12 de fev. de 2014

Cadeirantes encontram dificuldade em transitar na Barra

Visto do alto, símbolo de acessibilidade é formado por diversas pessoa
É pau, é pedra, é o fim do caminho, é a passarela inclinada, é o carro na calçada. 


O dia a dia de um cadeirante é tão cheio de obstáculos que, na maioria das vezes, um simples passeio vira uma maratona. 


Que o diga a organizadora de festas Vania Batista Garcia, mãe do cadeirante Luan Valdetaro, de 13 anos.
 
— As ruas são tão esburacadas e as pessoas tão insensíveis que volto com braços, costas, mãos, tudo doendo. 


Só não quebrei a cadeira ainda porque me quebro. Fico com tendinite, lombalgia. O Luan, quando chega em casa, sente dor no pescoço, de tanto que chacoalhamos nos ônibus. 


Tudo isso debaixo desse calor é um inferno — desabafa. — E ainda há carros na calçada, restaurantes que bloqueiam o passeio. Mas não posso deixar de sair, de levá-lo para os lugares, e tenho que continuar lutando, reclamando meus direitos e os dele, senão, ninguém nos respeita.
 
Ela não se queixa à toa. Aos 42 anos, Vania está cansada, física e emocionalmente. Sua batalha dura 13 anos, desde o nascimento do filho. 


O adolescente tem mielomeningocele, lesão que afeta a medula espinhal e causa hidrocefalia e escoliose, e depende da mãe para tudo. É duro sair com ele, diz Vania. A falta de acessibilidade, conta, é paralisante.
 
Vania e Luan moravam na Tijuca, mas se mudaram para o Itanhangá em busca de acessibilidade. Não conseguiram. Ainda hoje, a mãe, que não tem carro, pena pelas ruas da Barra e do Recreio para transitar com o filho.
 
Fábio Guimarães não é cadeirante, mas também se dedica à causa. O empresário criou o projeto Busco Legados de Acessibilidade (buscolegados.com), que consiste em percorrer a cidade numa cadeira de rodas e registrar em fotos e vídeos o que quem anda sobre duas pernas não vê.
 
— Tenho um primo paulista, cadeirante que já viajou o mundo todo. Ele veio ao Rio em 1998 e não voltou, porque não conseguiu sair de Copacabana, onde estava, nem para visitar os pontos turísticos. Não entendi o motivo, e ele me disse que eu só entenderia quando me sentasse numa cadeira de rodas — conta.
 
Os desafios de circular pela Barra
 

Fábio Guimarães, que já trabalhou numa rede de TV, pretende lançar um programa jornalístico sobre acessibilidade ainda este ano. Já Vania se juntou a um grupo de mães de atletas de power soccer (futebol motorizado), e planeja comprar uma cadeira de rodas motorizada para Luan. Para ambos, atitudes simples podem contribuir para que os cadeirantes finalmente se sintam à vontade para circular pela cidade.
 
— O que o cadeirante mais quer é a independência. Atravessar uma rampa íngreme é muito difícil, mas pelo menos tem rampa, né? O problema é que quem anda não entende os problemas de quem usa cadeira de rodas. Só um sinal longe de uma rampa de acessibilidade já pode causar diversos acidentes — diz Fábio.
 
Vania concorda.

 
— A gente deixa de fazer muitas coisas. Em alguns lugares aqui da Barra, por caisa das obras, tiraram os sinais de trânsito. Quem tem pernas pode andar mais um pouquinho mas, para quem está na cadeira de rodas, este pouquinho é muito longe. Eles contornam a situação colocando uma passarela com escadas, mas como vamos subir? — indigna-se.
 
Há também o piso. Se as pedras portuguesas já são um perigo para mulheres de salto, crianças distraídas e idosos, para os cadeirantes, são mais um desafio.

 
— As pedras são desniveladas. Não é preciso só empurrar a cadeira, e sim levantá-la — diz Vania, enquanto atravessa um trecho esburacado da Avenida Erico Verissimo.
 

Fonte: O Globo



Nenhum comentário:

Postar um comentário