Uma pesquisa do Instituto Pedagógico de Apoio à Educação do Surdo de Sergipe (Ipaese) mostrou que aproximadamente 70% dos deficientes auditivos de Sergipe estão atrasados em relação à idade e a série escolar. São mais de 4 mil alunos matriculados, incluindo a capital, segundo os dados da última pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (Inep).
Entre as causas que levaram a esse índice estão, para alguns estudiosos, as lacunas na educação
do Brasil voltada para a pessoa com surdez até o fim de 1980.
“Nessa
época os deficientes auditivos recebiam a chamada ‘educação especial’ na
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
Nas salas existiam pessoas de todas as limitações, da visual à
intelectual. Um local voltado mais para a área da saúde do que
educacional”, observa o professor universitário, Daniel Neves Pinto.
Já a partir de 2002, a educação para esse grupo passou a contar com o
apoio de legislações específicas, como a Lei 10.436, que institui as
libras também como língua oficial dos surdos no Brasil. Com essa
proposta eles começaram a estudar em salas de aula com ouvintes e passam
a contar com a presença de um intérprete de libras.
Educação inclusiva X especializada
Em Aracaju, o Colégio Estadual 11 de Agosto, no Bairro Getúlio Vargas,
no Centro da capital, foi escolhido pelo estado para acolher a maior
parte dos alunos com surdez.
Em 2013, foram matriculados 146 alunos, e apresentaram uma média de
aprovação de 80% e apenas 14% foram reprovados, entre os estudantes do
2º ao 9º ano do ensino fundamental.
“A educação com tradutor e intérprete em sala de aula favorece a
política de inclusão, mas não temos professores qualificados para
atender todo o estado”, analisa Maria Aparecida Nazário, diretora da
Divisão de Educação Especial da Secretaria de Estado da Educação de
Sergipe (Dieesp).
De acordo com Talita Cavalcante, coordenadora do Centro de Capacitação
de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez, em
2011 foram contratados 59 intérpretes para atender as escolas da região
de Aracaju, Lagarto, Estância, Itabaiana, Japaratuba, Nossa Senhora das
Dores, Propriá e Nossa Senhora da Glória. “Gararu, a 161 km de Aracaju,
ficou sem o profissional porque ninguém se candidatou”, lista Talita.
A professora Kátia Cilene Santos Nascimento se candidatou na época para
uma das vagas. “Mas saí antes de vencer o contrato. O salário é de R$
750, sem direito a vale transporte e alimentação”, observa Kátia que
apesar de verificar a importância do profissional em sala de aula
identifica falhas no processo.
“Já fiquei em uma sala com quatro dificientes auditivos, um cadeirante e
um aluno com deficiência intelectual. Uma turma muito mista que torna o
processo improdutivo”, critica.
“A experiência é muito negativa. A escola pública não está preparada.
Não tem professor especialista, que possua fluência em libras, além da
sala de aula ser preparada apenas para os ouvintes”, observa o professor
e presidente do Ipaese, Elias Santos que tem a história da filha como
exemplo de tentativas frustradas com o sistema da educação inclusiva.
“Foram 11 anos tentando incluir a minha filha em colégios do estado e
município. Ela é um exemplo da distorção da idade, com três anos
atrasada por conta de repetições”.
Caso de sucesso
Em 2013, o Ipaese teve mais de 120 alunos e teve uma aprovação de mais
de 94% dos estudantes. “Aqui as aulas são montadas para o surdo. Com o
uso de recursos visuais e material didático específico”, reforça o
presidente do Instituto.
O professor de sistema de programação Web, Geraldo Ferreira Filho
possui deficiência auditiva e também acredita que a educação
especializada favorece a ascensão social e pessoal desse grupo.
“Durante muito tempo, eu estudei em escolas com ouvintes e foi muito
ruim, pouco me desenvolvi, tinha muitas dúvidas e nenhuma comunicação.
Quando fui matriculado no Ipaese me desenvolvi. Hoje eu trabalho, sou
acadêmico, tenho autonomia porque tive a oportunidade de um estudo
bilíngue”, defende.
Fonte: G1 Sergipe
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