29 de abr. de 2015

Filme faz abordagem mais madura da síndrome de Down



O filme acompanha a ascensão de um jornalista ambicioso que, às vésperas de embarcar numa história importante, descobre que sua mãe está morrendo de câncer, deixando para ele a responsabilidade de tomar conta de sua irmã, Roberta, que tem Down.


O relacionamento entre os dois irmãos força o jornalista a reavaliar suas prioridades.


Filmes como “Meu Pé Esquerdo” e “Forrest Gump” são exemplos de produções em que os personagens que têm alguma deficiência são vividos por estrelas que podem mostrar quão talentosas elas são na hora de atuar, mas tais trabalhos não expõem um indivíduo que nasceu com algum tipo de comprometimento de verdade.


Down X autismo


O premiado belga “O Oitavo Dia” é o maior exemplo de filme em que o ator, no caso Pascal Duquenne, não podia ser elogiado por estar “interpretando” tão bem um personagem com deficiência. Duquenne, prêmio de melhor ator em Cannes em 1997, também nasceu com a síndrome.


A diretora escocesa Alison Peebles enfrentou resistências na hora de buscar patrocínio para o seu filme pois houve quem sugerisse que a personagem Roberta, vivida por Paula Sage, não tivesse Down e sim fosse autista, pois é mais “fácil de ser trabalhado pela câmera”.


“Eu fiquei tão chocada, tão horrorizada com o que estava ouvindo. Tive que me agarrar na cadeira para não ter um ataque”, lembra-se Peebles.


Inovação e coragem


A própria diretora assume que tinha quase nenhum conhecimento ou contato com alguém que nasceu com a trissomia 21 e é com incontido entusiasmo que ela fala da experiência de trabalhar com Paula Sage.


“Ela é extraordinária. Para quem não tem experiência alguma de cinema, tenha Down ou não, a rotina das filmagens é muito exaustiva e confusa. E ela fez tudo numa boa”, lembra Alison Peebles. 


“Acho que Paula é uma atriz talentosa. Espero que ela consiga fazer outros papéis em que o fato de ela ter Down não seja o principal.”


O filme é inovador e corajoso em vários sentidos. Não só por ter escalado uma atriz que tem síndrome de Down mas também por tratar de aspectos pouco discutidos em público e que rodeiam a questão da deficiência, até mesmo porque eles fazem parte de uma nova realidade.


“AfterLife” não passa um segundo discutindo a aceitação de Roberta na família ou por amigos. Essa produção mostra estágios mais adiante, por exemplo, como a superproteção de uma mãe pode impedir que um filho que tem deficiência possa explorar todo o seu potencial.


Além disso, com a expectativa de vida das pessoas com Down aumentando cada vez mais, um dos grandes temores dos pais é garantir que o filho vai ficar bem na ausência deles.


Exploração


Não só a equipe de “AfterLife” topou trabalhar por menos, como praticamente todos os envolvidos já tinham alguma relação pessoal com o tema da deficiência.


A roteirista do filme tem uma irmã com Down que emprestou suas pinturas para a personagem Roberta do filme, e a mãe do ator principal, Kevin Mckidd, dirige uma companhia teatral em que a maioria dos atores têm Down, a Out of The Darkness.


Na verdade, a roteirista de “AfterLife” decidiu escrever o filme depois de ter lido sobre o caso de um casal de 70 e tantos anos que matou o filho com Down pois tinha pânico de que ele não sobrevivesse sem os pais.


A presença de Paula Sage no elenco desperta mais interesse sobre ela do que o resto do elenco, formado por atores consagrados como Kevin McKidd (“Topsy Turvy – O Espetáculo” e “Trainspotting – Sem Limites”), Lindsay Duncan (“Palácio das Ilusões” e “City Hall – Conspiração no Alto Escalão”), mas Alison Peebles não tem medo de ser acusada de estar explorando Sage.


“A roteirista conhece bem o mundo das pessoas que têm alguma necessidade especial. Tivemos sempre o cuidado de não agir com ar de superioridade em relação a Paula. Na verdade, foi difícil fazer com que ela fizesse as cenas em que a personagem age de forma boba pois ela parecia não entender que certas frases tinham um propósito no filme”, explica Peebles. E levamos Paula para todas as estréias e festivais pois ela é uma figura proeminente nesse projeto.”


Paula


Paula Sage, que mora com os pais em Cumbernauld, no centro da Escócia, claramente adorou a chance de fazer um filme e curte a chance de poder viajar para vários lugares para divulgar “AfterLife”.


“Estou indo para Los Angeles, e Los Angeles é Los Angeles! Estados Unidos, aqui vou eu!”, celebra Paula.


Muito simpática e delicada, Paula, de 23 anos, é cheia de sorrisos quando responde as perguntas.


Ela diz gostar de dançar, de música, do som do Westlife e do Boyzone, dos filmes do Harry Potter e de Arnold Schwarzenegger e sonha em participar de uma banda.


E que ninguém pense que a personagem Roberta e sua intérprete, Paula Sage, são a mesma pessoa.


Enquanto Roberta vive na barra da saia de uma mãe superprotetora, Paula está na faculdade e tem namorado.


Apesar de ter sido escolhida entre dez jovens com Down a partir de um curso de artes dramáticas, “AfterLife” é a primeira experiência profissional de Paula como atriz, o que não a deixou especialmente assustada.


“Eu tinha um roteiro que decorava sozinha, com a maior facilidade”, diz Paula Sage.


Sua atuação ganhou elogios de vários críticos e até do eterno James Bond, Sean Connery, no Festival de Cinema de Edimburgo deste ano, onde “AfterLife” recebeu o Prêmio do Público em agosto. Para o futuro, Paula diz querer “mais roteiros, mais peças, mais convites de trabalho”.




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