O filme acompanha a ascensão de um jornalista
ambicioso que, às vésperas de embarcar numa história importante,
descobre que sua mãe está morrendo de câncer, deixando para ele a
responsabilidade de tomar conta de sua irmã, Roberta, que tem Down.
O relacionamento entre os dois irmãos força o jornalista a reavaliar suas prioridades.
Filmes como “Meu Pé Esquerdo” e “Forrest Gump” são
exemplos de produções em que os personagens que têm alguma deficiência
são vividos por estrelas que podem mostrar quão talentosas elas são na
hora de atuar, mas tais trabalhos não expõem um indivíduo que nasceu com
algum tipo de comprometimento de verdade.
Down X autismo
O premiado belga “O Oitavo Dia” é o maior exemplo de
filme em que o ator, no caso Pascal Duquenne, não podia ser elogiado por
estar “interpretando” tão bem um personagem com deficiência. Duquenne,
prêmio de melhor ator em Cannes em 1997, também nasceu com a síndrome.
A diretora escocesa Alison Peebles enfrentou
resistências na hora de buscar patrocínio para o seu filme pois houve
quem sugerisse que a personagem Roberta, vivida por Paula Sage, não
tivesse Down e sim fosse autista, pois é mais “fácil de ser trabalhado
pela câmera”.
“Eu fiquei tão chocada, tão horrorizada com o que
estava ouvindo. Tive que me agarrar na cadeira para não ter um ataque”,
lembra-se Peebles.
Inovação e coragem
A própria diretora assume que tinha quase nenhum
conhecimento ou contato com alguém que nasceu com a trissomia 21 e é com
incontido entusiasmo que ela fala da experiência de trabalhar com Paula
Sage.
“Ela é extraordinária. Para quem não tem experiência
alguma de cinema, tenha Down ou não, a rotina das filmagens é muito
exaustiva e confusa. E ela fez tudo numa boa”, lembra Alison Peebles.
“Acho que Paula é uma atriz talentosa. Espero que ela consiga fazer
outros papéis em que o fato de ela ter Down não seja o principal.”
O filme é inovador e corajoso em vários sentidos. Não
só por ter escalado uma atriz que tem síndrome de Down mas também por
tratar de aspectos pouco discutidos em público e que rodeiam a questão
da deficiência, até mesmo porque eles fazem parte de uma nova realidade.
“AfterLife” não passa um segundo discutindo a
aceitação de Roberta na família ou por amigos. Essa produção mostra
estágios mais adiante, por exemplo, como a superproteção de uma mãe pode
impedir que um filho que tem deficiência possa explorar todo o seu
potencial.
Além disso, com a expectativa de vida das pessoas com
Down aumentando cada vez mais, um dos grandes temores dos pais é
garantir que o filho vai ficar bem na ausência deles.
Exploração
Não só a equipe de “AfterLife” topou trabalhar por
menos, como praticamente todos os envolvidos já tinham alguma relação
pessoal com o tema da deficiência.
A roteirista do filme tem uma irmã com Down que
emprestou suas pinturas para a personagem Roberta do filme, e a mãe do
ator principal, Kevin Mckidd, dirige uma companhia teatral em que a
maioria dos atores têm Down, a Out of The Darkness.
Na verdade, a roteirista de “AfterLife” decidiu
escrever o filme depois de ter lido sobre o caso de um casal de 70 e
tantos anos que matou o filho com Down pois tinha pânico de que ele não
sobrevivesse sem os pais.
A presença de Paula Sage no elenco desperta mais
interesse sobre ela do que o resto do elenco, formado por atores
consagrados como Kevin McKidd (“Topsy Turvy – O Espetáculo” e
“Trainspotting – Sem Limites”), Lindsay Duncan (“Palácio das Ilusões” e
“City Hall – Conspiração no Alto Escalão”), mas Alison Peebles não tem
medo de ser acusada de estar explorando Sage.
“A roteirista conhece bem o mundo das pessoas que têm
alguma necessidade especial. Tivemos sempre o cuidado de não agir com
ar de superioridade em relação a Paula. Na verdade, foi difícil fazer
com que ela fizesse as cenas em que a personagem age de forma boba pois
ela parecia não entender que certas frases tinham um propósito no
filme”, explica Peebles. E levamos Paula para todas as estréias e
festivais pois ela é uma figura proeminente nesse projeto.”
Paula
Paula Sage, que mora com os pais em Cumbernauld, no
centro da Escócia, claramente adorou a chance de fazer um filme e curte a
chance de poder viajar para vários lugares para divulgar “AfterLife”.
“Estou indo para Los Angeles, e Los Angeles é Los Angeles! Estados Unidos, aqui vou eu!”, celebra Paula.
Muito simpática e delicada, Paula, de 23 anos, é cheia de sorrisos quando responde as perguntas.
Ela diz gostar de dançar, de música, do som do
Westlife e do Boyzone, dos filmes do Harry Potter e de Arnold
Schwarzenegger e sonha em participar de uma banda.
E que ninguém pense que a personagem Roberta e sua intérprete, Paula Sage, são a mesma pessoa.
Enquanto Roberta vive na barra da saia de uma mãe superprotetora, Paula está na faculdade e tem namorado.
Apesar de ter sido escolhida entre dez jovens com
Down a partir de um curso de artes dramáticas, “AfterLife” é a primeira
experiência profissional de Paula como atriz, o que não a deixou
especialmente assustada.
“Eu tinha um roteiro que decorava sozinha, com a maior facilidade”, diz Paula Sage.
Sua atuação ganhou elogios de vários críticos e até
do eterno James Bond, Sean Connery, no Festival de Cinema de Edimburgo
deste ano, onde “AfterLife” recebeu o Prêmio do Público em agosto. Para o
futuro, Paula diz querer “mais roteiros, mais peças, mais convites de
trabalho”.
Fontes: Turismo Adaptado / Rede Saci
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