestra de antemão e salvo em disco.
Posso, então, enviar para o
sintetizador de fala uma frase usando o software Equalizer, desenvolvido
pela Words Plus. Ele funciona muito bem e eu posso até “polir” a
palestra antes de apresentá-la.
Sempre fico de olho em novas tecnologias assistivas, e recentemente a
Intel tem patrocinado uma equipe de seus engenheiros para projetar um
novo sistema de reconhecimento facial que visa melhorar minha velocidade
de comunicação”, escreveu Hawking sobre as novidades oferecidas pelo
seu sistema.
A Intel pretende, após os aprimoramentos realizados
no sistema de interface do professor Hawking, disponibilizar o software
para a comunidade open source.
“Esse movimento vai permitir que outras
pessoas usem a plataforma e a desenvolvam ainda mais. Nachman e sua
equipe esperam que seu trabalho pioneiro com Hawking vai continuar a ajudar as pessoas com
deficiências semelhantes e problemas de comunicação, avançando no campo
da tecnologia assistiva”, afirma a Intel.
Fonte: Rede Saci
Nenhum comentário:
Postar um comentário