Há pouco mais de seis meses, o aposentado Julio Cesar de Andrade, 65,
recebeu a notícia de que amputaria um dedo do pé que estava prestes a
gangrenar por falta de circulação sanguínea.
Se não funcionasse, poderia
perder o pé ou mesmo parte da perna.
Como última opção, iniciou um tratamento experimental com células-tronco extraídas da medula óssea.
Hoje, cinco meses após a terapia, o sangue voltou a circular nas veias
do pé de Andrade, o que evitou a amputação.
"No início, não achei que
meu pé pudesse ser salvo. Hoje ele está ótimo. Agradeço primeiro a Deus,
depois às células-tronco", relata o aposentado, emocionado.
Andrade é um dos dez pacientes tratados em um projeto de pesquisa
coordenado pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Paraná.
Ele e outras sete pessoas conseguiram evitar a amputação dos pés. Outras duas não tiveram a mesma sorte.
Inédito no país, o estudo é feito em quatro hospitais – dois de
Curitiba, um de Salvador (BA) e um de São José do Rio Preto (SP). O
financiamento vem do Ministério da Saúde e do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Segundo o médico Jorge Timi, coordenador da pesquisa no Hospital
Angelina Caron, de Curitiba (PR), onde oito dos pacientes foram
operados, a técnica só é aplicada em pessoas com risco iminente de
amputar pés e pernas.
Eles têm uma doença chamada de isquemia de membro inferior, que
decorre, principalmente, de complicações do diabetes.
A falta de
circulação do sangue provoca entupimento das artérias que irrigam as
pernas, o que também pode causar ataques cardíacos e derrames.
No estágio crítico, como estava Andrade, o paciente mal anda. Tem
feridas que não cicatrizam e necrose em partes da perna. Quase todos os
casos (98%) acabam em amputação.
"Nada funciona mais. Nem medicamentos [como os vasodilatadores] nem procedimentos [ponte de safena ou stents]", explica Timi.
Nessa fase da doença, os pacientes têm expectativa de vida 25% menor. Após grandes amputações, esse índice sobe para 50%.
No Brasil ocorrem cerca de 40 mil amputações de membros inferiores por
ano, 90% delas causadas por diabetes não controlado adequadamente,
segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular.
TRATAMENTO
As células-tronco têm por característica se dividir e formar duas
células filhas. Uma delas permanece igual à de origem e a outra pode se
diferenciar em outro tipo de tecido de acordo com o tratamento a ser
feito.
Elas liberam imuno-hormônios e fatores de crescimento com alto potencial de estimular a formação de novos vasos sanguíneos.
Com isso, o sangue volta a circular na área isquêmica [com falta de
circulação sanguínea], os sintomas desaparecem e há melhora nas feridas
decorrentes do problema.
Estudos semelhantes já foram feitos em países como França, Alemanha e
EUA. Mas é preciso replicar o tratamento em mais pacientes para que ele
possa entrar na prática clínica.
VOLUNTÁRIOS
Brofman relata dificuldades no recrutamento de voluntários,
especialmente porque o projeto só aceita doentes graves–muitos nessa
fase acabam sendo amputados.
"Há muitos pacientes que podem ser beneficiados. Estamos divulgando na
esperança de alcançar os 45 voluntários [número necessário para
finalizar o projeto].
Fontes: Folha de São Paulo / Vida Mais Livre
Nenhum comentário:
Postar um comentário