Algumas crianças autistas desenvolvem mais a
capacidade de linguagem do que outros já que, desde que são bebês,
apresentam uma maior atividade neuronal em áreas do cérebro responsáveis
pela função, segundo estudo publicado na revista científica "Cell".
Segundo um dos autores da pesquisa, Eric Courchesne,
diretor do Centro de Autismo da Universidade da Califórnia, em San Diego
(EUA), o autismo pode gerar consequências clínicas muito diferentes em
crianças pequenas, já que algumas delas têm uma capacidade de linguagem
desenvolvida e outras não falam.
Em bebês com autismo que desenvolvem boa habilidade
para falar, a atividade neuronal nas áreas do cérebro responsáveis pela
linguagem é similar a de crianças sem a doença.
No entanto, a atividade
neuronal nessas áreas é quase inexistente em bebês que depois não
falarão ou terão pouca capacidade de linguagem.
"Descobrir as bases neuronais mais cedo para as
diferentes trajetórias de desenvolvimento abre novas vias para encontrar
causas e tratamentos específicos para esses dois diferentes tipos de
autismo", disse Courchesne.
Contos infantis fizeram parte da investigação
Para realizar o estudo, os pesquisadores analisaram
60 crianças e bebês com autismo e 43 sem a doença, e usaram imagens de
ressonância magnética funcional (IRMf), que permite mostrar as regiões
cerebrais que executam uma tarefa determinada.
Concretamente, para esta pesquisa os cientistas
utilizaram um método próprio do Centro de Autismo da Universidade da
Califórnia que grava a atividade cerebral enquanto os pacientes escutam
contos infantis.
A capacidade de linguagem na infância demonstrou
estar precedida por padrões normais de atividade neuronal nas regiões do
cérebro envolvidas na linguagem, incluída a face superior do lóbulo
temporal.
Por outro lado, as crianças autistas com pouca
capacidade de linguagem mostraram muito pouca atividade na face superior
do lóbulo temporal desde que eram bebês.
"Nosso estudo é importante porque é um dos primeiros
em grande escala a identificar antecipadamente precursores neuronais que
ajudam a explicar a heterogeneidade no desenvolvimento da linguagem dos
bebês e crianças com autismo", afirmou Michael Lombardo, da
Universidade do Chipre, que também participou do estudo.
Prevenção do desenvolvimento da linguagem
Os pesquisadores determinaram, além disso, que quando
são combinados com testes de comportamento, as diferenças neuronais
poderiam ajudar a prever o desenvolvimento da linguagem na infância.
A efetividade da previsão dessa combinação foi de
80%, comparado com 68% de cada uma individualmente.
"Uma das primeiras
coisas que os pais de um bebê com autismo quer saber é o que esperar do
futuro de seu filho", disse a coautora do artigo e diretora do centro,
Karen Piercer.
"Estes descobertas abrem uma via rumo a novos passos para
diferentes tratamentos", acrescentou Piercer.
Os cientistas investigarão agora mais a fundo "os
substratos neuronais funcionais adiantados que precedem à
heterogeneidade social e linguística no autismo", explicou o estudo.
Além disso, devem "testar a ideia de que a ativação ou a ausência desta
no lóbulo temporal prediz a resposta ao tratamento em bebês com
autismo", concluiu o estudo.
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