São Paulo ainda está longe de tornar-se uma cidade acessível a deficientes ou pessoas com mobilidade reduzida e garantir a esse público a total inclusão na sociedade.
Pelo menos é essa a opinião das especialistas no assunto Mara Gabrilli, deputada federal pelo PSDB/SP,
e Karen Lima Biz, arquiteta do escritório Diretório da Arquitetura.
Em
conversa com o Yahoo Esporte Interativo, elas explicaram por que a
capital paulista tem tantos problemas no tocante à acessibilidade.
Segundo a deputada Mara Gabrilli, São Paulo não está pronta para sediar
uma Copa do Mundo e promover o total acesso de torcedores e moradores
deficientes físicos porque o transporte e a infraestrutura urbana ainda
são muito precários.
Ela, que ficou tetraplégica após
sofrer um acidente, foi vereadora, esteve à frente da Secretaria
Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida na Prefeitura
de São Paulo entre 2005 e 2007 e conhece bem as carências da cidade.
"Somente 500 dos 35 mil quilômetros de calçadas são acessíveis e apenas
70% do transporte público tem acessibilidade. Muita gente vai ficar sem
condição de ir e vir", prevê a deputada.
Gabrilli afirma que, no período em que foi secretária da pessoa com
deficiência, o número de ônibus acessíveis na cidade cresceu de 300 para
3 mil.
Ela lamenta que as gestões posteriores diminuíram o ritmo de
ação, motivo pelo qual São Paulo ainda não conta com uma frota 100%
acessível. Ainda assim, comemora o fato da acessibilidade fazer parte da
agenda da Prefeitura atualmente.
A arquiteta Karen Lima Biz defende que os projetos de acessibilidade
devem ir além das adaptações, pois estas não deixam de ser
discriminatórias. O ideal, para ela, é que o desenho seja destinado a
todas as pessoas.
"O desenho universal é um meio que proporciona a
concretização da inclusão, fortalecendo a aceitação das diferenças
individuais e da valorização da diversidade humana, além de proporcionar
a equiparação de oportunidades, com igualdade no meio físico e
cultural", explica Karen.
Muito além da cadeira de rodas
A deputada faz questão de lembrar que pessoa com deficiência não é sinônimo de cadeirante.
"As pessoas surdas ainda são muito excluídas dentro dos programas da
cidade, porque pouquíssimos espaços estão preparados para atender a esse
público.
Temos hoje a Central de Libras, que foi um
projeto de lei meu enquanto vereadora, mas que ainda não contempla a
cidade inteira e não tem a qualidade necessária para resolver o problema
da comunicação dos surdos", explica.
Quanto aos deficientes visuais,
Gabrilli critica a falta de sinalização e de formas de comunicação
especiais, como aviso sonoro nos ônibus ou calçadas com piso podo tátil.
Já Karen destaca que a mobilidade reduzida não precisa necessariamente
ser uma condição permanente e que todos estão sujeitos a isso.
"A
acessibilidade é pensada apenas em que tem deficiência permanente, mas
ela deve ser garantida a todos que tenham alguma restrição de
mobilidade, como uma mãe com carrinho de bebê, uma pessoa que se
acidentou e momentaneamente encontra-se de muletas ou cadeira de rodas
etc."
Descaso e Conscientização
As duas entrevistadas comemoram o surgimento de leis e normas que
exigem ambientes acessíveis às pessoas com deficiência.
A arquiteta,
porém, chama a atenção para uma grave consequência: "apesar de se seguir
leis e normas que estabelecem diretrizes para garantir a
acessibilidade, a preocupação se restringe ao cumprimento da lei, e o
que vai além dela é ignorado".
Decorrem desta situação as adaptações mal
feitas e o desrespeito às vagas de estacionamento reservadas a
deficientes, por exemplo.
A conversa com Mara Gabrilli também é encerrada com uma constatação
negativa. Ao pedir que aponte em quais áreas São Paulo ainda precisa
avançar para que se torne uma cidade acessível às pessoas com
deficiência, ela é taxativa: em todas.
"Na educação, na saúde (em que o
atendimento é praticamente miserável), no transporte, no esporte, na
cultura, na assistência social, no trabalho, na infraestrutura", listou a
parlamentar.
São Paulo é uma cidade deficiente e ainda tem um longo
caminho a percorrer em busca das condições ideais de acessibilidade.
Poder Público
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED)
informou que, até junho deste ano, está prevista a reforma de 90 mil m²
de passeios públicos nas chamadas rotas acessíveis, que incluem pontos
turísticos e o acesso à Arena São Paulo.
Foi articulado, junto ao
Ministério do Turismo, o repasse de R$ 20 milhões para esta obra. Além
disso, a SMPED está em tratativas junto à Secretaria de Transportes para
utilização do Serviço Atende e de táxis acessíveis no transporte de
passageiros com deficiência durante a Copa do Mundo.
Por fim, a SMPED também atua na formação de voluntários para atender ao
público que apresenta deficiência física durante a Copa do Mundo,
trabalha para facilitar a participação de candidatos com deficiência na
seleção dos voluntários e irá inaugurar, até a Copa do Mundo, a Central
de Interpretação de Libras - CIL, cujo objetivo é garantir o atendimento
de qualidade às pessoas com deficiência auditiva.
Fonte: Esporte Interativo
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