Pessoas com síndrome de Down sempre foram consideradas com atraso incurável de
– até agora. desenvolvimento.
Nos últimos anos, vários laboratórios descobriram alvos
críticos em rotas metabólicas afetadas no cérebro de pessoas com a
síndrome que podem ser restauradas com fármacos.
Pelo menos dois estudos
clínicos atuais estão estudando os efeitos desses tratamentos em
pessoas com síndrome de Down.
Agora, o geneticista Roger Reeves, da Johns Hopkins University, pode
ter encontrado mais um alvo para medicamentos – um com o potencial de
corrigir os déficits de aprendizagem e memória tão característicos da
doença.
A síndrome de Down ocorre em cerca de um em cada mil nascimentos todos
os anos, no mundo inteiro. Ela surge a partir de uma cópia extra do
cromossomo 21, e da super-expressão de cada um dos 300 a 500 genes que
esse cromossomo carrega.
“Ainda em 2004, pesquisadores não tinham muita ideia a respeito dos
mecanismos envolvidos nesse transtorno do desenvolvimento”, aponta
Michael Harpold, diretor científico da Fundação para Tratamento e
Pesquisa da Síndrome de Down. Mas tudo isso mudou.
“Nos últimos seis ou
sete anos, tivemos vários avanços – e ‘avanços’ não é exagero – na
compreensão da neuroquímica envolvida na síndrome de Down”, conta
Reeves.
Essa melhoria na base de conhecimento levou a uma série de descobertas
com promessas terapêuticas, incluindo a mais recente feita por Reeves.
Ele e sua equipe estavam tentando restaurar o tamanho do cerebelo em
ratos que foram modificados para apresentar as características da
síndrome de Down.
O cerebelo fica na base do cérebro, e controla funções motoras, o
aprendizado motor e o equilíbrio. Em pessoas com síndrome de Down, e nos
ratos usados como modelo para a doença, o cerebelo é cerca de 40% menor
que o normal.
Ao restaurar seu tamanho, Reeves esperava obter uma
melhor compreensão dos processos de desenvolvimento que levaram a
anomalias em um cérebro com síndrome de Down.
A equipe de Reeves injetou um composto químico que estimula uma
importante rota de desenvolvimento neural em ratos recém-nascidos com
Down; entre outras coisas, esse composto organiza o crescimento do
cerebelo.
“Na verdade nós não ficamos surpresos em consertar o cerebelo. Essa foi
nossa hipótese inicial”, explica Reeves.
Mas ele não tinha previsto
que, três meses após o tratamento, os ratos com um cerebelo restaurado
seriam capazes de aprender a se locomover por um labirinto de água – uma
função do aprendizado e da memória que se acreditava ser controlada por
outra parte do cérebro, o hipocampo.
Os pesquisadores ainda não sabem se consertaram o hipocampo sem querer,
ou se o cerebelo pode ser responsável por mais funções de aprendizado e
memória que se pensava anteriormente.
De fato, outros tratamentos investigativos para a síndrome de Down são
dirigidos ao hipocampo – mas nenhum deles visa essa rota química
específica.
O estudo de Reeves, publicado recentemente em Science Translational
Medicine, pode levar a tratamento capaz de permitir que as pessoas com
síndrome de Down tenham vidas mais independentes.
“Nós temos a
possibilidade de dar a essas pessoas a capacidade de melhorar seu
aprendizado e sua memória de maneira significativa – eu nunca imaginei
ver isso em toda a minha carreira”, admite ele. “E agora isso está
acontecendo. O jogo mudou”.
Fonte: Scientific American Brasil
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