Um morador de Praia Grande,
no litoral de São Paulo, com uma doença neuro-muscular que permite
apenas o movimento do pescoço, face e mão esquerda, luta pelo direito de
ter um transporte adequado para levá-lo até a faculdade.
Aos 38 anos de
idade, Jackson Paula resolveu iniciar o curso de Direito e foi aprovado
no vestibular em primeiro lugar pelo Programa Universidade para Todos
(Prouni).
Jackson Paula conta que até o ano passado não havia concluído o Ensino
Fundamental. Hoje ele está matriculado no curso superior de Direito na Universidade Católica de Santos.
“Fiquei 23 anos sem estudar, não tinha nem a 8ª série completa. Algo me
fez querer voltar a estudar e, em seis meses, eu terminei a 8ª série.
Fiz parte do Ensino Médio, fiz o Enem e fui bem. Prestei três
vestibulares e fui aprovado nos três. Ganhei a bolsa pelo Prouni, nem
precisava fazer o vestibular, mas quis fazer para ver como eu estava.
Passei em décimo lugar e com o Prouni passei em primeiro lugar”, conta
Jackson.
A felicidade de iniciar o Ensino Superior, porém, foi prejudicada pelo
desafio seguinte: conseguir transporte adequado para levá-lo às aulas.
“Eu uso o transporte público normal, mas eu saio pouco, umas duas vezes
por semana. E quando eu saio volto arrebentado, com dores no pescoço,
nas costas, no quadril. Porque minha doença é muscular, eu não tenho a
mesma condição física de uma pessoa normal. Levar isso em uma rotina
diária, por cinco anos, andar 70 km, não vou aguentar. Se eu conseguir
chegar ao fim do curso, vou chegar pior do que já estou. Porque os
médicos dizem que o stress pode acelerar o meu problema”, relata.
O estudante sofre de uma doença neurológica chamada amiotrofia espinhal progressivo tipo 2, que afeta a musculatura e leva a pessoa para a cadeira de rodas.
Por isso, precisaria da ajuda do poder público para conseguir ir à
faculdade.
“Não acho correto eu não poder buscar algo a mais por causa
do problema. Busquei o poder público e só levei não. A prefeitura diz
que o Ensino Superior não é de competência do município. A secretaria de
Estado, junto com a EMTU, disse que tem um programa chamado Ligado,
que oferece o transporte, mas só até o Ensino Médio. Eles falam que
teria que partir da prefeitura um convênio. A UniSantos está me
ajudando, mas por ser uma instituição particular as burocracias são
maiores”, explica.
As aulas de Jackson começaram nesta segunda-feira (10) e ele ainda não
sabe como fará para ir à faculdade. Ele criou uma petição na internet
para ajudar a divulgar o caso e fazer com que sua história chegue às
autoridades.
Em nota, a prefeitura de Praia Grande afirmou que o Ensino Superior não
está compreendido como competência constitucional do Município na área
educacional, logo, não é possível, por parâmetros legais, investimentos
por parte da Prefeitura para realizar a ação, uma vez que são proibidos
gastos com recursos educacionais para fins diversos do disposto na
legislação.
Já o Ministério da Educação (MEC)
esclareceu que desenvolve várias ações voltadas para estudantes com
deficiência, como o programam Incluir, por exemplo, que atende
estudantes de Universidade Públicas. Em relação às Instituições de
Ensino Superior privadas não há ação específica de acessibilidade.
Foto: Anna Gabriela Ribeiro / G1
Fonte: G1 Santos e região
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